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Mineiro integra liga internacional de fotógrafos a favor da conservação

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O fotógrafo mineiro João Marcos Rosa é reconhecido pelo seu trabalho com o meio ambiente. Em 20 anos dedicados à fotografia ambiental, lançou seis publicações.

"O livro ‘Harpia’, um documentário fotográfico que começou como uma reportagem para a ‘National Geographic’ em 2004 e em 2010 se materializou nesta obra que conta a história dessa incrível águia tropical. O livro ‘Jardins da Arara de Lear’, que publiquei junto com o escritor Gustavo Nolasco, em 2018, também foi um divisor de águas na minha carreira", aponta.



"Conseguimos nessa obra reunir a história de homens e araras na mesma jornada, mostrando que um não existe sem o outro. Trabalhar esse tema em meio ao sertão do Raso da Catarina me fez enxergar a natureza de uma maneira muito mais integrada", diz ele, que está amadurecendo um projeto sobre as araras das Américas. 
 
"Um livro que aborda a beleza e a representatividade dessas aves para esse sentimento tropical que une diversos países. Uma ode às araras que colorem nossas florestas e cumprem papéis muito importantes nos ecossistemas que habitam", antecipa o fotógrafo, que construiu a carreira ao lado dos sócios na Nitro Histórias Visuais, agência de fotografia que hoje é uma produtora multimídia.

Parte do acervo pode ser acessado pelo site da produtora. Trabalhos recentes de João estão em seu perfil no Instagram (@ joaomarcosrosa). "Fica difícil contabilizar quantas fotos e horas de filmagem foram produzidos durante toda essa jornada. Foram centenas de expedições por mais de 20 países e incursões pelos quatro cantos do Brasil. É muita poeira no olho nessa caminhada."



Fotógrafo flagrou bote de onça-pintada em jacaré no Pantanal mato-grossense (foto: João Marcos Rosa/Divulgação)


O trabalho de João Marcos Rosa foi reconhecido, e ele acaba de ser escolhido para fazer parte da Liga Internacional dos Fotógrafos pela Conservação (ILCP). É o segundo brasileiro selecionado pelo grupo, que reúne os principais nomes mundiais da fotografia e cinema de natureza. 

O que significa ser o primeiro fotógrafo mineiro entre 190 profissionais de 30 países que integram a ILCP? O que isso acrescenta à sua carreira?  

Primeiro, eu sinto uma enorme honra por estar ao lado de grandes fotógrafos que há décadas contam a história natural do seu planeta e batalham por sua proteção. E fico muito feliz pelo reconhecimento da minha trajetória de mais de 20 anos dedicados à comunicação ligada à conservação do meio ambiente.

E com tudo isso vem agora a responsabilidade de representar Minas Gerais e nosso país nessa entidade, lutando para que as questões ambientais do nosso estado e do Brasil possam ecoar por todo o mundo e trazer mudanças positivas para a nossa realidade.





Como foi receber a aprovação na Liga, quatro anos depois da sua primeira tentativa?

Foi uma grande emoção. Estar ao lado dos profissionais que são as grandes referências para mim é uma honra imensa, assim como a responsabilidade que vem com ela.

Participar dessa entidade ao lado de fotógrafos como Frans Lanting, Cristina Mittermeier, David Doubilet, Luciano Candisani, entre outros, fortalece o sentimento de que estou no caminho certo e que minha voz e minhas imagens estão atingindo seus objetivos.
 
Seus primeiros trabalhos foram publicados aqui no Estado de Minas, com a série “Parques de Minas”. De lá pra cá, qual a evolução do seu olhar como fotógrafo para o meio ambiente? O que mudou em você e na relação da sociedade civil com o meio ambiente?

Sim, meus primeiros trabalhos publicados ligados ao meio ambiente foram publicados no antigo Estado Ecológico e foram muito importantes para que eu pudesse perceber que estava trilhando o caminho certo.



Desde então, acredito que esse tempo todo de estrada e que ter conhecido tantas histórias pelo caminho me fizeram enxergar o mundo de uma forma integrada, fazendo com que minha abordagem sobre os assuntos ambientais tivesse uma pegada que mostra como estamos todos conectados aos impactos ao meio ambiente.

Nos anos 2000, havia muitas publicações especializadas. Hoje, nem tanto. Qual o caminho para um fotógrafo como você, com seu trabalho de apoio à conservação do meio ambiente?

Houve uma transformação brutal na nossa forma de nos comunicar e na forma como consumimos a informação. O fato de eu ter vivido no início da minha carreira a transição, tanto para a fotografia digital como para os meios de comunicação também digitais, me mostrou que ambos têm sua importância e que atuam de forma complementar.

Então, mesmo estando conectado a veículos de comunicação exclusivamente digitais e às redes sociais, ainda sigo acreditando e constatando a força de um trabalho impresso, seja num livro, numa revista ou mesmo em uma exposição.





Aos 15 anos, inspirado pelo seu avô, João Rosa, que é de Itabira, você começou a fotografar. Ao longo dessa trajetória, o que você lembra de marcante e especial? 

Acho que o momento em que tive o primeiro contato com a câmera fotográfica foi muito marcante. Aprender a enxergar e reparar no mundo olhando por aquele visor mudou a minha vida.

E, com os olhos no visor da câmera, pude viajar pelo mundo, registrando e dividindo histórias. Num dos documentários mais densos que produzi sobre as harpias, maiores águias das Américas, pude acompanhar, numa plataforma a 35 metros de altura no alto de uma castanheira, o primeiro dia de um filhote após sair do ovo. Observar e fotografar esse momento no meio da floresta amazônica foi um imenso privilégio.

Outro momento marcante foi presenciar o ataque de uma onça-pintada a um jacaré no Pantanal mato-grossense. Fotografei desde o momento em que ela avistou o jacaré, sua aproximação, o salto para a água e o momento quando ela emergiu com as presas em meio ao pescoço de sua presa. Presenciar uma cena como essa mostra para a gente a força da natureza de uma forma muito evidente.




 
Como você vê o futuro do planeta, que cada vez mais sofre com a destruição do meio ambiente? Você tem esperança ou acredita que só um milagre pode nos salvar?

Eu ainda acredito em uma mudança, em um nível de convivência mais harmônica com a natureza. Mas, vivendo em Minas Gerais, mais especificamente no Quadrilátero Ferrífero, fica difícil crer que teremos uma mudança.

A indústria da mineração, por exemplo, poderia ser feita de forma muito menos impactante em todos os sentidos, e o estado poderia e deveria estar ao lado de sua população, não de interesses econômicos de curtíssimo prazo.

Hoje, essas grandes corporações, ligadas à leniência dos governos, não conseguem enxergar que o mal que estão fazendo os atinge e a todos os que eles amam. Mas a minha escolha é a de seguir lutando para mostrar que podemos alterar essa rota de destruição que vivemos atualmente.