Jornal Estado de Minas

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Centenário de Mário Bhering é comemorado com lançamento de livro

O mar tem forte presença na obra do pintor Mário Bhering (foto: Acervo pessoal)

 
Se estivesse vivo, Mário Bhering estaria completando 100 anos. Para comemorar a data, foi lançado livro com aquarelas pintadas pelo enngenheiro, artista e fundador do Centro da Memória da Eletricidade no Brasil – Memória da Eletricidade, no Rio de Janeiro.




 
A publicação reúne os principais trabalhos dele, selecionados pelo professor Márcio Sampaio, especialista na obra de Bhering.
 
Presidente do Centro da Memória, Augusto Rodrigues afirma que a entidade, fundada em outubro de 1986, “é o resultado da obstinação de um homem de criar instituição capaz de aglutinar histórias e de pensar o amanhã”.
 
Segundo ele, “Mário Bhering não usou apenas sua cabeça de engenheiro para projetar a existência da Memória da Eletricidade. A paciência do pescador e a sensibilidade do pintor também deram o tom, o que faz da instituição um espaço de saber na multiplicidade no conhecimento humano, incluindo a dimensão da arte e da cultura”.
 
O engenheiro belo-horizontino também presidiu a Cemig e a Eletrobras, foi diretor de Furnas. Letícia Bhering, filha dele, destaca nesta entrevista a personalidade multifacetada do pai: técnico, artista plástico, ambientalista, apreciador da música e humanista.




 
 
 
O que representa para você e sua família a edição do livro dedicado ao centenário de Mário Bhering?
Surpresa, emoção e reconhecimento. Comemoração de 100 anos de uma existência, a homenagem da Memória da Eletricidade tem significado único. A preservação de sua memória profissional referente à contribuição dada ao setor energético deste país, além da memória afetiva, das relações, dos vínculos firmados durante sua trajetória de vida nas mais diversas áreas em que ele se fez presente.
 
Quem foi Mário Bhering?
Falar sobre ele nunca será fácil para alguém da família sem mergulhar em uma onda de emoção. Sábio e multidisciplinar, ele gostava da vida e de viver, dos aspectos mais simples aos mais complexos, sempre tendo como norte o senso ético e o caráter inabalável. Um humanista, cientista e ambientalista. Nos ensinou sobre a grandeza e os mistérios do universo, das galáxias. Abordava com entusiasmo questões filosóficas, sempre se preocupou com a sustentabilidade e os recursos naturais do nosso planeta. Foi o precursor das estações ecológicas nas usinas hidrelétricas. Amante das artes plásticas, se dedicou à pintura em aquarela, foi aluno de Fayga Ostrower e John Pike. Tinha especial admiração por pintores como Guignard e Portinari, os ingleses Turner e Constable e os americanos Hopper e Wyeth. Fez exposições, incentivou e inaugurou as galerias de arte das sedes da Eletrobras, Furnas e da Cemig. Moderno, eclético e contemporâneo, suas preferências musicais iam do clássico a Tom Jobim e Piazzolla, Caetano e Joss Stone.

Você trabalhou com seu pai, definindo temas das aquarelas dele. Como era essa vivência?
Ele apurou meu olhar para o belo, meu senso estético. Algumas vezes, ele me chamava ao finalizar uma aquarela ou para dar minha opinião sobre a composição, proporções. Era um orgulho para mim, mesmo que ele não seguisse minhas orientações. Nas minhas viagens, ao fotografar, ficava atenta a algum enquadramento, à luz que ele poderia gostar. Foi assim que comecei a interferir nos temas de suas pinturas, com conchas, folhas, vestígios que o mar trazia para a areia da praia.





Entre as aquarelas, chama a atenção “Descarga de rotor da turbina de Itaipu”, usina que seu pai ajudou a construir. Você se lembra da construção de Itaipu?
Logicamente, sabíamos da dimensão do projeto, mas acompanhamos a distância as negociações entre os dois países (Brasil e Paraguai). Eu me lembro da nossa primeira viagem em família para ver a obra, que já estava bem adiantada, a maioria das turbinas já instalada. O volume de água impressionava.
 
Aquarela de Mário Bhering (foto: Acervo pessoal)
 

De todos os trabalhos deixados por ele, qual é o seu preferido?
Não existe um preferido, pois teria de escolher o que mais gosto entre os temas abordados, e este, o preferido, não seria selecionado apenas pela beleza estética, e sim pelo momento em que foi produzido, pela memória afetiva que envolvia a obra.

Qual é o legado de Mário Bhering?
Um profissional, um técnico respeitado que se dedicou de forma séria, ética e profissional à causa do desenvolvimento do setor energético do país, sempre respeitando e minimizando os impactos desse desenvolvimento no meio ambiente.