Jornal Estado de Minas

BALADA

Nos anos 2000, Búzios foi referência em festas de música eletrônica

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Verão na praia

Leandro Rallo - DJ


Ano de 2003.
Como não falar de Búzios, cidade linda, resolvida e apaixonante?

Meu irmão, Ans Rallo, já estava morando lá e tatuando a moçada antenada quando resolvi vender a Black Agency, minha agência de modelos em BH, me mudar pra lá e me dedicar à carreira de DJ, profissão que escolhi e exerço até os dias de hoje.





O rock corria solto na península, mas, com o tempo, senti que dava para mudar a cena local com doses homeopáticas de house music.

Eu e meu irmão começamos a fazer algumas festas em locais inusitados e notamos que a cidade estava apta a ampliar seus horizontes sonoros.

Adotamos o Ponto Bar, um misto de pub com espaço para dançar, em plena Rua das Pedras.

Então, levamos pra lá o primeiro projeto de live de música eletrônica do Brasil (TENDANCE), formado por mim, Daniel Magnanni, na guitarra, e Juliano Mourão na percussão. Resultado: a turma local pirou com os reefs de rock misturados com batidas eletrônicas. Ganhamos admiradores fiéis, o que nos fez migrar para lugares maiores.

Procuramos bastante até achar um lugar fantástico, cheio de atitude e magia, onde nunca houve uma festa de música eletrônica. Algo inusitado chamou a nossa atenção: era gigante, na Orla Bardot, de frente para o mar.





Assim que a festa acabou, liguei para o Otávio, proprietário da Privilège, em Juiz de Fora, um clube alucinante em que eu já havia tocado, referência no Brasil.

Falei que ele tinha de conhecer aquele local mágico. Não deu outra. Em pouco tempo, a Privilège se instalava na península mais amada do país.

Naquele período, o público que simpatizava com música eletrônica consumia exatamente o que Búzios tinha de sobra: excelentes acomodações, gastronomia de qualidade, moda, praias paradisíacas e localização perfeita.

Um superclub de frente para o mar era tudo o que todos queriam.

Lembro-me como se fosse hoje do dia da inauguração. Uma cortina separava o bar da pista de dança, eu estava na cabine e seria o primeiro DJ a tocar. Quando as cortinas se abriram, mil e quinhentas pessoas vindo em minha direção como se estivessem maravilhadas. Naquele momento, minhas pernas tremeram, foi surreal!

Abrimos 28 dias direto, sem pausa para descanso, casa cheia todos os dias, uma loucura sem fim.




Vale mencionar que além de abrir e fechar a pista todos os dias, eu ainda tocava no Fishbone, em Geribá, super beach club como poucos no mundo, que tinha os melhores sunsets.

Eu era o DJ residente, tocava das 16h às 22h, corria pra casa, tomava banho e abria a pista da Privilège à meia-noite em ponto!

DJs residentes se revezavam, eu voltava a tocar das 6h às 8h, quando o sol entrava pelas vidraças do club... Inacreditável!

Búzios se tornou o balneário da música eletrônica no Brasil.

Gringos lotavam as pistas, paulistada invadiu, energia incrível, sunsets, madrugadas inesquecíveis e, claro, ressacas idem…

Chamou tanto a atenção dos aficcionados em música de qualidade que não demorou muito e a Pacha se rendeu ao balneário, inaugurando um club para 2 mil pessoas.

Nesse período, eu e meu irmão abrimos o Lounge 4few, espaço com duas varandas, uma delas voltada para a Rua das Pedras e a outra para o mar.

Eu e Expeto (Expedito Filho) éramos os DJs re- sidentes. Noites viraram dias e dias viraram noites.





Inúmeras atrações nacionais e internacionais adotaram Búzios como referência de música eletrônica de qualidade.

Durante os 10 anos subsequentes, inaugurei cerca de 200 casas noturnas no Brasil e na Europa. A cena eletrônica explodia no mundo todo!

Época boa. Se vai voltar, não sei. Mas que dá saudade, dá.

Quem viveu, sorriu. E, com certeza, dançou muito também.

A SEÇÃO “EMBALOS DE SÁBADO À NOITE” CONTA  A HISTÓRIA DA VIDA NOTURNA, QUE, ANTES DA PANDEMIA, DEU O QUE FALAR

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