Quem nunca pensou em olhar o futuro no tarô, atire a primeira carta. Entra ano, sai ano, o interesse pelo que as cartas nos mostram cresce a ponto de ser encarado com muita seriedade e montado a partir de um plano de negócios. É o caso de A Tenda, projeto que une a taróloga Amanda Ramalho Guimarães, Daniel Menezes, arquiteto e urbanista, Fernando Carneiro, advogado e administrador de empresas, e Roberto Carneiro, também cartomante e geógrafo, na Galeria São Vicente, no Centro de BH, no mesmo prédio onde funcionam os bares do momento – Pirex e Palito. Em entrevista à coluna, Amanda fala do seu interesse pelo tarô e de como as cartas podem, realmente, nos ajudar.
Sua relação com o tarô vem muito antes de seu nascimento. Foi pelas cartas que sua mãe descobriu a gravidez. A partir dos 14 anos, você passou a se consultar com o oráculo, uma vez por ano, até se profissionalizar. Qual a importância das cartas na sua vida ?
O tarô veio até mim num lugar muito especial. Minha mãe conta que ia numa cartomante lá no bairro – somos da zona norte de BH – e ela disse que minha mãe engravidaria e seria uma menina. Desde então, de tempos em tempos, ela me levava em alguns lugares para benzimento, principalmente porque eu nasci com uma complicação renal que se desenvolveu rapidamente até meus 4 anos. Essa busca com certeza é um viés muito espiritual das cartas. Além disso, quando comecei a me consultar, as questões eram muito mais universais, até pela pouca idade. Em 2019, eu me iniciei no candomblé e, a partir das reflexões do meu lugar na espiritualidade e enquanto canal de manifestação do sagrado, surgiu uma pulguinha atrás da orelha: qual é esse lugar que a espiritualidade pode ocupar na minha vida?. Como consigo apoiar as pessoas em seus processos de cura e autoconhecimento? Com o tempo, fui entendendo que o tarô é um poderoso instrumento de autoconhecimento, e aí, sim, mergulhei fundo nas cartas para entender um pouco do meu propósito e da minha trajetória.
Em um mundo cada vez mais complexo, com mais perguntas do que respostas, como o tarô nos ajuda? E o que as pessoas querem saber?
Não acho que é coincidência que meu trabalho tenha crescido muito com a pandemia. As pessoas estavam (e ainda estão, de certa forma) muito adoecidas e ansiosas. Não acho que o tarô traga respostas 100% do tempo, mas ele nos dá um caminho mais pacífico de reflexão. Costumo falar que o tarô é o espelho do hoje. Meu pai de santo sempre fala com a gente que só existe o ontem e o hoje. O amanhã é inexistente. Não quero, com meu trabalho, gerar mais ansiedades sobre o futuro, mas, sim, trazer à tona elementos inconscientes que aumentem o senso de autopercepção das pessoas. Para mim, o caminho é sempre para dentro. De uma forma geral, as pessoas chegam até o meu trabalho em momentos decisivos – seja um divórcio ou término de relacionamento, uma mudança de emprego, a necessidade de organizar melhor as ideias para projetos futuros... Meu público é muito diverso, mas se une nisso, são mulheres e homens que querem usar do holismo como uma ferramenta de desenvolvimento pessoal. Acho isso incrível!
Você não é apenas uma taróloga. Tem graduação em relações internacionais, fala três idiomas e optou por um modelo de negócio totalmente diferente. O que levou a essa troca e o que sua experiência no mercado internacional favoreceu nessa etapa profissional?
Até brinco que não sou uma cartomante empreendedora, sou uma empresária que joga cartas. Comecei no mercado de trabalho bem cedo, meu primeiro emprego foi como professora de inglês, aos 17 anos. Sempre tive múltiplos interesses, desde história da arte, literatura, tecnologia... Mas me encontrei na ideia de ter um negócio próprio. A partir daí, foram dois anos conciliando meu trabalho como gerente de inteligência de mercado e marketing no mercado de TI com a ideia incubada d'A Tenda, meu negócio holístico. Sou uma pioneira nata! Ariana, nasci prematura, filha mais velha de dois irmãos. Meus amigos de infância costumavam brincar que todos trabalhariam na Amanda Enterprises (risos). A troca de uma profissão estável, num mercado em que sempre fui valorizada, apesar da pouca idade, e era muito bem remunerada, veio da vontade de viver do meu propósito. Sem dúvidas, trabalhar com algo em que acredito até debaixo d'água é o coração deste negócio. Sobre o mercado internacional, minha formação-base me ensinou a versatilidade cultural e a capacidade de expansão. Hoje, atendo pessoas desde o Canadá até a Nigéria. É realmente maravilhoso.
Como diferenciar pessoas sem habilidades com as cartas para quem se dedicou aos estudos ?
O estudo da cartomancia é para todos, mas a profissão cartomante não é para qualquer um. Recomendo a todos que estudem e vivam o tarô, pois, através da jornada do Louco, nosso herói dos arcanos maiores do tarô, aprendemos sobre a nossa própria jornada e nosso alinhamento com o propósito. Mas o exercício da cartomancia, como prática de guiança do outro nesse processo de autoconhecimento requer uma ética, jogo de cintura e repertório imensos. Mas entre o talento e a dedicação, fico com a dedicação, sempre. A diferenciação das habilidades está na percepção acurada não só dos símbolos das cartas, mas das possíveis conexões. Esse é o coração da coisa, que separa um bom cartomante de um entusiasta. Estabelecer conexões precisas entre todos os elementos do jogo.
Sobre estudos, quanto tempo e como foi construída a sua formação com o tarô?
No tarô, comecei autodidata, em 2020, depois fui mentorada por um especialista do interior de São Paulo ao longo de 2021. Sempre tive uma visão simbólica e arquetípica muito afiada e com certeza foram elementos que impulsionaram meu desenvolvimento. Em 2021, lancei meu curso, Tarô Descomplicado para Iniciantes. Hoje, além dos meus atendimentos de tarô, desenvolvo grupos de reconexão com o feminino, interpretação de sonhos e mentoria de negócios para outros terapeutas holísticos. O tarô exige que o cartomante seja um eterno aprendiz – não só lendo, respirando e vivendo o tarô como uma ferramenta constante de autodesenvolvimento, mas buscando repertório nas artes e na literatura. Foram os renascentistas italianos que consolidaram os arcanos maiores do tarô, e eram multiartistas e gênios, né? É preciso olhar para o todo para ser um bom mensageiro.
Qual o balanço dos meses de funcionamento da Tenda e o que o tarô diz sobre o futuro do espaço ?
A Tenda é um empreendimento que foi aberto com o potencial de outros três sócios – além de mim, Daniel Menezes, arquiteto e urbanista; Fernando Carneiro, advogado e administrador de empresas; e Roberto Carneiro, também cartomante e geógrafo. Desde quando abrimos, sabíamos que seria uma novidade no mercado brasileiro, até porque não existe nada parecido com a nossa proposta – que é uma empresa de autocuidado e bem-estar integrativo. O fato de estarmos na Galeria não é intencional: queremos provar para as pessoas que a cura só é possível quando estamos alinhados com o coração. Estando no coração de BH, bebemos dessa fonte de movimento e energia. Abrimos em outubro do ano passado e, desde então, foram muitos atendimentos de tarô, bem como experiências coletivas de reiki, yoga e fitoterápicos.