Guilherme Colina,
diretor
O teatro, desde os tempos mais remotos, sofreu inúmeros questionamentos em relação às mudanças de eras. Em todas, ele deixou claro o seu poder de readaptação e/ou absorção das novas dinâmicas, já que é uma arte a comportar, em si, tantas outras, como abraça as artes plásticas, a música, a dança, o circo e, agora, a virtualidade.
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Nem mesmo a pandemia apagou o fio de esperança que sustenta o teatro''O palco é o lugar do ofício de homens e mulheres de teatro''Em tempo de desencontros, o teatro é a melhor definição de arte do encontroO teatro transgressor brilhou nos palcos de BH entre os anos 1960 e 1990Canto da Alvorada vai homenagear os 50 anos do Palácio das Artes em 2023Hoje, com a pandemia da COVID-19, o teatro foi brutalmente atacado e questionado por uma bolha política e seus seguidores, que não entendem a força de uma arte da qual partiu o cinema, a televisão e as plataformas de streaming – todas carregando em sua gênese o drama aristotélico oriundo do teatro.
Essas, somadas, promovem entretenimento, conhecimento e, consequentemente, crescimento, respiros, identificações e reverberações que atuam direto no bem-estar, saúde mental e na formação de uma população. Falar disso é pensar que nossas artes cênicas são raiz para muitas das formas de suporte emocional do período pandêmico, quando somos impelidos a nos recolher dentro de casa.
Sendo importante dizer também do absorver as tecnologias que, a meu ver, antes não era orgânico em nosso trabalho e, agora, essa tecnologia ter entrado, pelos desafios do encontro no espaço-tempo pandêmico, e se tornado orgânica, levou-nos a experimentar a contribuição para a expansão e divulgação da cena teatral; seja por meio da atuação nas lives, do uso das plataformas digitais para difusão de informações e venda de ingressos, até nas intervenções virtuais ou híbridas, que bebem dos dois campos.
Menciono tudo isso para relembrar ou elucidar, para alguns, a importância do teatro, e retomo o início do assunto para dizer da arte que sobrevive aos tempos, porque não é daqui, não é deste plano, ela é da subjetividade da gente, é das divindades teatrais, é da sua, da nossa força em metamorfosear, por meio das catarses vividas pelas personagens-gentes, que falam sobre a humanidade como um todo.
Desse modo, essa metamorfose teatral cria novas estéticas e linguagens e faz emergências sociais, arte-reflexão, somando na sociedade. O que se percebe, embora seja o teatro essa força gigante de resistência e permanência, é que nada supre, em nós, artistas do palco e público de teatro, o encontro e a energia que essa arte do presente pode nos proporcionar.
Assim, tendo também a pensar que nosso público pode estar saturado, em alguma instância, do digital, do tudo enquadrado numa tela, sem tanta pessoalidade e intimidade. Sentindo, então, falta de estar em meio a tantos, pulsando juntos às reflexões e risadas provocadas por uma trupe teatral e, com isso, estar com sede de arte, mais atento à importância daquilo que podia parecer acessível.
Logo, após vividos os tempos sombrios dos últimos anos, com a perda da liberdade de escolha, da chance de degustar – frequente e intimamente – arte, indo e vindo com liberdade de uma casa de espetáculo, confio numa troca de lente, reavaliação e ampliação de um valor.
Ao abrir o Teatro da Cidade, em outubro de 2021, com a 2ª Edição do Festival Mínimo de Teatro, por exemplo, percebi o público alvoroçado, feliz e entusiasmado pelo retorno, me deixando esperançoso por esse futuro que já estamos vivendo, mesmo sabendo que desafios nos esperam na escolha de seguir o caminho da arte. Por fim, acredito: o nosso saudoso terceiro sinal nunca irá parar de tocar. Pode, sim, como aconteceu, se ausentar, mas parar, nunca, porque ele vibra em nós.
ÀS SEXTAS-FEIRAS, A COLUNA HIT PUBLICA A SEÇÃO 'TERCEIRO SINAL', EM QUE ATORES, DIRETORES E PRODUTORES RELATAM COMO É ENCARAR OS DESAFIOS DO TEATRO NA PANDEMIA.