Desde a adolescência, Sandra Campos, como centenas de pessoas que admiram a arquitetura de Belo Horizonte, é fascinada pelo estilo do Cine Brasil, sem contar sua importância para a história cultural da capital mineira. Hoje, Sandra é responsável pela gestão do espaço, que foi reformado há quase uma década e agora comemora 90 anos.
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Nesta quarta-feira (15/6), o concerto “Música de cinema”, com a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, marca o aniversário do Cine Brasil.
“Estamos trabalhando para continuar sempre presentes no coração da cidade, irradiando mensagem de paz, de alegria e cidadania cultural para todos”, afirma Sandra.
A programação prossegue em 20 de julho, com apresentação do Coral Lírico de Minas Gerais em frente ao Cine Theatro Brasil Vallourec, na Praça Sete, e em 29 de julho, quando a Sinfônica volta a executar temas do cinema. Coral e orquestra são ligados à Fundação Clóvis Salgado.
Qual é o significado histórico dos 90 anos do Cine Theatro Brasil Vallourec?
Celebrar os 90 anos do Cine Brasil é muito importante, porque se refere à celebração e ao reconhecimento de importante patrimônio da cultura de Belo Horizonte e de Minas Gerais. O Cine Brasil é um dos primeiros espaços de cultura da cidade, sua trajetória está estritamente ligada à história da nova capital. A construção do Cine Brasil demarca o processo de metropolização de BH, além de ocupar importante papel na memória dos belo-horizontinos, de seus hábitos culturais e do imenso prazer de ir ao cinema, desde os anos 1930. Reconhecer a importância da data de aniversário do Cine Brasil é valorizar a própria história de Belo Horizonte.
Em 2023, vão se completar 10 anos da reabertura do Cine Theatro Brasil Vallourec, depois de sete anos de reformas. Desde então, como ele vem contribuindo para a cultura em BH e no estado?
Primeiramente, é importante destacar a importância da restauração do Cine Brasil. O prédio que sedia esse patrimônio cultural foi integralmente restaurado, respeitando-se suas características originais, valorizando, assim, a beleza de sua arquitetura e resgatando a memória da influência do estilo art déco sobre Belo Horizonte. A restauração permitiu sua nova ocupação como centro cultural dinâmico e contemporâneo, que se faz presente na agitada agenda da cidade. Alcançar quase uma década de atividades após sua reinauguração e se consolidar como uma das referências em difusão da arte e da cultura para os mineiros demonstra a relevância do Cine Brasil para todos os cidadãos belo-horizontinos e seu imperioso papel de guardião da memória coletiva.
A pandemia representou um enorme desafio de sobrevivência para o setor cultural. Já é possível respirar aliviado?
Um legado coletivo que percebo desta pandemia é a conscientização que se consolida de sempre nos preocuparmos com a saúde de todos e buscar, incansavelmente, todos os esforços para promover a segurança e o bem-estar das pessoas, especialmente quando são realizados eventos em espaços vivenciados coletivamente. Acredito que já alcançamos o momento de respirar com certo alívio para promover experiências de encontro e reencontro das pessoas no entorno de grandes espetáculos. Após vivenciarmos momentos difíceis trazidos pela pandemia, hoje podemos celebrar a expansão da vacina, que se efetivou como caminho seguro para resgatar os afetos e o direito de ir e vir pela cidade. Assim, entendo que estamos retornando para o desejável cotidiano de frequentar espaços culturais com segurança e com a consciência da importância de cuidar da saúde, tanto no campo pessoal como na instância coletiva. A arte está de cortinas abertas para nos receber e, novamente, nos levar para o bem-estar emocional e social.
Desde o início das atividades do Cine Theatro Brasil Vallourec, em 2013, com a exposição “Guerra e paz”, de Portinari, houve preocupação com a qualidade da programação de artes plásticas, teatro e música. A parceria com a Fundação Clóvis Salgado será ampliada para além do concerto desta quarta-feira?
O Cine Brasil vem se consolidando como importante polo promotor da arte e da cultura no país. Nossa programação sempre se pautou pela busca da excelência artística e o desejo de promover experiências transformadoras para os frequentadores. Para celebrar seus 90 anos, o Cine Brasil se uniu em parceria com a respeitada Fundação Clóvis Salgado, através de sua presidente, Eliane Parreiras, para ofertar ao público o melhor de nossas produções. Acreditamos que o trabalho em rede das instituições culturais, construído no espírito de parceria, renderá excelentes frutos artísticos em benefício de toda a sociedade. Essa relação, que já ocorre há algum tempo, é bem fortalecida, demonstrada especialmente na programação de aniversário dos 90 anos do Cine Brasil, que contará com outras ações ao longo de 2022.
Qual foi, para você, o momento mais emocionante desde a reabertura do Cine Brasil?
Evidentemente, gerenciar uma casa de espetáculos é, na verdade, vivenciar grandes emoções. A arte sempre nos emociona. Seja ela expressa em uma canção de show musical, em um roteiro de uma peça de teatro, em uma exposição, na fala de um artista. Várias são as experiências que nos tocam em um centro cultural. Contudo, considerando todo o tempo que trabalho com cultura, destaco como minha maior emoção a reabertura dos espaços culturais após o contexto da pandemia. Ficar um longo tempo com as portas fechadas, sem receber plateia e artistas em nossas dependências, certamente, foi profundamente triste e agravante. Por isso, celebrar com uma grande orquestra os 90 anos do Cine Brasil não se resume ao reconhecimento deste patrimônio. É, na verdade, o verdadeiro grito de liberdade e alegria de se aplaudir toda forma de genialidade do gênero humano. Viva a arte! Viva o reencontro com a arte.!