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O recém-criado Instituto Tragaluz trabalha no combate à fome

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Há pouco mais de dois meses, quem visita Tiradentes tem mais uma opção no passeio pela cidade histórica. A rua Direita abriga a sede da Mostra de Artes de Tiradentes (Martir), que reúne obras de arte contemporânea, dos anos 1970 até os dias de hoje. 





No acervo, obras de Ana Horta, Arlindo Daibert, Cao Guimarães, Carlos Bracher, Cristiano Rennó, Fernando Lucchesi, Isaura Pena, João Castilho, José Alberto Nemer, José Bento, Léo Brizola, Marco Paulo Rolla, Marcos Coelho, Benjamin, Marilá Dardot, Pedro David, Pedro Motta. O acervo foi doado por Tadeu Bandeira, diretor cultural do Instituto.

O Martir é um dos braços do Instituto Tragaluz, que também tem ações de combate à fome e à desnutrição na primeira infância. A coluna conversou com Pedro Navarro, diretor-executivo do Instituto, que funciona às quintas-feiras, das 10h às 17h; às sextas-feiras e sábados, das 10h às 22h.

Qual o maior desafio em montar um acervo da primeira mostra de arte mineira contemporânea de Tiradentes?
É importante destacar que se trata de um projeto desenvolvido a várias mãos, com destaque para Jane e Joel Padula, Patrícia e Pedro Navarro, Renata e Alexandre Resende e Tadeu Bandeira, principal doador do acervo.



Sendo a cidade de Tiradentes um dos berços da arte barroca em Minas Gerais, além de concentrar grande número de artesãos, lojas de arte popular e ateliês de artistas, justificável que o colecionador destinasse ao Instituto as obras contemporâneas. Almejamos acompanhar as tendências artísticas e propiciar maior visão da produção atual, ainda vinculada à riqueza e proeminência do período colonial.

Como nasceu o Instituto Tragaluz, que tem como um dos braços o Martir?
O Tragaluz Restaurante Casa é um restaurante tradicional de Tiradentes e um dos mais apreciados do estado. Continuamente, apoia iniciativas as mais diversas. Percebemos a necessidade de “institucionalizar” a organização para potencializar as ações em desenvolvimento. Constituído dentro dos padrões legais, o Instituto Tragaluz objetiva contribuir com a cidade e região.

Cabe lembrar que a cidade tem outros espaços e ricos festivais culturais. Entretanto, nada impede que o Instituto Tragaluz dê também a sua contribuição artística, cultural e social.

A CasaNutri é outro braço do Martir. Com tanta beleza em Tiradentes, acho que ninguém (até agora) voltou os olhos para essa questão na cidade. Conte um pouco desse cenário e como vai funcionar a CN.




Outra frente do Instituto Tragaluz é o foco de atuação em projetos sociais, especialmente relacionados à primeira infância. Tiradentes e São João del-Rei, por exemplo, integram o mapa da fome do Brasil, segundo relatório público elaborado por importantes e competentes órgãos e instituições.

Esta triste realidade ocasiona importantes consequências para o desenvolvimento infantil, impossibilitando que crianças desempenhem em sua totalidade as capacidades físicas e intelectuais. 

Nesta primeira etapa, a Casa Nutri, parceria com a ONG ABC e Prefeitura de Tiradentes, acompanha aproximadamente 25 famílias, baseando-se em critérios nutricionais da criança e sociais da família.

Temos uma nutricionista que acompanha semanalmente as crianças, além de fornecimento de aporte proteico com ovo caipira para elas e seu núcleo familiar. Recentemente, avaliamos o desenvolvimento neuropsicomotor das crianças das creches municipais, com a elaboração de planos de cuidado, quando necessários. Quem sabe conseguiremos expandir os projetos e a atuação para outros locais do Campo das Vertentes?

Em visita recente a Tiradentes, vi quanto o Tragaluz cresceu. O Martir é uma expansão do restaurante que chega à esquina. Observei também que a poucos metros há uma outra casa à venda...




Difícil encontrarmos um quarteirão mais charmoso! Uai, precisamos conhecer esta casa!? Na verdade, o Martir tem vida própria – a cozinha do Tragaluz apoiará o D'Angola, um delicioso café/winebar no jardim do museu. Arte e gastronomia são indissociáveis. Cada artista tem a sua nutrição e sua maneira de criar.

Independentemente da característica da cozinha, alta ou baixa (não gostamos dessa “segregação”), tradicional ou contemporânea, quando há conhecimento, envolvimento para transformar o alimento e entregar para o mundo, sem dúvida isso é uma manifestação artística.

A pandemia impactou todos. Ainda é momento de adaptação, prudência nos investimentos, atenção às oportunidades e desafios atuais. Em relação ao futuro, adiantamos que temos novidades no forno e outras em banho-maria.





Você é da medicina e está firme na gastronomia e nas artes. Qual a avaliação de sua chegada a Tiradentes até hoje?
Tiradentes é encantadora. Ela mantém ares provincianos, tem seu próprio ritmo e lida com as questões rotineiras. A Serra de São José nos abraça logo na chegada. A cidade continua linda, movimentada e desejada por mineiros, cariocas, paulistas e demais visitantes.

O calendário de eventos e festivais da cidade continua vibrante, buscando equilibrar os desafios e os cuidados que o momento exige. O turismo está em constante transição. Os setores público e privado, além da sociedade civil, hoje dividem a responsabilidade de manter esta preciosidade preservada e adaptada às exigências da atualidade.

Claro que não podemos deixar de lembrar de Zenilca de Navarro quando falamos do Tragaluz e tudo que ele representa para Tiradentes e a gastronomia. Como você vê a importância dela nesse mercado e nessa história?
A ligação dela com o restaurante é umbilical. Um de nossos desafios, ao adquirir o Tragaluz há oito anos, foi mudar sem mudar. Manter o exercício de olhar para trás, estando atentos às oportunidades que se apresentam. Contextualizar alguns processos operacionais e de gestão, sem perder a essência de valorização da mão de obra local e do seu entorno. 

O Tragaluz talvez tenha sido um dos primeiros restaurantes do Brasil a trazer os ingredientes típicos mineiros em uma casa que prima pela elegância não somente no ambiente e serviço. Há sofisticação na comida da roça, na comida simples, no quintal.

O quiabo, jiló, couve, abóbora, carne de porco ou d’angola, além de inúmeras outras iguarias, como a goiabada, doce de leite e queijos de Minas estão presentes em nosso cardápio desde o início de funcionamento, há mais de duas décadas...