Heleno Augusto
DJ, compositor e vocalista das bandas Raga Mofe, Havayanas Usadas e Samba Queixinho
Em fevereiro de 2013, eu estava próximo de completar 30 anos de idade e decidi, em conjunto com os amigos Diogo Torino, Kátia Aboim e Pablo Malta, fazer o carnaval da banda Raga Mofe no alto de uma casa na Rua Quimberlita, no Bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte.
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Começamos a tocar nosso repertório de resgate de clássicos dos anos 90 e da axé music em que a Banda Raga Mofe é pioneira, ao arriscar trazer olhares e ouvidos atentos do público para músicas de artistas como É O Tchan, Cia. do Pagode, Tchakabum, Sarajane e Gang do Samba, além de Bamdamel, Timbalada, Cheiro de Amor e Harmonia do Samba, pouco prestigiados naquele momento.
No meio da festa, jornalistas e fotógrafos começaram a subir para nos entrevistar e registrar aquela loucura maravilhosa, que acabou rendendo várias matérias de destaque no Estado de Minas (em que Marcelo da Fonseca usou o “Rooftop concert” dos Beatles de 1969 como inspiração) e em outros veículos de comunicação.
Um momento marcante pra mim foi quando um ônibus de linha passou no meio da multidão e todo mundo abriu caminho. O incrível motorista que conseguiu conduzir o veículo naquele mar de gente começou a buzinar, parou na frente da casa onde a gente estava tocando, foi até os degraus, ficou sambando e agradecendo a gentileza geral, para delírio completo da banda, foliãs e foliões.
Nunca esqueci o sentimento daquela tarde, o brilho no olhar das pessoas, os acenos e gestos de felicidade. Aquela mistura de surpresa, emoção e amor terminou por volta das 17h30. Senti que a nossa cidade estava entendendo que tinha carnaval de novo naquele momento do dia 10 de fevereiro de 2013.
>> A SEÇÃO “BLOCO NA RUA”, PUBLICADA AOS DOMINGOS NA COLUNA HIT, TRAZ TEXTO SOBRE O CARNAVAL ESCRITO POR UM CONVIDADO E FOTO DE FOLIAS DE OUTROS TEMPOS