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Estado de Minas COLUNA HIT

Hoje tem 'live-festa' para comemorar os 90 anos da atriz Wilma Henriques

A homenagem foi ideia do grupo criado pela presidente do Sated, Magdalena Rodrigues, com transmissão on-line diretamente do palco do Teatro Feluma


15/02/2021 04:00 - atualizado 14/02/2021 18:34

entrevista de segunda
Jair Raso/diretor, dramaturgo e médico

“O amor de Wilma Henriques pelo teatro é contagiante” 
Em outros tempos, esta segunda-feira de carnaval teria mais um motivo para alegria: a comemoração dos 90 anos da atriz Wilma Henriques. Por causa da pandemia, não haverá confetes e serpentinas, mas emoção não vai faltar na live dedicada à dama do teatro mineiro.

Magdalena Rodrigues, presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversões de Minas Gerais (Sated), o ator Carluty Ferreira e o diretor e dramaturgo Jair Raso vão comandar a homenagem à aniversariante, diretamente do palco do Teatro Feluma, em BH.

Está confirmada a participação das atrizes Joselma Luchini, que interpretará um monólogo que Wilma gostava muito de apresentar, e Nilmara Gomes, que fará um trecho de Espelho, a peça mais recente da aniversariante.

“Wilma participará da homenagem de casa, por meio da plataforma Zoom. No roteiro, vamos contar parte de sua trajetória mesclada com depoimentos dos colegas de profissão. Também haverá depoimentos dela, além de sua participação no programa Ribalta, produzido e dirigido por Papoula Bicalho para a Rede Minas”, antecipa Jair Raso.

Jair, Magdalena e Carluty estão sempre por perto da atriz, que há alguns anos mora no Lar Viver Melhor, no bairro Planalto, na Região Norte da capital.

“Devido à pandemia, agora vou pouco lá, mas nos falamos por telefone. Magdalena e Carluty cuidam de Wilma como se fossem filhos. A afilhada Gabriela é responsável por ela”, diz Raso.

“Wilma está muito feliz com o aniversário. Fala mais de sua festa do que da vacina contra a COVID-19, que tomou na semana passada”, revela o dramaturgo, que também é médico.

Para garantir a segurança da atriz e dos idosos que moram no Lar Viver Melhor, a festa será on-line. Wilma assistirá à live pelo computador, ao lado de Shirley, proprietária da clínica. “É uma pena não podermos abraçá-la de verdade”, lamenta Raso.

De acordo com ele, a atriz, diretora e produtora consegue a façanha de ser unanimidade nas artes cênicas mineiras. “O amor de Wilma Henriques pelo pelo teatro é contagiante, seu talento impressiona, seu valor não se restringe aos palcos”, diz o dramaturgo, referindo-se às lutas dela em defesa da categoria e sua participação nos movimentos que culminaram na criação do Sated, sindicato dos artistas mineiros, e do Sinparc, entidade que reúne produtores de artes cênicas do estado.

Como surgiu sua amizade com Wilma Henriques?
Minha história com Wilma começou com um não. Ricardo Bah, Alberto Faria e eu, que éramos do grupo Cara de Palco, fomos convidá-la para ser a estrela do espetáculo que estávamos produzindo, Vem buscar-me que ainda sou teu, de Carlos Alberto Soffredini. Ela não pôde fazer. Isso foi em 1987. Alguns anos depois, em 1991, iniciamos grande amizade ao trabalhar em Navalha na carne, de Plínio Marcos. Fui assistente de direção da Mamélia Dornelles, Wilma fazia o papel de Neuza Sueli, contracenando com José Maria Amorim e Ronaldor. Nossa amizade ficou mais sólida durante os ensaios e viagens com o espetáculo Boa noite, mãe, de Marsha Norman, dirigido por Marcos Vogel. Fiz a iluminação e a sonoplastia dessa peça. Wilma contracenava com Maria Lúcia Schettino.

Qual foi a sua maior emoção ao ver Wilma em cena?
A segunda montagem de Fala baixo senão eu grito, de Leilah Assumpção, com direção de Eid Ribeiro. Ela dava um show. Em Navalha na carne e Boa noite, mãe, Wilma estava maravilhosa. E, claro, embora seja suspeito para falar, sua interpretação magnífica na minha peça Três mães.

