A noite de BH nunca mais oi a mesma. Graças a Deus
Fred Garzon
Empresário
Música. Religião. Futebol. Nossas grandes paixões. E de quase todo mundo no Brasil. Pode parecer estranho, nestes tempos de polêmicas e cancelamentos, mas foram eles que nos inspiraram a criar um dos bares mais icônicos da história recente de BH.
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Há 35 anos, nascia o vanguardista Drosophyla, que agitou a noite de BHPop Rock Café fez história na Savassi, recebendo shows de grandes bandasNos anos 1990, a noite de BH bombou no Bar Nacional e no Circuito Circo BarEsperança do setor de entretenimento em BH, Olympia fechou há 30 anosPraça da Estação e Metrô voltam à balada na sexta (1º/4) e no sábado (2/4)A partir daí, tudo fluiu naturalmente. Decidimos montar um lugar para nós mesmos. Sem firulas ou requintes. Um bar que teríamos prazer de verdade em frequentar. Convidamos duas amigas arquitetas, Adriana e Joana, para projetar e representar nossas ideias. A verba era curta, mas a vontade de fazer compensava tudo. Só faltava o lugar. E foi outro amigo, o Paulo, que um dia nos ligou, categórico: “Achei a casa”.
Rua Padre Odorico, 68. O endereço era ótimo. Um pouco escondido, mas perto de tudo. Casa antiga, mas muito charmosa. E o Paulo tinha razão, o lugar era perfeito. Ainda precisávamos de um nome, e foi o Léo quem teve a grande ideia. Uma expressão muito brasileira, falada diariamente, que representava tudo em que acreditávamos: Graças a Deus.
Com tudo pensado, só faltava executar. Ideias e referências não faltavam. As cores fortes vieram da visita ao Caminito, em Buenos Aires. Do interior de Minas, apareceram os fuxicos, que decoravam as mesas. De futebol, dezenas e dezenas de fotos, flâmulas, pôsteres e cachecóis, que cobriam as paredes. A religião era representada por estandartes, santos, orixás e oratórios. E a música estava em todo lugar. Fizemos um sistema que cobria todos os ambientes, sempre tocando sons brasileiros.
A inauguração foi quase escondida. Era uma quinta-feira, 20 de março de 2003. Convidamos apenas amigos próximos e familiares. Nada saiu do jeito que a gente queria, mas a noite terminou com uma certeza: ia dar certo. Nos dias seguintes, abrimos ao público e fomos chamando mais gente: conhecidos, amigos de amigos, conhecidos de amigos. Quando nos demos conta, já havia fila na porta.
O GaD, como era conhecido, se tornou um fenômeno. Sinônimo de boa música, cervejas, drinques e paquera. Foi adotado por centenas de pessoas, que viraram clientes e, logo depois, amigos. A música brasileira às sextas, o samba aos sábados (salve, Briga de Galo!) e o rock no domingo entraram para o calendário da cidade. Só quem viveu sabe.
O tempo voou e um ano se passou. Precisávamos marcar a data. Fizemos uma grande festa. Foi no Mix Garden, no Jardim Canadá, com a ilustre presença de outro grande amigo, o DJ e produtor carioca Marcelinho da Lua. A festa foi um sucesso. E também virou tradição. Sempre divertida, diferente, com o mesmo espírito do bar.
Vieram o reconhecimento, matérias em jornais, portais, revistas e TVs, prêmios de vários lugares – só o de melhor paquera da cidade, ganhamos cinco vezes. Mas tudo o que é bom um dia termina. Com a gente não seria diferente.
Em 8 de junho de 2013, o Graças a Deus fechou as portas. Nos três anos anteriores, conseguimos negociar com os proprietários, mas não teve jeito. Perdemos para a especulação imobiliária. No lugar do bar surgiu mais um prédio. Ficaram as lembranças, as amizades e as milhares de histórias vividas.
É impossível resumir o Graças a Deus em um texto. Se fosse um livro, ainda ficaria muita coisa de fora. Peço desculpas às pessoas que não entraram aqui. Foi falta de espaço. Mas tem uma turma que merece nosso agradecimento: Papaula, Fernanda, Bidu e Diego, Dudu Farah, Anselmo e Dida, Bruno Diniz, Camila, Briga de Galo, Juliano Mourão, Lu Bono, Neco, Léos, Dudus, Victor, Chicão e Zazá. Sem vocês, o GaD não teria sido o mesmo.