A memória de Baby Mesquita será reverenciada na próxima sexta-feira (18/11), com “Flores de coragem, potência de vida – Baby Mesquita”, no Teatro Marília. O roteiro traz momentos importantes da trajetória da Mimulus Cia. de Dança, com espetáculos criados de 2003 a 2018. A noite será encerrada com um baile no foyer do teatro.
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Na entrevista a seguir, Jomar fala sobre o legado de Baby para a companhia e para a cultura em BH.
O que Baby Mesquita representou para a cultura de BH?
Antes de mais nada, minha mãe foi uma pessoa muito generosa, lutando e trabalhando pelas artes e pela cultura durante mais de três décadas. Buscou criar melhores condições de trabalho para artistas e técnicos – não somente da Mimulus – em detrimento de seu tempo livre e rendimentos financeiros. Ela foi fundadora, diretora, produtora, “mãe” e figurinista da Mimulus Cia. de Dança desde seus primórdios, na década de 1990. Psicóloga e pedagoga, mas essencialmente criadora genial, produziu todas as ações da Mimulus. Criou projetos e deu suporte e apoio incondicional para a permanência, a existência e a resistência da companhia. Sua cabeça não parava de pensar, ter ideias, de buscar formas para permanecermos em movimento, criando. Algumas vezes, eu perguntava: “Mas nós temos dinheiro para isso?”. Ela dizia: “Dinheiro é energia… Volta, vai aparecer”.
Como ela desenvolveu esse trabalho aqui em BH?
Minha mãe, antes do trabalho com a cultura, foi uma das pioneiras em desenvolver a criatividade profissional em empresas no Brasil. Foi presidente da Associação Dança Minas. Durante 22 anos, presidiu a Associação Cultural Mimulus, que, além de possibilitar a estrutura para o funcionamento da Mimulus Cia. de Dança, tornou-se responsável pela realização de importantes ações educativas de formação artística e técnica, intercâmbios com outros grupos e profissionais, atividades de formação de público, intervenções urbanas, apresentações para a rede pública de ensino e palestras para empresas, entre outras atividades.
São 30 anos da Mimulus Cia. de Dança e 32 da Mimulus Escola de Dança. O que esse legado representa para BH?
É muito difícil falar do nosso próprio trabalho sem parecer arrogante. Mas quando isso está registrado em inúmeras reportagens e críticas escritas por especialistas, além de livros e pesquisas de mestrado, pelo menos ficamos um pouco mais confortáveis em dizer. A Mimulus transformou a cultura das danças a dois em Belo Horizonte, além de influenciar o resto do país. Trouxemos novos olhares, introduzimos três danças que não eram ainda conhecidas no Brasil, fomos pioneiros em iniciativas marcantes para a melhor formação de dançarinos, bailarinos, professores e técnicos. Uma de nossas marcas mais importantes foi a linguagem que a companhia criou e desenvolveu, influenciando diversos outros grupos ao levar as danças de salão para os palcos de forma totalmente diferente do que existia antes. Com isso, a Mimulus se tornou referência, inclusive internacional. Levamos o nome de Belo Horizonte para templos da danca mundial, passando por mais de 80 cidades e 14 países. Recebemos aqui na nossa sede pessoas de todas as regiões brasileiras, da Europa, EUA e outros países da América. Somos a única companhia profissional estável que trabalha com as danças de salão.
O que o público vai encontrar na exposição/espetáculo/baile “Flores de coragem”?
A exposição de parte do acervo de figurinos reúne grandes momentos da trajetória da Mimulus, com peças que fizeram parte de oito espetáculos da fase profissional da companhia, criados entre 2001 e 2018. No dia 18, o espetáculo traz coreografias de sete espetáculos do nosso repertório, ampliando a exposição de figurinos também para o palco. O final da apresentação leva o público ao foyer, onde todos serão convidados a dançar em um baile para celebrar a vida e a arte de Baby Mesquita.
Como é para você, filho de Baby, revisitar toda essa história?
Desde que a escola completou 25 anos, já tínhamos o desejo de registrar nossas memórias em livro. Agora ainda mais… Mas não é fácil remexer nas lembranças. Acabam de se completar 15 anos da morte do meu pai, fundador da Mimulus ao lado da minha mãe. São lembranças de família que se misturam com as profissionais, saudades, orgulho, vitórias, derrotas, alegrias. Milhares de pessoas passaram por essa história e ajudaram a construí-la, tornando-se parte do que minha mãe chamava de família Mimulus. O movimento para organizar a exposição foi a primeira ação para tornar públicas nossas memórias, que, aliás, recobrem também as paredes do nosso galpão, no Prado. Trata-se de uma ação de preservação da memória da dança em Belo Horizonte. A exposição de figurinos era desejo antigo da minha mãe, o que me deixa ainda mais realizado e seguro de que ela está, de alguma forma, feliz e nos acompanhando.
Seu processo de criação sempre contou com a presença de Baby. Qual é a influência que ela deixou para os próximos trabalhos?
Em primeiro lugar, resistência e coragem para seguir trabalhando com arte, com dança. Aliás, mimulus é a flor conhecida como a planta da coragem… Esta é a razão do nome, escolhido por Baby, um dos vários preciosos legados que ela nos deixou. Outra influência é a ética na execução dos projetos e na relação com nossos patrocinadores e parceiros. E há também os sonhos!
Qual é o futuro da dança de salão?
Ocupar cada vez mais lugares de pesquisa, educação, colaboração e experimentação, como minha mãe sempre quis e trabalhou para tornar possível. Sem deixar de lado o lazer, a socialização e o prazer de estar abraçado dançando. É uma ferramenta essencial de conexão entre dois corpos que dançam juntos, nestes tempos de tanta desconexão física.