Você trabalhou com Wilma Henriques na peça mais recente dela, Espelho, dirigida por Magdalena Rodrigues. Como foi a temporada?
Fui autor do texto e iluminador. Sempre que podia, ia aos ensaios. Escrevi o texto em homenagem a Wilma, tendo como pano de fundo sua passagem pela TV Itacolomi. Ela abria e fechava o espetáculo, ficava o tempo todo em cena, numa cadeira berger vermelha. Foi uma heroína, enfrentando suas limitações físicas para estar no palco. A última sessão, no Teatro João Ceschiatti, foi de muita tristeza. Sabíamos que aquele seria seu último espetáculo.

Você comanda o Teatro Feluma, em BH. Como a casa tem se mantido durante a pandemia?
Não paramos. Exploramos ao máximo a possibilidade de promover atividades on-line. Fizemos o primeiro festival de teatro on-line, com apresentação de oito monólogos. O Sinparc gravou lá o Prêmio Sinparc/Copasa, transmitido depois pela Rede Minas, e fez lá o seu festival de teatro, com várias peças gravadas e depois transmitidas. Fernando Bustamante inovou com a versão on-line de seus espetáculos infantis, mesclando técnicas de cinema e teatro, transmitindo tudo pelo canal dele no YouTube. O curso livre de teatro, que mal havia começado, continuou com ensino a distância. Também fizemos lives sobre a COVID, uma delas com participação de um médico da Organização Mundial da Saúde (OMS), diretamente de Genebra, além de eventos científicos, todos no formato on-line. No final do ano passado, com a abertura parcial dos teatros, estreamos a peça Maio, antes que você me esqueça, com Maurício Canguçu e Ilvio Amaral.

Em um cenário ideal, todo mundo será vacinado. Depois disso, as pessoas vão encarar a plateia do teatro com tranquilidade?
O medo aos poucos vai desaparecer. Tão logo seja possível e seguro, creio que o que mais queremos é aglomerar novamente. Os artistas foram muito importantes para as pessoas durante a pandemia e serão ainda mais importantes na retomada. Como diretor, penso que a melhor forma de atrair o público é produzir espetáculos de qualidade que aliem diversão e pensamento. Penso também que a experiência com o formato on-line será incorporada, de alguma forma, à maneira de fazer e divulgar teatro.

Antes da pandemia, o teatro já sofria com as bilheterias escassas. Ele conseguirá se recuperar?
Creio que podemos ter boa surpresa, uma vez que as pessoas estão cansadas de ficar em casa. A experiência com as apresentações da peça Maio nos mostrou isso. O público nos surpreendeu. Mas é claro que a realidade não muda. Um dos desafios do Teatro Feluma é justamente a formação de público. Estamos programando diversas ações nesse sentido. Mas sei que os efeitos tardios da pandemia, tanto na economia quanto no comportamento das pessoas, podem ser um grande entrave.

Quais são seus projetos para o futuro?
No Feluma, vamos fazer o segundo festival de teatro on-line, além de prosseguir com nossa ideia de fomentar as artes cênicas mineiras. Durante o isolamento, eu e minha mulher, Andrea, organizamos um livro com 20 coautores, Trilogia de uma pandemia. São textos de artistas, psicanalistas e escritores sobre três momentos da pandemia escritos no calor da hora: o início, seu clímax e os estertores. Infelizmente, os estertores insistem em se prolongar. Mas o livro está pronto e deve ser lançado em março, no Teatro Feluma.

Que lição a pandemia nos deixa? 
São muitas as lições. A maior delas é a constatação de que somos frágeis. Um vírus, forma simples de vida, desvelou nossa fragilidade física e social, fazendo a Terra girar diferente. Por outro lado, reforçou a minha fé na ciência. Só o fato de termos vacinas para uma doença nova em tão curto espaço de tempo é um feito extraordinário. Com a pandemia, a humanidade deu muitos passos para trás, mas, graças à ciência, esboça um passo gigantesco para a frente.

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