Jornal Estado de Minas

POP

Coluna HIT abre baú de história da Caramelo, festa que marcou os anos 2010

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Sebastião Rinaldi
Jornalista e membro da Caramelo Sundae desde o começo


Quando chegou o convite para fazer este texto sobre a Caramelo Sundae, confesso que fiquei na dúvida sobre o que escrever (afinal, lá se foram uns bons anos) e, ao mesmo tempo, feliz com a possibilidade de reviver essas memórias. Para quem não acompanhou, a Caramelo foi um projeto de música pop que acontecia aos domingos no Velvet Club (na Sergipe com a Getúlio Vargas). Por mais distante que soe (hoje, cada ex-membro está em um momento completamente distinto, inclusive em outras cidades), ainda parece que foi outro dia.





Foram várias edições, temas, figurinos, convidados, preparações, esquentas na casa de algum amigo antes de ir ao Velvet, segundas-feiras, com o corpo pedindo arrego (mas, no final, estava tudo bem)... A HIT foi uma grande parceira e acreditou em várias de nossas ideias. Lembro-me como se fosse ontem da vez em que eu estava cobrindo um evento com a Bruna Miranda (ex-proprietária do Velvet), quando falamos que fazia falta uma noite de pop, algo aos domingos. Sempre frequentei o Velvet e acho que tudo foi acontecendo muito naturalmente. Aliás, “muito” é uma palavra que definiria bem a festa, no melhor sentido.  

Com o convite do Helvécio Carlos para escrever este texto, pensei que seria, inclusive, uma boa oportunidade para conversar com a turma que fez parte. Decidi fazer essa apuração porque a Caramelo sempre foi um coletivo. E este texto precisava ser um quebra-cabeças. 

Uma edição muito especial foi o aniversário da festa na Josefine. O Shum, que também fez parte desde o começo, lembrou-se de um episódio: quando ele tocou “Vamo pulá”, de Sandy & Júnior, na pista principal, que até então só deveria conhecer o som da tribal house. “Pedi para o controlador da luz desligar tudo e ele ficou com medo. Eu estava tocando uma música agitada e, de repente, parou o som e a luz desligou. Quando esse hit começou, foi uma gritaria. O refrão com estrobo e a pista toda pulando”, diverte-se. Shum ainda lembrou que os gogo dancers estavam muito desajeitados dançando pop.  

Em bate-papo com o Dudu Pônzio, responsável pela produção da festa, lembramos de algumas edições inesquecíveis, com a presença de Elke Maravilha e Narcisa Tamborindeguy. Ele sublinhou um contexto que todos vivenciamos. “Foi uma época muito boa, de muita liberdade. As pessoas iam livres para se expressar e se divertir, sem medo ou aflição. Esse quarteirão está com esse movimento até hoje. Era um clima muito gostoso”, comenta.

Considerada madrinha do projeto, a drag queen Dolly Piercing fez parte de vários momentos, mas destaca um específico: o bloquinho da Caramelo em um carnaval. “Estava supermontada, bem estilo carnavalesca. Por fim, vi as pessoas dizendo: madrinha, vem tirar foto comigo. Pessoas me intitulando como madrinha da bateria sem eu mesma ser. Talvez por eu ter me jogado no meio da bateria e arrasado no samba”, brinca.





Comentei da Bruna um pouco antes. A gente já se conhecia de outros carnavais: cobrimos muitos eventos juntos, os dois como repórteres. Quando nos falamos nesta semana, ela foi muito certeira: “Quem viveu esses anos sabe que começar a semana se tornou um sinônimo de trazer as melhores lembranças e o corpo relaxado de uma noite anterior em que o que mais importava era a alegria dos re/encontros”.

O Lucas Pierre, bailarino clássico que entrou na festa por meio de um concurso de DJs (inclusive coberto pela HIT), tem um caso tragicômico que une as duas frentes: noite e balé. “Quando saí de um espetáculo (e eu já estava cansado e com um pouco de dor no tornozelo), fui à Caramelo e aproveitei muito a festa. No outro dia, reclamei que estava com dor. Fui ao hospital e descobri que tinha uma fratura por estresse no calcanhar. Coloquei uma botinha ortopédica e, mesmo com essa bota, não deixei de frequentar a festa todos os domingos.”

Outro amigo que fez parte desde o comecinho foi o Rodrigo Soares – inclusive, quem fez a ponte para trazer o saudoso Daniel Carvalho (aka Katylene – blog que todo mundo acompanhava) para discotecar no projeto. “Na época da Caramelo, a Velvet era uma boate que não tinha uma noite de pop. Aliás, se minha memória não estiver ruim, diria que quase não existiam festas dedicadas ao ritmo (ao contrário de agora). A impressão que passava era que todos eram amigos há anos. Quem viveu aquela época, acho eu, não esquece.” E não mesmo, tenho certeza.


. A SEÇÃO “EMBALOS DE SÁBADO À NOITE” CONTA A HISTÓRIA DA VIDA NOTURNA DE BELO HORIZONTE, QUE, ANTES DA PANDEMIA, DEU O QUE FALAR