No momento em que tudo vira streaming, sair de casa para ver – e ouvir – a programação da antiga Rádio Nacional é uma viagem ao tempo. O espetáculo “Nas ondas do rádio”, que comemora 20 anos nos palcos, terá única sessão em 11 de fevereiro, no Centro Cultural Unimed BH-Minas, em Lourdes.
“Durante a novela, fazemos a sonoplastia de chuva, trovão. E mostramos os bastidores. Antes das cenas, atrizes aguardavam a sua vez fazendo tricô ou crochê”, conta Pádua Teixeira.
O diretor não esconde a animação em voltar ao palco, quase dois anos depois da última apresentação, no Palácio das Artes. “Espero que o público retorne ao teatro e prestigie os artistas locais. São muitos os desafios, mas a esperança é a última que morre”, diz ele, que planeja lançar um espetáculo neste semestre.
Com Raimundo Farinelli, cenógrafo de “Nas ondas do rádio”, Pádua trabalha na montagem de “Dias melhores virão”, inspirada na canção de Rita Lee. “Alguns quadros vêm sendo ensaiados. Vamos mostrar uma turma de mineiros em viagem a Hollywood e a volta deles, americanizados”, adianta.
"O teatro de revista sempre foi um grande sucesso em todo o Brasil. Em Minas Gerais, várias montagens representaram o estilo"
Pádua Teixeira, diretor
Muito mais que espetáculo premiado, com 20 anos de trajetória, “Nas ondas do rádio” é o reflexo da importância do ensino de teatro nas escolas. Do início dos anos 2000 para cá essa relação evoluiu?
É uma pena que hoje em dia o ensino de teatro não faça parte do currículo escolar. Não evoluiu. Até o final da década de 1970, a matéria educação artística era obrigatória nas escolas de primeiro e segundo grau.
Certa vez, o diretor Eid Ribeiro lhe disse que o teatro de revista não pode deixar de existir. Foi o start para você atender ao pedido de Raimundo Farinelli e escrever “Nas ondas do rádio”. Onde o olhar de Eid e o seu se cruzam?
O teatro de revista sempre foi um grande sucesso em todo o Brasil. Em Minas Gerais, várias montagens representaram o estilo. Entre eles, “Brasil mame-o ou deixe-o”, com direção de Márcio Machado; “Alô, alô Brasil”, com direção de Andréia Garavello e Dilson Mayron; e “Com jeito vai”, com direção de Márcio Machado e Dilson Mayron, entre outros.
Vocês ficaram oito anos em cartaz no teatro que funcionava na Escola Estadual Maurício Murgel, no bairro Nova Suíssa, e por 12 anos em temporadas por palcos no Centro de BH. Com sessões lotadas, como ocorreu no Teatro Alterosa. Qual é a razão desse sucesso?
Primeiramente, devido à Rádio Nacional, conhecida nacionalmente. Depois, o humor ingênuo com uma pitada de malícia, além do repertório musical inesquecível até hoje.
Na primeira montagem, eram 29 atores em cena. Houve adaptação e hoje são 23, mas ainda assim elenco numeroso, que, talvez, tenha comparação com o de “Mulheres de Holanda”, nos anos 1990. Como é trabalhar com tanta gente?
A turma jovem de atores, muito disciplinada, tem garra para fazer o espetáculo. As provas de figurinos (mais de 350) sempre eram muito divertidas, porque a figurinista Celsa Rosa era boa contadora de histórias do seu tempo. Dona Celsa, hoje com 90 anos, vive no interior de Minas. As experiências em grupo sempre trouxeram excelentes resultados no teatro. A convivência sempre traz resultados muito positivos.
"É uma pena que hoje em dia o ensino de teatro não faça parte do currículo escolar"
Pádua Teixeira, diretor
O espetáculo mostra a importância das emissoras radiofônicas na cultura brasileira. Como é sua relação com o rádio?
Desde criança, sempre ouvíamos rádio por influência do meu pai. Até hoje o rádio mostra sua força extraordinária, atraindo milhares de ouvintes em todo o país. Eu continuo ouvindo, principalmente as emissoras AM.
Você completou 35 anos de carreira. Quais são as suas melhores lembranças?
A alegria dos artistas, a convivência e a troca de experiências sempre foram bons motivos para continuar fazendo teatro. Meu pai, Antônio Teixeira, e minha mãe, Angelina Teixeira, descendentes de portugueses, sempre incentivaram os filhos a irem ao teatro e ao cinema. Meu irmão Sebastião Apolônio, depois de atuar em novelas e cinema, tornou-se um grande diretor. Atuou ao lado de Leila Diniz no espetáculo de revista “Tem banana na banda”. Em Belo Horizonte, dirigiu “O céu tem que esperar”, com o inesquecível Helvécio Guimarães. Também dirigiu “A mente capta”, de Mauro Rasi, com Célia Thaís e Fernando Couto. Minha irmã Mazarelo Teixeira foi atriz e produtora do grupo Em Cena. E Eduardo Mendes, meu sobrinho, é maestro.