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Terapeuta ocupacional enfrenta a pandemia com sua 'costura afetiva'

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Formada há 20 anos em terapia ocupacional pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Raquel Cardoso seguia os caminhos normais de uma profissional de sua área. Teve consultório, trabalhou muito e desenvolveu um projeto especial para pessoas acima de 75 anos com déficit de memória, o Programa de Estimulação Cognitiva (PEC).



Mas veio a pandemia e a vida de Raquel, como a de todos nós, virou de ponta-cabeça. “Imagine: eu fazia atendimento domiciliar de idosos. Tentei continuar o trabalho on-line, mas não deu certo”, conta ela.

A terapeuta ocupacional não teve outra opção a não ser ficar em casa. As duas filhas adultas voltaram a morar com ela e o marido. “A casa que era só para mim virou uma casa para cinco pessoas, incluindo minha ajudante. Eu só me perguntava: como vai ficar isso?”, diz ela, com bom humor.

Raquel não perdeu tempo e nem quis pagar para ver. Como sempre gostou de costurar e bordar, recorreu ao hobby para ajudar no orçamento doméstico e na nova rotina.

Há três anos, havia criado uma página no Instagram (@costurissesdaraquel). Naquela época, dedicou-se a alguns cursos, como o de confecção de bonecas. “Sempre quis fazer coisas diferentes. Sempre me preocupei com uma costura afetiva, aquela capaz de transformar as coisas em algo mais significativo”, diz.



Exemplo disso foi o presente de Natal que Raquel deu à família no ano passado. Escolheu uma colcha entre as peças do enxoval e a transformou em jogos americanos. “Cada um em sua casa, montamos nossas mesas de Natal com peças daquele conjunto.”

O afeto dessa costura se expressa nas bonecas de pano. No início da pandemia, Clarissa de Pereira Vaz, do grupo Marias Bonitas de Lourdes, viu o trabalho de Raquel. Gostou tanto que encomendou peças representando as integrantes da associação.

De cara, a terapeuta ocupacional mostrou sua marca. “Não gosto de fazer nada em série. Muito menos que as pessoas digam: 'Nossa, uma é igual a outra'. Então, personalizei: tinha de cabelo grande e de cabelo curto, bonecas louras, morenas, ruivas e negras.”



O boca a boca correu, o acesso à página de Raquel no Instagram cresceu e as encomendas aumentaram. Para surpresa dela, a clientela não se restringia às crianças. Casais, adultos e a meninada, obviamente, pediam bonecas que representassem a família ou momentos importantes da vida.

Um pai presenteou a filha com a boneca criada a partir do desenho que ela fez na infância. Uma filha presenteou a mãe com a bonequinha criada por Raquel Cardoso a partir de uma fotografia. E foi por aí.

A matéria-prima utilizada pela terapeuta depende do destino que se deseja dar à boneca. “Não indico o feltro, especialmente se a peça for para brincar, pois ele desgastae dá bolinhas. O tecido deve ser mais duradouro”, explica. Detalhista, ela recorre ao acrílico para fazer os óculos. São sete tons de pele e duas opções de tamanho: 28cm e 40cm.

Quando a pandemia acabar, Raquel Cardoso planeja unir as bonecas e as “costurisses” a seu ofício. “Penso em abrir um ateliê com oficinas terapêuticas”, conclui.