Jornal Estado de Minas

CARNAVAL 2023

Pergunta que vale 1 milhão: Como será o carnaval do ano que vem em BH?

Conteúdo para Assinantes

Continue lendo o conteúdo para assinantes do Estado de Minas Digital no seu computador e smartphone.

Estado de Minas Digital

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Experimente 15 dias grátis


 
Márcio Eustáquio
Presidente da Liga

O carnaval que inspirou o sambista carioca Zé Keti já foi cheio de riso e alegria, mas a folia que acabaria hoje, uma quarta-feira de cinzas, não foi definitivamente igual àquela que passou. As escolas de samba e os blocos, atendendo à suspensão da Prefeitura de Belo Horizonte no combate à pandemia, que ainda não acabou, não pisaram pelo segundo ano consecutivo na avenida. A festa mais democrática e popular ficou restrita a eventos privados e, imaginem só, blocos clandestinos que fizeram cortejos arrastando multidão. Ambulantes, sem risos ou alegrias, atenderam ao regulamento municipal e não saíram às ruas. E pior: ficaram sem o dinheiro que nessa época alivia a contabilidade doméstica.





A vida das escolas de samba também não teve brilho, conforme mostrou a coluna em entrevistas publicadas aqui, de sábado a terça-feira. Representantes das escolas Imperatriz de Venda Nova, Canto da Alvorada, Unidos Guaranys e Raio de Sol foram unânimes em reconhecer que, com ou sem pandemia, o que faltam às agremiações são incentivos fiscais, tanto do poder público quanto da iniciativa privada. As escolas reconhecem a necessidade de suspensão dos desfiles para o combate ao coronavírus mesmo com as contas no vermelho, que se acumulam desde o início da pandemia.

O luto também está presente nas comunidades onde as escolas perderam muitos componentes vítimas da COVID-19. A luta por leitos de CTI, vagas em UPAs também mudou drasticamente a vida em um barracão, que sobrevive graças à união e solidariedade entre os integrantes.

O movimento nos barracões só voltou em 2021 com o início da vacinação, que injetou esperança para o carnaval de 2022. O que ninguém esperava era uma nova variante, que não tirou a folia do papel. Agora, não dá mais para pensar em nova suspensão no ano que vem. Mas o que fazer para que os desfiles se mantenham garantindo alegria e assegurando de forma digna a sobrevivência de famílias inteiras?

A questão foi um dos temas na entrevista com o presidente da Liga das Escolas de Samba de Minas Gerais, Márcio Eustáquio. Entre sugestões, ele defende que o desfile, a exemplo de outras capitais, fique sob responsabilidade da Liga, e não da prefeitura.





Independentemente de como serão solucionadas as questões em torno do carnaval de 2023, a coluna torce e acredita que no ano em que o bloco estará na rua deverá ser seguro e com a mesma alegria dos versos de Zé Keti, tanto riso e tanta alegria, que não combinam com a clandestinidade.

A esperança por momentos melhores está refletida na ilustração da página. Inspirado nos croquis e desenhos usados como imagens na série “O carnaval que virá”, publicados até ontem nesta coluna, Lelis usa seu traço para refletir dias melhores e a volta do carnaval como a festa mais popular e democrática do planeta.

ENTREVISTA

Nas entrevistas feitas com representantes das escolas está claro que a maior dificuldade é a estabilidade financeira. A pandemia complicou o que sempre foi difícil para as agremiações. É possível solucionar a questão sem contar apenas com o poder público? Como e por quê? E a prefeitura, qual deve ser o papel dela?
Realmente, a situação financeira é nosso maior obstáculo. O carnaval de 2020, que foi nosso primeiro carnaval, foi uma grande realização e certamente abriria portas para nossa independência financeira. Porém, a pandemia que chegou dias depois nos tirou essa possibilidade e agravou em muito tudo que já vivíamos. Nossa missão é mudar este quadro e o faremos seguindo os formatos dos outros estados, que já deram certo. Apoio da televisão, parcerias empresariais locais, projetos de leis de incentivo e fundo das três esferas de poder. Isso tudo associado à força de trabalho e de realização do nosso povo, certamente muda o cenário.





Tudo leva a crer que a pandemia começa a ser controlada e, provavelmente, teremos carnaval no ano que vem. As escolas estão preparando alguma mobilização e conversas com a PBH para um eventual plano B que evite nova suspensão dos desfiles? 
É o nosso desejo. Estamos sim trabalhando e prontos para que isso aconteça. A prova disso foi essa série linda que vocês produziram neste carnaval. Não nos fecharemos ao diálogo de maneira nenhuma. Conversar com a prefeitura e com o governo do estado é algo que já começamos justamente para que nossa cultura se mantenha viva até o próximo desfile.

Até o carnaval de 2020, quais eram as principais reivindicações das escolas com o poder público? Como estavam essas negociações e será preciso voltar à mesa de discussões?
Nossa principal reivindicação é que a subjetividade do concurso de carnaval fique por responsabilidade da Liga, como já acontece em todo o Brasil. A Prefeitura de Belo Horizonte faz questão de ser a responsável, de avaliar o concurso, contratando empresas de jurados, quando poderíamos fazer isso envolvendo toda a comunidade, academia etc.. Ela deveria entregar o fomento e deixar que o carnaval tome seu rumo orgânico de organização. Seria o melhor caminho.

Ao longo de dois anos de pandemia, como foi a atuação da Liga para ajudar um universo tão grande de pessoas que vivem do carnaval?  
Foi muito complicado. Vimos de perto a morte de pessoas importantes para as comunidades, os números que os jornais e prefeitura falavam todos os dias, eram mulheres e homens que desfilavam e construíram nosso carnaval. Enterrar essas pessoas, conseguir vagas em UTIs, atendimentos em UPAs, cuidar das sequelas de muitos e sobretudo matar a fome de quem sobreviveu a tudo isso foi a grande missão que tivemos. E posso garantir: não foi fácil. Tivemos ajudas de parceiros, como a Cufa, e a Lei Aldir Branc também ajudou um pouco. O carnaval de passarela hoje emprega de forma direta centenas de pessoas que dependem dela para sobreviver.





Qual a função da Liga em Belo Horizonte e no estado? Quantas agremiações são atendidas?
A função principal é representar as escolas filiadas e fazer a gestão do concurso. Hoje, somos nove filiadas (Acadêmicos de Venda Nova, Imperatriz de Venda Nova, Raio de Sol, Imperavi de Ouros, Canto da Alvorada, Cidade Jardim, Bem-Te-Vi, Estrela do Vale e Unidos Guaranis).

Você assumiu o posto em 2019 para trabalhar o carnaval de 2020. Veio a pandemia e mudou tudo...
2020 já foi marcado na história do carnaval de passarela em Belo Horizonte. Foi o carnaval com o melhor recurso da história das escolas de samba – e certamente o mais bem organizado do ponto de vista da estrutura. Tivemos um camarote para a Liga e suas filiadas na avenida. Esperamos o apoio dos poderes públicos e do empresariado local para que tudo possa acontecer. 2023 será o maior carnaval da história recente de nossa cidade!!!