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Na volta do teatro infantil, a constatação de que a vida imita a arte

Para produtor mineiro, na pandemia, qualquer semelhança com clássicos contos de fadas não é mera coincidência


03/12/2021 04:00 - atualizado 03/12/2021 02:31


 
Fernando Bustamante
Diretor-artístico da Cyntilante Produções
 
Em 15 de março de 2020, o espetáculo "A bela adormecida" se apresentou na programação do 2º Festival de Musicais Infantis da Cyntilante Produções, que foi interrompida no dia seguinte, diante da pandemia da COVID-19.

A referência mais próxima que tínhamos de uma pandemia até então era a de 2009, com o H1N1, quando vários eventos foram cancelados pelo período de 30 dias. Sendo assim, nossa perspectiva era de que, no máximo até o mês de abril, voltaríamos aos palcos.

Os 30 dias previstos viraram exatos 544 dias até o 11 de setembro de 2021, data em que o mesmo espetáculo, "A bela adormecida", pôde se apresentar novamente no teatro com público presencial.

O teatro presencial “adormeceu” por mais de 500 dias, mas toda a equipe da Cyntilante Produções trabalhou incansavelmente para manter as suas atividades. Até o poder público reconhecer a necessidade do auxílio para o setor cultural e viabilizar a Lei Aldir Blanc foram longos meses de superação e reinvenção, em todos os sentidos.
 
Ilustração mostra figura semelhante a Peter Pan segurando uma criança
.
A criatividade nos permitiu transitar entre as artes cênicas e o audiovisual, dialogando também com as redes sociais, num formato inédito de apresentação: o teatro remoto.

Assim, foi possível manter a energia e a adrenalina do espetáculo ao vivo, mesmo com o distanciamento social entre os artistas, por meio do recurso do chroma key, e a interatividade com o público pelas redes sociais.

E lá se foi o ano inteiro de 2020 se apresentando nesse formato, que jamais conseguiria substituir o teatro. Nossas expectativas e esperanças de um retorno presencial foram substituídas pela frustração com a chegada de 2021 e o recrudescimento de casos, mortes e internações.

Novo ano, novo formato. Como viabilizar a participação presencial do público, seguindo os protocolos de segurança para todos os envolvidos? Como fazer o formato drive-in funcionar para apresentação teatral? 

Vivenciamos um processo de estudos, adaptações e captação de recursos com o patrocinador, até julho deste ano, para a estreia da nossa primeira turnê em formato drive-in, com transmissão simultânea. Ter o público presencial de volta, mesmo dentro de seus carros, foi uma experiência catártica.

Depois de três meses de apresentações no formato drive-in, finalmente a notícia que todos aguardávamos: o retorno presencial ao teatro, em 11 de setembro de 2021!

Os clássicos contos de fadas normalmente narram a saga de um príncipe, uma princesa, um herói ou uma heroína para a sua libertação, depois de um longo período de privações, desafios e perdas. Qualquer semelhança com a trajetória de todos nós nesta pandemia não é mera coincidência.

Voltar ao cartaz com clássicos infantis que habitam o imaginário de adultos e crianças e ver novamente o teatro se enchendo gradativamente, com a flexibilização dos protocolos, foi a prova de que voltar ao teatro presencial era tudo que todos nós, artistas e público, queríamos.

O medo do que seria do teatro após o isolamento social cedeu lugar para a felicidade de voltar para nossa casa, o mesmo que aconteceu com Dorothy no “Mágico de Oz”, lembra-se? Ou então aquele sentimento de conquista, de vitória, o mesmo da Cinderela quando conseguiu ir ao baile.

Fomos consumidos por uma excitação genuína das crianças, como a de Peter Pan e os meninos perdidos. Sem falar no sentimento do poder da magia ao ver o rosto de cada um da plateia se encantando novamente com as nossas histórias, como num voo de tapete mágico do Aladim. Por fim, tivemos a certeza de um retorno triunfal, igual ao da Bela Adormecida quando acorda depois de anos do sono profundo.

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