Vestidos brancos impecáveis. Saias rodadas, faixas na cintura. Capricho na maquiagem e nos cabelos armados e com tiaras, como ditava a moda na época. Aquela noite seria inesquecível para meninas que comemoravam seus 15 anos naquele baile. Depois de tanta espera, a emoção fez o coração disparar.
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Organizado pela Associação José do Patrocínio, criada em 1952 e que funcionou durante
Organizado pela Associação José do Patrocínio, criada em 1952 e que funcionou durante
12 anos, foi o único baile de debutantes de BH que, na década de 1960, reuniu apenas meninas pretas.
Realizado no Clube dos Oficiais, o evento ganhou as páginas da revista A Cigarra, dos Diários Associados, grupo ao qual pertence o Estado de Minas. Fotos e reportagem estão guardadas na Gerência de Documentação (Gedoc) do EM.
Realizado no Clube dos Oficiais, o evento ganhou as páginas da revista A Cigarra, dos Diários Associados, grupo ao qual pertence o Estado de Minas. Fotos e reportagem estão guardadas na Gerência de Documentação (Gedoc) do EM.
O texto desta página se baseou na observação das fotografias, datadas de abril de 1963. As imagens são o registro da festa, mas a revista não trouxe a identificação das meninas. Por meses, a coluna fez contatos, procurou informações, mas não foi possível – até agora – identificar as garotas. Se você conhece ou é da família de quem debutou naquele baile pode nos ajudar a contar essa história enviando e-mail para
cultura.em@uai.com.brO baile foi o primeiro organizado pela Associação José do Patrocínio, que funcionava na Avenida Brasil, 236, no bairro Santa Efigênia. Na dissertação de mestrado “Associação José do Patrocínio: Dimensões educativas do associativismo negro entre 1950 e 1960 em Belo Horizonte-MG”, Andreia Rosalina Silva informa que, naquela sede, “reuniam-se pessoas negras que, na sua maioria, eram escolarizadas e algumas com ensino superior”.
Além disso, a autora destaca: “Ainda que algumas das famílias que ali frequentavam apresentassem condições típicas de classe média, não tinham acesso a diversos espaços socioculturais da cidade de Belo Horizonte”. Nos jornais da época, houve registros do baile.
A coluna encontrou a costureira aposentada Natividade Bertolino, de 86 anos, que mora no bairro Urca, na Região da Pampulha. Ela não foi ao baile, mas frequentou a associação e destaca sua importância no combate ao racismo em BH.
“Para a mulher negra, tudo era muito difícil. Éramos criticadas, nos chamavam de negra do cabelo duro”, diz. “Comparadas ao passado, as coisas melhoraram, mas ainda não chegamos lá”, pondera Natividade, revelando que a entidade, “ambiente familiar”, oferecia cursos de formação profissional.
Há nove anos Liliane Barros Marty Caron organiza o baile Fadas Madrinhas, reunindo meninas carentes que estudam na rede pública e selecionadas por meio de concurso de redação. Entre elas há garotas pretas, brancas, adolescentes refugiadas e jovens abrigadas em casa de acolhimento. A próxima festa está marcada para 9 de agosto, no Clube Chalezinho. Interessadas em participar devem mandar sua redação, até 25 de maio, para o e-mail projetofadasmadrinhas1@gmail.com