(none) || (none)

Continue lendo os seus conteúdos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/mês. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas HELVÉCIO CARLOS

Projeto artístico voltado para crianças surdas completa 25 anos

Wilmara Marliére, criadora do Céu e Terra, enfrenta dificuldades físicas e econômicas, mas segue firme na luta pela inclusão


20/06/2022 04:00 - atualizado 20/06/2022 00:23

Bailarina Wilmara Marliére dança usando colar cervical
Colar cervical é o "companheiro de palco" da bailarina Wilmara Marliére (foto: Acervo pessoal)
 

 

''Quero estar muito bem e aprender sempre''


Os últimos sete anos não foram nada fáceis para a professora e bailarina Wilmara Marliére. Em 2015, ela foi atacada por um pastor alemão e, por recomendação do neurocirurgião, só pode dançar com o colar cervical. No início da pandemia, tomou tombo em casa, fraturou a coluna torácica e, desde então, usa colete. Teve COVID-19 e síndrome metabólica.

“Fiquei muito mal. Eles tiveram que controlar a inflamação para não atingir o cérebro. Agora estou fazendo fisioterapia, pois tenho de trabalhar a força motora e aliviar as dores. Quero voltar ao palco e dançar 'A morte do cisne', se Deus quiser!”, afirma, contando que o grande apoio vem da família.

Wéberty Marliére, a bailarina Wilmara, mulher dele, e a filha, Maria Clara, posam para foto abraçados e sorrindo
Wilmara com o marido, Wéberty Marliére, e a filha Maria Clara, que a apóiam em tudo (foto: Acervo pessoal)
“Amo minha filha Maria Clara, que sofreu muito com tudo isso. Meu marido Wéberty Marliére, a pessoa que esteve sempre ao meu lado, é um anjo. E minha irmã, Meiry de Paula, está do meu ladinho”, diz. Wilmara tem outra paixão: o Projeto Céu e Terra, criado por ela há 25 anos e voltado para crianças surdas. “Amo o que faço, amo ajudar. Amo ver uma criança sorrir e perceber que transformei a vida dela”, afirma.

Qual é o balanço dos 25 anos do Projeto Céu e Terra?
Me sinto muito realizada em relação a todos os trabalhos que desenvolvemos. Eu, Meiry de Paula e Wéberty Marliére fizemos diversos espetáculos. Tivemos a oportunidade de levar o surdo a palcos de grande audiência, como na Hebe Camargo. Pudemos mostrar à sociedade a capacidade do surdo. O Céu e Terra veio valorizar o surdo, fazer um trabalho de inclusão de surdos e ouvintes. Pude provar que a técnica que criei deu resultados positivos na vida de muitas pessoas. Muitos que passaram por aqui, com certeza, foram transformadores de sua história e, consequentemente, da história de outras pessoas. Valeu – e vale – a pena.

Na primeira matéria publicada no Estado de Minas, há 25 anos, eram oito crianças atendidas no início do projeto. Você as acompanha até hoje?
Muitas delas voaram alto. Bem alto! Algumas fizeram faculdade, têm suas convicções, são independentes, se casaram, construíram família. Um orgulho pra mim. Estive conversando com Brunna Duque, que entrou (no projeto) com 12 anos. Ela já estava maior, com isso os resultados de melhora nos exames auditivos não seriam tão esperados. Mesmo assim, Brunna se desenvolveu muito. Dançou um solo no Teatro Casanova, foi perfeita. A estimulação fez um trabalho incrível naquela menininha tímida. Ela já fez faculdade, tem bom emprego, casou-se e é uma pessoa muito feliz. Converso com várias participantes do projeto. É bom manter esse contato, saber como elas estão. Lógico que o projeto não faz milagres. Mas ele ajuda, sim, a mostrar o caminho onde a inclusão pode acontecer através da arte, da ciência e do amor. Os resultados estão aí! Fico muito feliz por isso.

Como você desenvolveu o método de balé para surdos?
Inicialmente, ele foi idealizado em cima das minhas necessidades. Também tive perda auditiva e vi a necessidade de criar um método para que nunca na vida eu ficasse sem dançar como as outras bailarinas. Então, testei vários tipos de sons. Fui testando em mim e vendo os resultados. Alumínios, ferros galvanizados em combinação com caixas de som, etc. Tudo era anotado, estudei durante um bom tempo. Participei de congressos de distúrbios de aprendizagem, fiz vários estudos na área acústica. Sou professora, bailarina profissional, coreógrafa e maître. Antes da quarta cirurgia, em 2012, fiz mais cursos de dança em Joinville, que melhoraram meu currículo no mundo da dança. Se Deus quiser, quero voltar lá e fazer mais cursos. Quero estar muito bem e aprender sempre.

Atualmente, o projeto oferece aulas de violão para cegos. Há outros planos?
O violão para cegos começou no ano 2000 e atende também o público em geral. É um trabalho de inclusão muito lindo. Nos espetáculos, violonistas tocam com o músico Wéberty Marliére e a plateia aplaude de pé. O mais bonito é ver o entusiasmo dos violonistas no dia do espetáculo. Não tem experiência mais gratificante. A técnica foi criada pelo Wéberty Marliére, que atende surdos nas aulas de violão. Estamos começando a incentivar o canto. Esta é a novidade.

Como funciona o Céu e Terra, que há 25 anos tem apoio do Colégio Arnaldo?
Estamos fazendo aniversário com o coração emocionado. Principalmente eu, que tenho uma gratidão que não consigo mensurar. Somos uma equipe: criei o projeto e hoje estou na coordenação geral como voluntária. Meiry de Paula é responsável pelo balé. Wéberty Marliére é responsável pelas aulas de violão. Estou no Colégio Arnaldo desde 1992, entrei lá como professora de ensino religioso e criei o Ballet Encantado. Em 1994, tudo mudou em minha vida quando foi descoberta a síndrome de Arnold-Chiari. Daí para a frente, seis meses no hospital, três cirurgias. Em 1997, dei início ao Céu e Terra. E o Arnaldo, que me ajudou tanto, trouxe o projeto para o colégio quando adoeci. Em 2012, fiz a quarta cirurgia. E estamos aqui até hoje. Tem como não ser grato? Tem como não se emocionar? Quando passo pelos corredores do colégio, tenho a sensação de pertencimento. Sem o Arnaldo, não sei se teria ido tão longe.

Quais são as dificuldades para manter o projeto?
Não é fácil, pois não temos apoio nem da prefeitura e nem do estado. Dependemos de leis de incentivo. No momento, nosso projeto está aprovado na Lei Rouanet. Não conseguimos captar a totalidade do recurso, o que dificulta a nossa manutenção, mas graças à empresa Raja Aluguel de Veículos, que vem nos incentivando dentro de suas possibilidades, temos apoio. Embora sem atingir, até o presente momento, a totalidade do valor disponível para captação. Somos muito gratos à Raja pelo patrocínio. Precisamos muito de empresas que queiram conhecer nosso trabalho e nos patrocinar. Temos um projeto lindo, que mudou a trajetória de muitas pessoas. Cerca de 1 mil crianças já passaram pelo Céu e Terra. Agradeço a Deus por tudo isso.

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)