João Pedro Resende e Mateus Bicalho são amigos desde os tempos do curso de ciências da computação. Formaram-se há 17 anos e criaram a Mobworks, que desenvolvia aplicativos para telefones celulares. “Não foi fácil levar a ideia para a frente por muito tempo. Vale fazer o exercício de imaginar a tecnologia lá atrás: eram pouquíssimos e caros os celulares com tela colorida, não havia 3G nem conexão wi-fi nos aparelhos. Não bastassem as barreiras tecnológicas, não tínhamos habilidades em marketing e vendas”, relembra João. Ele fechou a Mobworks, fez carreira em empresas de software e, algum tempo depois, associou-se a Mateus Bicalho no embrião do que se tornaria a Hotmart, voltada para o empreendedorismo digital.
Em 2021, os desafios são outros. “Há diferentes culturas e mercados e nós precisamos aprender sobre cada um deles. Começamos em Belo Horizonte e, 10 anos depois, somos uma empresa global em franca expansão por vários países. Isso nos motiva a incrementar o ecossistema de nossa plataforma para que os usuários possam encontrar no mesmo lugar tudo aquilo de que precisam”, diz João Pedro.
Em 2019, ocorreu a última edição do Fire Festival, promoção da Hotmart que reuniu milhares de pessoas no Palácio das Artes e no Teatro Francisco Nunes. Veio a pandemia e tudo mudou. Como a crise sanitária mundial afetou vocês? Já dá para pensar em reunir presencialmente aquela multidão ávida por conhecimento?
Ainda não, infelizmente. Com a atual situação da pandemia e as restrições sanitárias, optamos por proteger nossos funcionários e nossos parceiros, concentrando as atividades no mundo on-line. Todos os funcionários da Hotmart, mais de 1 mil, estão em home office desde março de 2020. Tivemos que nos reinventar. Temos carinho especial pelo Fire Festival. No cenário atual, precisamos criar uma solução nova. Assim nasceu o On Fire, que ocorrerá no segundo semestre e vai compor um guarda-chuva de iniciativas com o FireCast, nosso podcast. Criamos também o Hotmart Masters, com foco mais técnico, para ajudar a pessoa a migrar para o mercado de produtos digitais ou a criar ou melhorar seus negócios.
A palestra de Mauricio de Sousa causou comoção na plateia do Palácio das Artes. Qual é a lembrança mais marcante que você guarda do Fire?
Difícil dizer uma só. A primeira foi quando estreamos a proposta do Fire, no Palácio das Artes. Foi um marco, tínhamos a certeza do potencial do evento, pela proporção que estava se desenhando e pela crença de que poderia se tornar um festival, o que acabou acontecendo. Depois, veio a emoção de conseguirmos concretizar a união de dois mundos: o do mercado digital, no qual a Hotmart atua, e o do mainstream. A partir daí, tivemos participantes realmente focados no mundo digital, mas também os que vieram ao evento para ter conteúdos de grandes marcas, palestrantes internacionais e estrelas do showbizz. Além, claro, de curtir uma experiência fora da curva. A terceira emoção foi em 2019, quando batemos a marca de participantes de 25 países no festival. Isso reforçou o caráter global do evento.
Quando a vida de empreendedor foi mais estimulante? Antes da pandemia ou hoje, no meio desta crise que não dá sinal de acabar?
São situações absolutamente distintas. Ainda que os negócios no ambiente digital prosperem, não dá para afirmar que é um contexto estimulante se já ultrapassamos 459 mil mortes no Brasil. Com as possibilidades de contato presencial restritas para que possamos nos manter com saúde e segurança, o empreendedorismo digital não é só uma saída, é uma oportunidade promissora hoje e no futuro. As mudanças que foram aceleradas durante a pandemia vieram para ficar.
Qual será o futuro do comércio on-line?
A pandemia tem sido o maior acelerador do comércio eletrônico. Segundo pesquisa da McKinsey, esse cenário global foi o responsável por gerar, em apenas 90 dias, mudanças no comércio eletrônico e no comportamento do consumidor que aconteceriam apenas em 10 anos. Com isso, o e-commerce foi ampliado, mesmo no cenário de retração econômica. Com o desenvolvimento tecnológico e o ambiente de pagamentos cada vez mais confiável e seguro, fazer compras on-line vai se tornando mais fácil para os consumidores. A maneira como compramos e pagamos por nossos produtos e serviços segue em reinvenção. O e-commerce não é o futuro, mas o presente.
Pequenos comerciantes têm pouco ou quase nenhum acesso ao mercado digital. O que eles devem fazer para sobreviver neste novo mundo?
O comércio eletrônico é um dos poucos segmentos que continuam crescendo. O pequeno empreendedor precisa dedicar um tempo a estudar esse mercado e fazer o seu planejamento. Também é importante entender as formas de pagamento e garantir a confiança do público nesse ambiente. Atuar nas redes sociais, garantindo boa audiência para as vendas, ajuda a alavancar os negócios. Empreender no mundo digital exige planejamento e persistência, mas a possibilidade de escalar suas vendas, chegando a muito mais pessoas, é um grande motivador. Depois que você começa, não quer mais voltar atrás. Nem deve.