Na próxima quinta-feira (25/5), será anunciado o Prêmio da Academia Mineira de Letras. O anúncio marcará a última realização do presidente Rogério Faria Tavares, que passa o cargo para Jacyntho Lins Brandão, aclamado especialista em estudos clássicos. Tavares se despede com a sensação de dever cumprido, além da satisfação de ter vivenciado uma bem-sucedida experiência coletiva.
“O prêmio anual vai agraciar com R$ 60 mil o autor do livro que a comissão julgadora considerar o melhor do ano. A editora vai ganhar R$ 40 mil”, informa Tavares. “Ele não será dividido em categorias, como poesia, ensaio, crônica, conto, por exemplo. A única exigência é de que o autor seja mineiro ou o livro seja sobre Minas Gerais.”
Não haverá a necessidade de inscrição. “Bastará sugerir os nomes para a comissão, que analisará as sugestões e dará o seu veredito. Estou muito feliz com esse prêmio. Quem faz literatura no Brasil merece todo tipo de estímulo, incentivo e reconhecimento. Por meio do prêmio, a Academia cumpre a sua missão, estabelecida ainda em 1909 pelos fundadores: promover e divulgar a literatura e a língua portuguesa”, afirma.
Na noite da posse de Jacyntho Lins Brandão, será lançado também o número 83 da revista da Academia Mineira de Letras.
Qual é o sentimento ao se despedir do comando da Academia Mineira de Letras?
O sentimento é de dever cumprido. Estou leve. Vivi uma aventura feliz. Sobretudo porque foi uma experiência coletiva. Sou muito grato a todos os que viveram essa aventura junto comigo. E olha que foi um time grande, de acadêmicos, funcionários da casa, à frente nossa incrível diretora-geral, Inês Rabelo, patrocinadores, parceiros, amigos. Em quatro anos, recebi muito apoio e ajuda. Os resultados que alcançamos são frutos de um empenho coletivo. E a Academia merece, pois representa a aposta numa sociedade mais civilizada, mais humana, que sabe cultuar a literatura e as artes, que compreende que a educação é o principal investimento. E, também, a prova de que temos uma potente história intelectual em Minas. História que não começou hoje. É antiga, merece ser preservada e divulgada, sobretudo entre as novas gerações. A tarefa da Academia é essa.
As academias de letras têm se aberto à sociedade. A de Minas, por exemplo, deu posse recentemente a Ailton Krenak, o primeiro acadêmico indígena. Atualmente, qual é o perfil da AML?
O perfil dos acadêmicos acompanha, naturalmente, a evolução do meio social. O Brasil é um país multiétnico, rico em expressões culturais, heterogêneo. Essa é nossa força, nossa maior riqueza. Uma instituição que quer ser representativa do seu povo e do seu território precisa compreender isso. É o que estamos fazendo na Academia. Se ela não trilhar esse caminho, não será relevante, não fará sentido para os tempos atuais. Conheço algumas entidades culturais formadas só por um tipo de gente, com a mesma visão de mundo. É uma pena. Como diria o grande Darcy Ribeiro, “o bom é a mistura”. O que não vai mudar é o chamado espírito acadêmico. Isso continua intocado.
Ao longo de dois mandatos, qual foi o maior desafio que enfrentou?
A pandemia foi um desafio assombroso. De repente, tivemos que fechar a sede e cancelar todas as nossas reuniões. Já tínhamos programação intensa para 2020, com vários eventos, um programa lindo de visitas guiadas ao Palacete Borges da Costa, oficinas e seminários sobre literatura mineira. Nada disso foi possível. Vencer esse panorama não foi fácil. Exigiu resiliência, e, sobretudo, criatividade. Uma saída foi intensificar nossa presença nas redes sociais. No começo da pandemia, nosso YouTube tinha menos de 200 inscritos. Hoje tem 20 vezes mais. Começamos a oferecer uma palestra inédita e exclusiva todas as semanas no nosso canal. O público gostou, continuamos. Outro modo de furar o bloqueio da COVID foi pedir a autores mineiros que escrevessem sobre ela. Assim surgiu o livro que lançamos em parceria com a Autêntica, da excelente Rejane Dias, “20 contos sobre a pandemia de 2020”, que vende bem até hoje.
Como é passar o bastão da Academia Mineira de Letras para Jacyntho Lins Brandão?
Jacyntho foi o secretário-geral da Academia em meus dois mandatos. Junto com Caio Boschi e Luís Giffoni, formamos uma diretoria muito unida. Jacyntho nunca faltou à AML. Na pandemia, voluntariamente, deu cursos valiosos pela nossa plataforma virtual. Os alunos ficavam encantados. As qualidades dele como professor todo mundo já conhece, aqui e no exterior. Assim como seu impressionante talento como tradutor, ensaísta e poeta. O importante é que, além de pensador, ele é executor, com experiência administrativa sólida. Mais importante: a Academia terá em sua presidência um ser humano excepcional. Leal, generoso, incrivelmente simples, descomplicado, acessível, sem nenhum tipo de afetação ou elitismo.
Que projeto o senhor não conseguiu finalizar? Que projeto foi sua menina dos olhos?
Começamos a fazer o “Dicionário biográfico da Academia Mineira de Letras”. O trabalho avançou muito, mas ainda não foi concluído. É uma tarefa insana, imensa, que consiste no levantamento de mais de 200 biografias, reunindo, em verbetes, as trajetórias de todos os que já passaram pelas cadeiras da AML. O presidente Jacyntho está empenhado em prosseguir com o projeto, que resultará numa boa fonte de pesquisa e de consulta para estudiosos da história intelectual de Minas. Meu projeto predileto, no entanto, foi a revitalização da nossa revista, fundada em 1922. Lancei cinco novos números, todos com mais de 500 páginas. Mais importante: conseguimos digitalizar a coleção completa da revista. Ela está toda no nosso site, sem qualquer custo, disponível para quem se interessar pela literatura produzida em Minas.