Lilian Malta Varella, a Lili Varella, jamais imaginou que a ideia de abrir seu bistrô numa garagem na Avenida do Contorno, entre as ruas Leopoldina e Carangola, no Santo Antônio, fizesse história e a casa inaugurada em 1986 fosse lembrada até hoje por uma legião de frequentadores.
“O Drosophyla chegou chegando. Durante o dia, servia pratos quentes e saladas. À noite, funcionava como bar”, relembra Lili. Cibele Teixeira e Guilherme Horta eram sócios dela. Apesar do sucesso, um ano depois de abrir a casa teve de mudar de endereço, pois o imóvel foi vendido.
O inusitado aconteceu quando o Drosophyla se instalou em um apartamento na Rua Ouro Preto, 84, no Barro Preto, no prédio que existe até hoje. “O local era incrível”, rememora. O espaço comportava 70 pessoas e a programação ia de performances a apresentações do Grupo Galpão. O som que animava a pista era gravado em fitas cassete, com sucessos nacionais e internacionais.
Pode-se dizer que o Drosophyla foi um marco da vanguarda de Belo Horizonte. No mesmo prédio, pouco tempo depois, Miura Bellavinha abriu um ateliê, Graziela Falci um escritório e, por último, a Trincheira Vídeo se instalou.
O Drosophyla funcionava de quinta-feira a sábado, das 20h à meia-noite. O público sabia que era hora de ir embora quando Lili passava a galinha – um pote com barbante que, friccionado, fazia o som de cocoricó. “A partir daquele momento, eu não vendia mais nada. E a turma seguia para o Scaramouche, na Praça Raul Soares”, ela conta.
Em 1992, depois de passar três anos na Alemanha, Lili voltou a morar em Belo Horizonte. Abriu o terceiro Drosophyla num galpão na Avenida dos Andradas e fechou quatro anos depois.
As festas da casa eram famosas, atraindo muita gente de outros estados. Até os rapazes do saudoso Mamonas Assassinas se divertiram por lá. A primeira delas foi no Sacolão da Bianca, na Savassi.
Lili continua a história do Drosophyla em São Paulo – está há 20 anos na Consolação. A pandemia afetou o empreendimento. “Fechei o delivery, que não deu certo. Para sobreviver, fizemos uma destilaria de gim, Jardim Botânico, que deu certo”, informa.
Com fotos e vídeo em VHS, Lili guarda sua memorabilia com todo o cuidado. “Não tive filhos, o bar foi minha opção de vida”, diz ela, que não esconde o desejo de escrever um livro.