Jornal Estado de Minas

HELVÉCIO CARLOS

Empresárias mineiras comprovam a importância da mulher no agronegócio

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Bruna Nunes Ferreira de Aguiar tem 32 anos, é arquiteta formada pela UFMG. Isadora Machado Caixeta Silva tem 33, Rafaela Machado Caixeta Silva, 32 –  a primeira é administradora de empresas, a segunda publicitária, ambas graduadas pela ESPM-SP. Maria Izabel Daura Botelho, de 36, é formada em administração e pós-graduada em gestão do agronegócio pela Fagen/UFU. Em comum, têm paixão pelo agronegócio e o mercado de investimentos.





O quarteto reconhece que a liderança no agronegócio e nas finanças é historicamente patriarcal, como ocorre em várias atividades econômicas. “Com mais de uma década de experiências profissionais anteriores, já somos familiarizadas com o desafio de provar que somos capazes para nossos cargos”, observa Rafaela Caixeta. “Em geral, somos recebidas com curiosidade por nossos dois públicos. Os clientes se surpreendem ao perceber que somos uma empresa formada 100% por mulheres, sem nenhum homem na gestão do negócio. É desafiador, mas a experiência está sendo positiva”, diz ela.

Rafaela e as sócias lançaram a Campo Capital P2P, plataforma de investimentos em ativos reais do agronegócio. De acordo com elas, é a primeira empresa brasileira peer-to-peer lending, que oferece soluções de investimento e crédito ESG para médios e grandes empreendedores rurais, fomentando o desenvolvimento do agronegócio sustentável.
 
 
Vocês vêm de famílias de cafeicultores. Qual é a posição da mulher no agronegócio?
Rafaela Caixeta – Este mercado está passando por uma grande transformação e ficamos muito felizes em acompanhá-la de perto. Cada vez mais, vemos mulheres assumirem a gestão das fazendas e dos negócios. Antes, a função da mulher se limitava ao papel social de esposa do agricultor, além de um CPF a mais na família para a tomada de financiamento rural nos bancos. Nos últimos tempos, elas foram assumindo as partes operacionais e administrativas das fazendas, funções que exigem certo detalhismo e os homens preferiam delegar. Em seguida, muitas passaram a se envolver com a adequação da fazenda a certificações socioambientais, ganhando confiança em sua capacidade de liderar a propriedade. Hoje, as mulheres estão se tornando especialistas em qualidade do café e conversando de igual pra igual com seus pares nas decisões estratégicas.





Há preocupação com a necessidade da sustentabilidade do agro?
RC – Sim. Hoje, principalmente com a entrada da segunda ou terceira geração na liderança das fazendas familiares, vemos a profissionalização da administração, com gestão de fato empresarial. Com essa estrutura organizacional, todas as iniciativas de aproveitamento de recursos são bem-vindas, sejam recursos naturais, humanos ou financeiros. Isso vem ao encontro da sustentabilidade socioambiental. Está tudo interligado: a gestão da sustentabilidade mitiga os riscos tanto da volatilidade de preços de compra e venda de produtos do setor agrícola quanto de fatores externos. Por exemplo, com a guerra entre a Rússia e Ucrânia, os preços dos adubos químicos dispararam. A crise abriu portas para a adaptação das fazendas ao controle de pragas com o uso de insumos biológicos, disponíveis no próprio bioma e facilmente multiplicáveis.

Como a plataforma pode colaborar para tornar o setor cada vez mais sustentável?
RC – Por meio do investimento, qualquer brasileiro pode ser fiscal da propriedade que financia, já que pode acessar os dados de regulação legal da fazenda em tempo real e receberá relatórios periódicos da Campo Capital. No contrato firmado entre a Campo e o tomador de crédito, existe uma cláusula em ele se compromete a manter seu score de sustentabilidade, com risco do rompimento do contrato caso descumpra. Além disso, quanto mais sustentável é a fazenda, menores as taxas de juros oferecidas para o produtor rural, o que o estimula a percorrer uma jornada sustentável ascendente. Com a visibilidade que o produtor rural e sua fazenda/marca recebem ao ficar na vitrine para investidores, o benefício reputacional é percebido. O agro responsável é carente de reconhecimento dentro e fora do Brasil, a Campo Capital é uma forma de quebrar generalizações em relação à classe rural. Nossa missão é ser um clube ao qual todo empreendedor rural e todo investidor pessoa física desejem pertencer.

Que vantagens o agricultor e o investidor encontram na plataforma criada por vocês?
RC – Para o investidor, o grande diferencial é a rastreabilidade. Você sabe em quem está investindo e qual o propósito do financiamento, acompanhando essa jornada até o final da operação, por meio de inteligência artificial, satélite e pelo recebimento de relatórios elaborados por nós de forma didática, para que mesmo quem não tenha familiaridade com o agro entenda os movimentos estratégicos da fazenda e se sinta participante do trabalho rural por meio da alocação de seu investimento. Essa rastreabilidade já é tendência entre os produtos de consumo. Ficamos felizes em poder oferecer a mesma transparência a um produto de investimentos ESG para a pessoa física, com isenção de imposto de renda, garantias na própria safra e aval dos sócios. Conseguimos aliar rentabilidade a um alinhamento com os valores pessoais do investidor. Já para o produtor rural, o nosso diferencial é o reconhecimento das boas práticas, o que resulta em desconto na taxa de forma progressiva – classificamos as fazendas em três níveis de sustentabilidade e, quanto mais alto seu score, menor a taxa de juros da operação. Além do bônus financeiro, oferecemos um benefício reputacional ao divulgar suas práticas ESG aos investidores, que muitas vezes se tornam clientes. Tudo isso com relacionamento diferente do que costumam encontrar nos bancos, pois não fazemos vendas casadas, as chamadas reciprocidades, e oferecemos transparência na cobrança das taxas, algo não tão comum no mercado de crédito tradicional.





O mundo passa por mudanças radicais. Como elas afetam o agronegócio?
RC – A era da informação definitivamente chegou ao campo, de várias maneiras. As fazendas estão informatizadas, tendo mais acesso a dados qualificados que permitem monitorar e tomar decisões mais acertadas, fazendo uso de diversas tecnologias na condução das lavouras. Toda essa profissionalização do campo ajuda a mitigar mudanças que não são bem-vindas, como as mudanças climáticas e a inflação persistente. Tudo isso afeta a forma como o consumidor final pode perceber o agro, pois com a possibilidade de coletar dados a todo momento, pode-se oferecer rastreabilidade a toda a cadeia do agronegócio. Essa forma de produzir com governança é vista com bons olhos tanto por consumidores quanto investidores nacionais e internacionais, principalmente com o amadurecimento da geração Z, que procura consumir produtos alinhados aos seus valores.