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Documentário sobre a noite gay paulistana é destaque da Curta Circuito

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Maio, o mês de luta contra a LGBTfobia, terminou com uma homenagem que provocou reflexão. Terça-feira (30/5), dentro da programação da Mostra Curta Circuito, foi exibido o documentário “São Paulo em Hi-Fi”, no Cine Humberto Mauro. Com depoimentos e imagens de arquivo, o filme é uma obra preciosa para conhecer e acompanhar a evolução do movimento LGBT na capital paulista entre os anos 1960 e 1980.





Durante o debate após a projeção do documentário, o diretor Lufe Steffen lembrou que a obra está completando 10 anos. Ele disse que a primeira versão estreou em 2013 e circulou por alguns festivais, até ganhar reedição em 2016. "Foi esta que vocês viram, que é a versão oficial mesmo, com tudo o que a gente não tinha conseguido fazer antes, na primeira versão, por falta de recursos."
 
Steffen contou que o objetivo do filme era registrar memórias que fazem parte da história da cultura LGBT brasileira e por muito tempo ficaram “subterrâneas”. Ele considera que o momento agora é outro, com filmes, séries e livros que continuam contando essa história.

O cineasta citou Elisa Mascaro como pessoa importante para a produção. Poderosa empresária da época, foi ela quem cedeu centenas de imagens que ilustram o documentário. Elisa foi dona de uma das boates mais importantes da época, a Corinthos, e mantinha um fotógrafo que registrava todos os shows e festas organizadas por ela. 





"As pessoas não faziam seus próprios registros fotográficos. Primeiro porque, na época, a máquina fotográfica não era uma coisa tão barata. E quem tinha máquina também não ia ficar tirando foto dentro de boate. Ainda mais naquele período em que as pessoas não queriam aparecer”, comentou Steffen, lembrando que jornais e revistas ignoravam a noite LGBT. Ela só passou a ganhar focoa partir dos anos 1990.

Lufe Steffen acredita que “São Paulo em Hi-Fi” ajudou a colocar uma peça nesse quebra-cabeça. “Sempre falei que as pessoas têm de fazer ‘Rio em Hi-Fi’,‘Porto Alegre em Hi-Fi’, ‘Belo Horizonte em Hi-Fi’. Acredito que aquela época reverberou em outros lugares do Brasil, em plena ditadura, com impacto sobre a cultura gay ou a cultura LGBT."

Layla Miller di Polly, a última protegida de Kaká di Polly, drag queen que se deitou na Avenida Paulista para que a primeira Parada LGBT saísse, lamentou que hoje a comunidade já não proteste como antigamente.




 
"A gente curte parada, se diverte, mas não temos mais aquele sentimento original de lutar pelos direitos. Coisas que essas artistas maravilhosas fizeram e é muito importante a gente lembrar. Se hoje eu, um rapaz gay, posso colocar uma peruca na cabeça, posso sair na rua, pegar um Uber, é graças a essas pessoas que estiveram aliantes de mim", disse, deixando claro que o preconceito ainda existe. Layla lamentou o fato de o Brasil ser o país onde mais se assassina travesti e mulher trans. “E é também o paísque mais consome pornografia de mulheres trans e travestis", criticou.