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Estado de Minas entrevista de segunda

"O trabalho é que decide o que ele é", diz Francisco Nuk

Apaixonado pelo ofício da marcenaria e filho de artista, ele diz que gosta de ser ver como "fazedor" de sua própria obra


14/03/2022 04:00 - atualizado 13/03/2022 21:27

de calça jeans e camiseta branca, Francisco Nuk sentado junto à sua obra composta por colunas verticais de gavetas de madeira
Francisco Nuk afirma que seus trabalhos tornam-se seus "companheiros, parceiros no crime" (foto: Júlia Amaral/Divulgação)

 
Francisco Nuk confessa: é um apaixonado por ofícios, pelo fazer. "Acho incrível a transformação de um material bruto até uma peça bem-acabada, e o ofício é o meio que possibilita esse acontecimento", afirma.

"Quando começamos o feitio de uma obra, é estabelecida uma relação entre a matéria e o indivíduo. Essa relação pode ser de carinhos e beijinhos ou cheia de espinhos e desencontros. Quanto mais trabalho a matéria, mais a compreendo e assim posso tratá-la cada vez melhor", acrescenta ele, dizendo que poderia passar um dia refletindo sobre essa ideia, mas, no caso, gosta é de observar o ofício como arte, "assim como observo uma pintura, um desenho ou uma escultura. Tenho muito prazer em ser o ‘fazedor’ de minha obra. Sem dúvida, é um enorme privilégio".
 
O trabalho de Nuk foi elogiado na exposição “Fio: Gaveta de si, ofício de si", apreciada em São Paulo e no Rio de Janeiro. "Foi uma surpresa como o público reagiu às obras. As exposições foram diferentes, embora próximas, mas tive acontecimentos muito agradáveis em ambas." 
 
Para o artista existiu uma identificação das pessoas com as obras, "elas se viam nelas, queriam ser suas amigas, ter contato, o que acho maravilhoso. Muitas pessoas ficaram intrigadas com o feitio das obras também e muitas se interessaram pelo conceito por trás daquelas peças principalmente".
Bem-humorado, ele afirma que de forma hilária os objetos criados por ele se transformaram em amigos. "Companheiros, parceiros do crime. Sempre existe um pesar quando se vão."
 
Nuk diz ter novos projetos para este ano e, "no momento, o maior desafio é bala
nceá-los com a obra que já tenho feito, mas estou muito empolgado com o que pode vir. Novos materiais, novas pesquisas, novos conceitos". Por enquanto, não há exposições marcadas, e o artista não esconde a vontade de trazer uma delas para Belo Horizonte.
 
Impossível olhar sua obra e não se lembrar de Dalí. O surrealismo lhe interessa? De que forma o inspira?
O surrealismo me interessa muito. É uma das fontes em que bebo. Mas o surrealismo vem mais como uma ferramenta que me proporciona a busca do inútil. Contorcer os armários para todas as direções é um desafio à utilidade convencional.

Qual a importância de seu pai, o artista plástico Sérgio Machado, na sua formação artística?
Tremenda importância! Primeiramente por ter me introduzido no mundo da arte. Obviamente que para o filho de um artista não ter contato com esse meio seria quase impossível. Nossas viagens eram para visitar exposições e feiras de arte e, quando não eram, sempre existiam intervenções ou atividades que instigaram olhares artísticos. Segundo que ele foi a principal pessoa que me instigou, incentivou e tutorou a produção de meus primeiros trabalhos artísticos. Sem ele o trabalho não existiria como é hoje, sem ele nenhuma gaveta se abriria. Compartilhamos muitas ideias, informações, planos, ajudamos um ao outro e, de certa forma, formamos uma parceria muito produtiva.

Qual vivência no exterior (Nova Zelândia, Argentina e Austrália) influenciou sua produção artística?
A vivência no exterior encaixa principalmente no quesito técnica. Embora já tendo uma proximidade com o material madeira e tendo crescido dentro da oficina de meus pais, foi lá fora que pude estudar as técnicas de marcenaria mais a fundo. Tive a oportunidade de estudar o ofício, trabalhá-lo de forma sistemática, tirar meu ganha-pão dele e, mais importante, poder pesquisá-lo e experimentá-lo intensamente. Cada um desses lugares apresentava "escolas" diferentes do trabalho da madeira. Vivenciar todas elas significou abrir o leque de possibilidades, combustível para a infinitude da criação.
 
Arte ou design: como você e público definem seu trabalho?
Não sei. Não poderia colocar um ponto final nessa pergunta, pois não tenho nem mesmo o poder para isso. E, afinal, quem o teria também? Dentro de toda a pesquisa desse trabalho poderia dizer que seria uma injustiça defini-lo por definitivo, pois na verdade o único que detém tal afirmação seria o próprio trabalho. Ele decide o que ele é.

Como é sua rotina na criação e execução dos seus trabalhos?
As obras exigem uma disciplina um pouco rigorosa, até porque, se não houver, elas não ficam prontas ou com um bom acabamento. Tenho uma rotina. Levanto as portas às 7h30 e costumo fechá-las às 19h. Acho que sou "pulguinha" de ateliê. Mas muitas das minhas criações surgem durante a criação de outras. Enquanto estou serrando, lixando, varrendo, aparecem boas ideias que preciso colocar em um primeiro esboço na hora mesmo e depois ir matutando sobre.

E a paixão pelo rúgbi, continua? Como você acompanha? Qual o time e ídolos do esporte?
Continua, claro! Amo esportes e o rúgbi é meu favorito. Acompanho mais por notícias e eventualmente assisto a alguns jogos por streaming. Os times pelos quais tenho mais carinho são Highlanders, da Nova Zelândia, e Broncos, da Austrália. Não têm feito boas temporadas nos últimos anos, mas este ano tudo pode mudar. 

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