Este trabalho, lançado em 2011, faz parte da minha pesquisa fotográfica que se atribui ao gênero da fotografia encenada, a tendência da fotografia contemporânea de se apresentar como cenas reais construídas de acordo com a dinâmica da cinematografia.
Meus projetos muitas vezes se concentraram na transposição fotográfica de obras literárias e histórias, que eu reencenei em meticulosos tableaux vivant. Até chegar ao resultado final, passei por uma série de etapas, como análise do texto, escolha de episódios mais representativos e representáveis, criação de esboços preparatórios, elaboração de um storyboard, a escolha de locais, o trabalho de colaboração com os habitantes do território, a recuperação de roupas e adereços e, finalmente, a sessão de fotos com atores não profissionais.
O texto leva você aos lugares que lhe oferecem todas as coordenadas para se orientar: o que acontece à direita, o que acontece à esquerda, cheiros, ruídos, cores. Nesse panorama, Dante insere a alegoria, a grande advertência ou ensinamento político e ético e se abre para um segundo imaginário: o da interpretação.
Minha relação com a fotografia vem do estúdio, de um caminho programado e, ao mesmo tempo, aleatório. Sempre fui muito atraída pelo texto e menos pela técnica, comecei com estudos clássicos, continuando na universidade com uma faculdade de humanidades com um interesse cinematográfico.
De repente, senti a necessidade de tentar experimentar algumas noções e, a partir da imagem em movimento, cheguei à fotografia. Procurava um espaço mais íntimo e privado para elaborar algum raciocínio. Mas isso não deve ser considerado como uma passagem ou o abandono de uma arte por outra, foi mais uma mistura.
Comecei quase imediatamente com a nova proposta da estrutura cinematográfica e da gramática na construção de uma imagem ou de uma série fotográfica. Daí a minha relação com a fotografia encenada, que comecei a praticar sem conhecer bem o gênero, até porque, naquela altura, ainda não era uma tendência fotográfica tão consolidada.
O que me interessava era contar histórias, eu sabia que o cinema era a apoteose para fazê-lo, mas sentia a necessidade de trazer a magia cinematográfica para o espaço mais silencioso de uma única imagem.