ENTREVISTA
“Escolas são um grito cultural o meio de tanta intolerância”
Enderson FernandesPresidente da Imperatriz de Venda Nova
Há dois anos, numa hora dessas, a alegria estaria contagiando os barracões das escolas de samba de Belo Horizonte. Mas com a suspensão do carnaval pelo segundo ano consecutivo, o clima é de tristeza – tanto pelas mortes causadas pela COVID-19 quanto pelo impacto social sofrido pelas agremiações carnavalescas.
“A Imperatriz de Venda Nova tem total empatia e respeito às vítimas da pandemia, mas, infelizmente, os dois anos sem carnaval nos afetaram muito. Não só pela folia, mas pelas famílias que dependem da atividade para sobreviver. Sem carnaval, também não conseguimos manter nossos projetos sociais e culturais”, afirma Enderson Fernandes, presidente da agremiação.
Nesses dois anos, o trabalho no barracão da escola se concentrou na pesquisa e sinopse do enredo (“Imperatriz faz uma festa brasileira, com certeza”) e na desmontagem dos carros alegóricos.
“Tudo o que não dependia de verba para ser feito foi realizado. Mas sem termos onde arrecadar, o nosso trabalho teve de parar”, afirma Fernandes.
Qual foi o prejuízo da escola e das comunidades em torno dela devido à não realização do carnaval?
O prejuízo cultural é imensurável, escolas de samba são um grito cultural e ancestral no meio de tanta intolerância, mas infelizmente não apoiado pelo poder público. O prejuízo para a comunidade foi grande com a paralisação de nossos projetos culturais e de formação de profissionais para trabalhar com carnaval.
Todo o trabalho de 2022 será aproveitado no ano que vem?
Sim. Acreditamos no nosso enredo. Achamos que depois de tanta lamúria, precisamos de festa. E nada melhor que falar das festas populares brasileiras.
A COVID-19 é o grande empecilho para a realização do carnaval?
Já foi maior. Hoje em dia, para a prefeitura, o vírus virou selecionável. Vemos jogos esportivos lotados, festas particulares lotadas, comemorações de títulos com presença de trio elétrico lotadas, mas só o carnaval é foco de transmissão do vírus? Os desfiles das escolas de samba podem, sim, ser um ambiente controlável e respeitar as normas sanitárias, mas infelizmente não será desse modo.