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Ruby lança "Dentro de mim", primeira faixa do EP "50 tons de preta"

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Entrevista de segunda
RUBY /CANTORA

“A mulher é protagonista dos fetiches, e não objeto deles”

“50 tons de preta”, título do primeiro EP da cantora Ruby, faz referências ao universo da artista que, musicalmente, foi influenciada por vários gêneros musicais e obviamente pela questão de raça. "Minhas influências musicais são múltiplas, assim como a comunidade preta, que traz em sua composição as diferentes tonalidades de pele, desde a mais retinta até as negras de pele mais clara como eu. Devido ao racismo enraizado no Brasil, o processo de aceitação da minha negritude foi muito intenso", afirma ela, que, na sexta-feira, lançou a faixa "Dentro de mim" nas plataformas digitais.





Ruby conta que cresceu sem se enxergar nos lugares de destaque social, por isso “decidi ir de encontro aos padrões e às expectativas sobre mim e me propus a aprender sobre minha história, amar e aceitar quem eu realmente sou". Atualmente, garante, "como artista, vejo o quanto é gratificante ser referência para outras meninas negras que estão exatamente nesse processo de construção da autoestima e da identidade cultural".

Para a cantora, seu trabalho tem influência da capital mineira. "É impossível ser de Belo Horizonte e não sofrer influência da música mineira, que é um berço de cultura", afirma. "Em Minas Gerais, temos uma incrível pluralidade de estilos, desde o Clube da Esquina até Sepultura, Jota Quest, Skank, Pato Fu, Djonga, nossa recente descoberta, Marina Sena”, cita. Ela lembra também que o movimento do hip-hop e do funk tem se fortalecido e revelado vários artistas com projeção nacional. "Minhas influências também passam pela igreja, onde tive o primeiro contato com a música e comecei a cantar nos cultos, assim como meu pai, que é um amante da música e tem uma coleção de vinil e CDs dos anos 1960, 1970, 1980 e 1990."

Quais os motivos para escolha dessa canção para abrir seu EP, “50 tons de preta”?
Escolhi "Dentro de mim" por ser talvez a música mais “convidativa” de todo o EP. Um portal, como a caixa de Pandora, que, depois de aberto, revela um mundo de possibilidades.





Quais os próximos passos em torno do EP?
O EP é um trabalho audiovisual dividido em quatro clipes e quatro lyricvideos. A ideia é lançar dois singles e a terceira música vem trazendo o EP completo. Para a produção, formamos dois grupos distintos de produtores – um no Rio, produzido por Arthur Marques e o Dj Thay, e outro em Belo Horizonte, com os produtores Márcio Buzelin e Renato Galozzi.

Qual o marco do início de sua carreira como cantora? Como foi chegar até aqui?
O marco foi ter sido “descoberta” por meio de um vídeo caseiro que postei cantando junto com meu irmão no Instagram. Dali, recebi um convite para gravar profissionalmente e lancei meu primeiro single, “Chapadin de amor”, em parceria com Papati- nho. Tem sido muito gratificante essa oportunidade e todo o processo de aprendizagem e conexões que ela proporciona.

O que aconteceu com seus projetos em decorrência da pandemia? E como foi sua rotina profissional durante essa crise de saúde?
Posteriormente a “Chapadin de amor”, lancei outros dois singles em parceria com o Papatinho e um deles feat com o rapper BK. Depois desses lançamentos, decidi fazer um trabalho mais conciso, no qual conseguiria discorrer sobre uma ideia em diferentes âmbitos e sonoridades. Assim, entrei em uma jornada de autoconhecimento e aprendizagem sobre a minha própria forma de me expressar artisticamente, tudo isso conciliando com as diversas limitações da pandemia.





Na certidão de nascimento, seu nome é Camila; no showbusiness, Ruby, uma homenagem a Ruby Nell Bridges Hall, ativista norte-americana conhecida por ser a primeira criança negra a estudar em uma escola primária caucasiana, em Louisiana, no século 20. Estamos em um momento difícil: de um lado, a pandemia, de outro, a questão política do país. Para você, um artista deve se posicionar? Por quê?
Acredito que sim. Devemos nos posicionar, pois quanto maior é a projeção do artista é também sua influência e, consequentemente, sua responsabilidade. O que me entristece é a polarização em que vivemos, em que qualquer posicionamento gera retaliação. Mas acredito que, quando esse posicionamento se dá através da arte, construímos narrativas que se conectam da forma mais autêntica possível. Como disse minha diva Nina Simone: “Você não pode evitar. O dever de um artista, no que me diz respeito, é refletir os tempos”.

Nesse contexto, o que você quer mostrar ao público com seu trabalho?
Em “Dentro de mim”, busquei trazer o poder da vontade da mulher, o domínio que nós temos ou deveríamos exercer sobre nosso corpo e consequente prazer. Nesse lugar que retrato, a mulher é a protagonista dos fetiches e não objeto dele. Meu objetivo foi descrever essa potência em ser feminina e dominar a situação ao mesmo tempo, até porque feminilidade não é sinônimo de sujeição, e a vontade da mulher é real e latente. Do que mais gosto nesse trabalho é a oportunidade de falar dessa potência feminina em vários âmbitos diferentes, e em como a consciência e aceitação disso transformam nosso olhar sobre nós mesmas e sobre o outro.

audima