Volta e meia, Eberty Sales surpreende os amigos quando posta em seu Instagram fotos de MD (MiniDisc), mídia quase desaparecida, com registros de shows de bandas no Pop Rock Café, que funcionou na capital entre 2002 e 2007.
O espaço, que comportava 600 pessoas, tinha pé-direito alto e mezanino. Pasmem: não havia camarim para a banda. Público e artistas conviviam ali, cara a cara, numa boa. Fãs não assediavam, cantores e cantoras circulavam por lá sem estrelismo. Não raro, frequentadores chegavam na mesma hora da atração da noite. Acabavam entrando juntos pela única porta de acesso à casa.
Entre tantos eventos que movimentaram a música brasileira, as edições do “Acústico MTV” eram sucesso absoluto no início dos anos 2000. Bem antes das turnês que lotavam casas como o Marista Hall, bandas como Kid Abelha passaram pelo Pop Rock mostrando seu trabalho desplugado. Ingressos acabavam com rapidez.
“No início dos anos 2000, a tecnologia não era como hoje. Na casa, havia só um computador, com internet discada. O pagamento dos ingressos, muitas vezes, era em cheque”, relembra Eberty Sales, sócio do Pop Rock ao lado de Tuca Martins, Junior Cocota, Rodrigo Lucas e Jussara Naves.
Ele cita outra curiosidade: “O ingresso era muito barato. Hoje, seria preço popular. Foi inocência de nossa parte não cobrar valores altos. Não tínhamos noção de que aquilo um dia ia acabar. Achamos que seria para sempre, mas foi uma ingenuidade boa”, pondera ele, que considera os cinco anos de vida da casa como um momento mágico.
“Não haverá nada como aquele período. Desconheço casa no país, do tamanho do Pop Rock Café, que tenha funcionado naquele formato com os shows que fez”, acredita.
Com as mudanças no cenário musical do Brasil nos anos 2000, foi natural a queda do movimento do Pop Rock, que fechou as portas em 2007. “César Menotti e Fabiano explodiam, os festivais de música eletrônica também. O fã do rock se dividia entre o cara mais velho, que não enchia casa, e o muito novo, que gostava de Detonautas, CPM 22, mas não tinha idade para entrar. A pirataria de CDs também foi forte, complicando a vida das gravadoras, que perderam a força e o poder de me dar um show”, diz, lembrando que a produção das apresentações era bancada pelas gravadoras. “Muitos artistas tocavam na casa aproveitando a agenda que cumpriam aqui por perto. Por isso os grandes vinham sempre na terça-feira”, explica.
O Pop Rock Café nasceu meio por acaso. Eberty, que já havia passado pelo Fantasma da Ópera e as segundas gerações da Ufo e da Ciao Ciao, foi trabalhar no Massimo Café, que mais tarde virou M Café, piano bar que emplacou. Certo dia, um representante da 98 FM bateu na porta, chamando os sócios da casa para uma reunião na rádio.
“Quando chegamos, nos disseram que queriam que o espaço deixasse de se chamar M Café para virar Pop Rock Café. No Rio, já havia o Rock in Rio Café, inspirado no Rock in Rio. Aqui, seria (inspirado) no Pop Rock Festival, com pegada meio Hard Rock Café. Nos disseram que a gestão era nossa e eles mandariam os shows. Pensamos que seriam bandas locais, nunca imaginamos os shows que foram apresentados lá”, recorda Eberty Sales.