Aderi Costa é, sobretudo, um otimista. O fotógrafo acredita que, apesar dos pesares, o futuro, especialmente da cultura, setor ignorado pelas políticas do governo federal, será melhor.
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O mineiro Aderi Costa é nome de respeito no mercado da moda e da publicidade. Ao completar 50 anos de carreira, ele tirou um tempo para projetos pessoais. “Um olhar para dentro”, resume, ao definir “Cais”. Há outras duas publicações em andamento. Em “Os bastidores da moda”, ele aborda, “por meio de um olhar investigativo”, esse universo glamouroso de forma realista. “Tenho mais de 10 mil fotos catalogadas de backstages de semanas de moda que cobri durante 10 anos”, revela. Já “Cabrais” mostra a região onde ele nasceu.
Por enquanto, “Cais” será lançado no Rio de Janeiro, São Paulo e Santo Antônio do Monte, sua cidade natal. BH ainda não está na agenda – há quatro anos ele não visita a cidade. “Saudades! Tenho na capital mineira um grande amigo, o pintor Miguel Ângelo Gontijo, e alguns familiares”, conta.
Há quase dois anos, conversamos sobre a pandemia. Por causa dela, o lançamento de seu livro foi adiado. De que forma esse período influenciou a edição final de “Cais”?
De certa forma, a pandemia reforçou a escolha das fotografias que compõem o livro. São imagens intimistas que revelam a beleza, a melancolia e o drama em cada situação retratada. As fotos foram feitas na região do Cais do Porto, no Rio de Janeiro, local bastante peculiar, cheio de contrastes entre passado e presente. Um lugar que recebeu judeus, espanhóis e ingleses, um dos primeiros a concentrar diversas raças e culturas.
A ideia inicial era publicar 130 imagens, resultado de mais de um ano de trabalho no seu estúdio. Há um fio condutor unindo as fotografias?
Fotografei 130 personalidades – atrizes e atores, músicos, modelos, jornalistas e esportistas. São 300 imagens em tons de preto, branco e cinza. A obra tem seu elemento de ligação na busca pelo interior da alma dos fotografados, retratando o sentimento presente em cada personalidade.
No início da pandemia, você fechou o estúdio por quatro meses. Mesmo assim, conseguiu manter o espaço, referência para o mercado publicitário, sem demitir funcionários. Como a crise da saúde influenciou a forma de administrá-lo?
No início, a administração foi em home office. Depois, implantamos todas as medidas exigidas pela vigilância sanitária no combate à pandemia: limpeza especial, funcionários com máscaras e face shields, testes de COVID, medição de temperatura e álcool em gel. A arquitetura do estúdio favoreceu nesse sentido, o espaço é bem arejado e amplo, com janelas grandes. Ainda no auge da pandemia, 2021 foi um bom ano. As pessoas se sentiam seguras no local, então a procura por locação aumentou bastante.
A paixão por fotografia vem da infância, no interior de Minas, sob influência do seu irmão, Paulo Costa. Que balanço você faz de sua trajetória?
São 53 anos dedicados à fotografia. Comecei aos 14. Quando tinha 16, era o único retratista da cidade de Santo Antônio do Monte. Fazia de tudo: batizado, casamento, baile de debutante. Para um menino que nasceu na comunidade de Cabrais, que pertence à cidade de Santo Antônio do Monte, alcancei um patamar profissional que não imaginava. Sou uma pessoa audaciosa e sonhadora. Sinto-me feliz, rea- lizado. Muitos desafios foram vencidos ao longo de tantos anos.
De Santo Antônio do Monte você veio para BH. Foi aluno do Teatro Universitário (TU) da UFMG, conquistou seu primeiro prêmio em concurso de fotografia do Foto Retes, casou-se e se mudou para o Rio. Como a cidade natal e a vida em BH o influenciaram?
Comecei a fotografar na minha cidade natal por influência do meu irmão (Paulo). Foi lá que a fotografia me iluminou para um novo mundo. Aos 19 anos, mudei-me para Belo Horizonte. Comecei a trabalhar numa loja de fotografia e depois em agência de publicidade. O período na capital foi muito importante. Em BH, me profissionalizei e fiz amigos.