Ano começou e, com ele, a agenda de 2023. No audiovisual, o calendário será aberto com a 26ª edição da Mostra de Cinema de Tiradentes, de 20 a 28 de janeiro. A seleção inclui 134 filmes – longas, médias e curtas – em pré-estreias e mostras temáticas, de 18 estados brasileiros. "Trata-se de um empreendimento audiovisual de Minas Gerais para o Brasil e o mundo, que reúne as manifestações da arte numa programação cultural abrangente oferecida gratuitamente ao público", resume Raquel Hallak, coordenadora-geral da Mostra.
"Numa iniciativa inédita irá promover o 1º Fórum de Tiradentes – Encontros pelo Audiovisual Brasileiro, com o propósito de reunir atores de diversos segmentos do audiovisual brasileiro para o diagnóstico dos pontos críticos da atividade e a construção de balizadores para a formulação de novas políticas públicas, tendo por atenção prioritária o fortalecimento das cadeias produtivas regionais e garantias para a diversidade de expressão", antecipa Hallak.
E a terceira é uma ampla avaliação das políticas públicas que foram responsáveis por um rico ciclo da cultura. Rever a participação do setor cultural na economia brasileira, a participação de setores da sociedade nas políticas públicas.
Devolver o papel central da cultura como área fundamental de apoio e estímulo à diversidade de manifestações culturais do povo brasileiro, tanto como meio para assegurar o mais amplo acesso aos bens e serviços quanto de instrumento indispensável ao fomento da produção cultural e à promoção de uma economia da cultura, como estratégia fundamental de desenvolvimento social, humano e econômico para o país.
O conceito de “Cinema mutirão” tem por objetivo chamar para o debate todos aqueles e aquelas que queiram colaborar para construir uma base sólida para a construção e reconstrução do audiovisual brasileiro. O cenário dramático dos últimos cinco a seis anos não impediu a resiliência de quem buscou alternativas à sobrevivência e procurou não abrir mão das suas conquistas anteriores, ainda que insuficientes ou ameaçadas.
Muitos grupos de lugares diferentes e de campos artísticos distintos (dança, música e teatro) se uniram para fazer audiovisual com os recursos dos editais emergenciais da Lei Aldir Blanc, que, no seu caráter abrangente e flexível, trouxe algumas inovações nas obras, na forma de mobilização do setor e na elaboração de uma política pública em contexto adverso.
Aproveitando-se do bom momento, a dupla de realizadores se insere ainda num cenário de emergência de universidades e da invenção de modos de produção e trabalho pensados e praticados numa hierarquia mais fluida e menos fixada na figura de diretores-autores.
A valorização da cocriação se torna fundamental no processo, algo também presente em diversos filmes, coletivos e cineastas de regiões e quebradas que apontam a superação do industrialismo decadente e impessoal que até então dominava o audiovisual no país. Prolíficos, Glenda e Ary assinaram a direção conjunta de cinco longas-metragens em cinco anos: “Café com canela” (2017), “Ilha” (2018), “Até o fim” (2020), “Voltei!” (2021), “Mugunzá” (2022) e “Na rédea curta” (2022).
Glenda ainda dirigiu um projeto solo, o média-metragem “Eu não ando só” (2021). A singularidade do trabalho de Ary Rosa e Glenda Nicácio é um esforço coletivo a somar as pequenas diferenças em um território comum que é a região de efusiva cultura negra nas cidades de Cachoeira, São Félix e Muritiba.
Foi pensada para ser a mostra competitiva de Tiradentes como estímulo a uma produção de realizadores em início de carreira ( até três longas), para dar visibilidade às produções de estreantes..
Do ponto de vista do audiovisual, tornou-se o maior evento do cinema brasileiro contemporâneo, um espaço rico e generoso de exibição, formação, apreensão e discussão do cinema brasileiro. Um trabalho coletivo, participativo, democrático, que sempre esteve à frente de seu tempo, atento às mudanças do audiovisual, seja do campo tecnológico, seja pelo lado de quem pensa, vê e faz cinema. No decorrer de sua trajetória, presenciou avanços, transformações e continuidades no cinema brasileiro. Viu as séries de televisão ocuparem o lugar antes do cinema.
E as telas de TV e dos computadores tornaram as superfícies da imersão em uma narrativa. Foi testemunha do surgimento de uma nova geração de realizadores e instrumento que favoreceu a visão de conjunto. Foi pioneira ao criar a Mostra Aurora, um recorte da programação que criou oportunidades para os diretores estreantes ganharem espaço na cena audiovisual brasileira e exibiu filmes instigantes e desafiadores, de baixíssimo orçamento, precários enquanto estrutura de existência, mas com senso de provocação, deslocamento dos sentidos e das sensações, de culto do enigma e do estranhamento.
Os perregues e desafios de toda edição são a busca desenfreada pelo patrocínio, pois o evento não tem receita e precisa de empresas patrocinadoras para sua realização e, mesmo com trajetória consolidada, precisa atuar ano a ano para assegurar sua realização.