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Estado de Minas ARTES VISUAIS

Mostra dedicada aos 50 anos do movimento armorial se despede hoje de BH

Idealizadora da exposição, Regina Godoy faz um balanço da temporada mineira de 73 dias e defende o apoio de políticas públicas à cultura popular


07/03/2022 04:00 - atualizado 07/03/2022 07:33

Regina Godoy sorri e olha para a câmera
Regina Godoy diz que levará 'um pouco de Minas' para as exposições que fará pelo Brasil (foto: Cris Dias/Divulgação)

Exatos 73 dias depois de sua abertura, a mostra “Movimento Armorial – 50 anos” se despede do público nesta segunda-feira (7/3). Em cartaz no CCBB-BH, na Praça da Liberdade, a exposição é, sobretudo, uma bela homenagem a Ariano Suassuna, líder do movimento que uniu um grupo de artistas no Recife dos anos 1970. Regina Godoy precisou de tempo e paciência para colocar seu projeto em cena, pois a pandemia atrasou todo o cronograma.
 
“O que antes era projeto foi se tornando realidade, com forma, cor e muita troca diante de mim, em cada sala que ficava pronta, a cada quadro desembrulhado”, recorda. A sala dedicada a Ariano é o espaço que mais chamou a atenção de Regina. “As iluminogravuras são joias que sintetizam arte deste mestre”, afirma. “Em seguida, vem a sala de Samico – um gênio da pintura, da gravura. Mas, a cada sala, uma obra me chamava a atenção. O Cristo negro e os figurinos de Brennand, recriados para a mostra; a sala do cordel criado pelo pernambucano Pablo Borges – filho de J. Borges; a sala das xilogravuras e, por último, as aulas-espetáculo de Ariano. Ter a voz e o humor dele presentes foi espetacular”, enumera.

Nesta segunda-feira, será encerrada a mostra “Movimento Armorial – 50 anos”, no CCBB. Qual é a sua avaliação sobre a reação do público? Foi um desafio “enfrentar” a Ômicron?
O público de BH abraçou a mostra e respondeu com entusiasmo A exposição ganhou muitos fãs, a Onça Caetana foi a “musa” do verão mineiro. Foi muito acolhedor iniciar nossa trajetória por BH, que tem muitas semelhanças com a cultura popular de Pernambuco. O CCBB-BH soube conduzir as questões de saúde com muita elegância – ingressos foram retirados com antecedência pela internet ou presencialmente. Isso facilitou a fluência do público. Com as vacinas e os cuidados adotados, o mineiro saiu de casa e encontrou a alegria, a beleza e o colorido do Movimento Armorial.

O que foi mais marcante durante a exibição da mostra em BH?
A participação do público nos encontros sobre arte armorial. Mesmo tímida, pois eles ocorreram no período das chuvas e tragédias em Minas. Havia uma plateia seleta e de altíssima qualidade. Um fato curioso foi ver a Onça Caetana ser produzida do zero. Ela foi produzida em BH pelo artista mineiro Agnaldo Pinho e sua equipe. Acompanhei virtualmente o processo. Quando fui ao ateliê, ela estava lá em partes. Tive impacto igual ao do público quando a vi em sua magnitude no dia da montagem, na sala onde ela recepcionaria o público mineiro. A arte popular recepcionou todos os visitantes. Outro fato importante é que a grande maioria das obras nunca havia saído do Recife. Saíram para esta mostra, nessa conexão Pernambuco-Minas.

Como foi a sua vivência na capital mineira?
Foi de muitos encontros. Conheci um quilombo, onde vi as passistas plus size de BH se apresentando, a ótima comida mineira. O Mercado Central é um mundo à parte de delícias para alimentar os sentidos; o Mercado Novo e sua gastronomia, com cardápios variados para todos os gostos. Conheci o Agnaldo Pinho e equipe, que deram o sopro de vida à Onça Caetana, conheci a Virgínia Barros e comprei uns sapatos maravilhosos. Conheci a família do Fernando Sabino. Visitei o museu da Vale, andei pela cidade, em especial pela Praça da Liberdade. Fiquei encantada, BH é linda. Agradeço por essa energia para o nosso começo. Seguiremos daqui preenchidos por amor e alegria. Levaremos um pouco de Minas dentro de nós para as outras etapas da mostra, no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília.

Ao que tudo indica, a pandemia está menos agressiva. Como a senhora se prepara para o mundo pós-pandemia?
Com a alegria e a força do Movimento Armorial. Nossa mostra foi pensada e desenhada em plena pandemia. Sempre acreditei – e lá se vão 30 anos de histórias – que a arte salva. E foi ela que salvou todos nós durante a pandemia. O trabalho da Nise da Silveira, com o qual tivemos o prazer de dividir as atenções do público no CCBB, reforça essa máxima. Eu me energizo com a alegria dos encontros – ainda tímidos, mas estamos saindo do casulo. O fato de sair de casa, poder andar sob o sol, sob o céu, e ver o horizonte alimenta a alma. Ainda com todos os cuidados, vestida de alegria e caminhando com a esperança tatuada no corpo. Com a arte nos pensamentos, aprendemos a apreciar e dar valor a pequenos detalhes. Acho que será este o espírito do novo velho mundo.

O que falta, aqui no Brasil, para que projetos de impacto sociocultural atinjam mais pessoas, especialmente no interior?
É uma pergunta ampla, pois variados fatores interferem nesse fluxo. Mas falta a vontade política de destinar recursos para valorizar a arte local, a arte popular. A falta de investimento na cadeia produtiva que envolve o fazer artístico é outro fator. Falta reconhecer a importância e dar espaço e investimento para a cultura popular, que está em todos os cantos deste Brasil. Precisamos descentralizar as verbas públicas, assim teremos cadeia produtiva forte e com mais força para atuar. É preciso desburocratizar o acesso da cultura popular a recursos financeiros públicos. Só assim teremos como formar elos fortes para manter tradições culturais. Mas, principalmente, falta investimento na educação, onde o amor à arte começa. As crianças imbuídas de arte geram adultos que darão continuidade às tradições culturais deste imenso país. A juventude precisa respirar arte.

A educação e a cultura vivem uma fase muito difícil. Qual é a mensagem da mostra “Movimento Armorial – 50 anos” para este momento?
Ariano Suassuna evidenciava a cultura popular. Dava valor aos artistas populares e a seu grande conhecimento. Mostrou como a cultura popular e a arte erudita se complementam e se alimentam uma da outra. Esta mostra segue na trilha de Ariano, apresentando a arte popular num espaço eclético como o CCBB-BH. O trajeto proposto pela cenografia da exposição mostra esse imbricamento entre o popular e o erudito. Este país é grande, tem em cada localidade a sua forma de enxergar o mundo e se expressar através da arte popular. É preciso dar valor ao conhecimento dos mestres e mestras da cultura popular. Que as manifestações culturais permeiem aprendizados em sala de aula. Que se criem mais acessos da arte popular aos recursos públicos.

“MOVIMENTO ARMORIAL – 50 ANOS”
Nesta segunda (7/3), das 10h às 22h. Último dia. CCBB-BH, Praça da Liberdade, 450, Funcionários. Entrada franca, mediante retirada prévia de ingressos. Informações em
 https://ccbb.com.br/belo-horizonte/

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