Maio, o mês de luta contra a LGBTfobia, terminou com uma homenagem que provocou reflexão. Terça-feira (30/5), dentro da programação da Mostra Curta Circuito, foi exibido o documentário “São Paulo em Hi-Fi”, no Cine Humberto Mauro. Com depoimentos e imagens de arquivo, o filme é uma obra preciosa para conhecer e acompanhar a evolução do movimento LGBT na capital paulista entre os anos 1960 e 1980.
Leia Mais
Tony Tornado será homenageado na CineOPMineiro assiste a três shows de Beyoncé e conta o que os fãs querem saberBanda mineira será homenageada em edição do projeto Sonastério IluminaCármen Lúcia, ministra do STF, participou do projeto Sempre um PapoFãs de Zizi Possi esgotam os ingressos para o show da cantora em BHCom quase 25 anos de carreira, Mariana Aydar fala de sua trajetóriaSteffen contou que o objetivo do filme era registrar memórias que fazem parte da história da cultura LGBT brasileira e por muito tempo ficaram “subterrâneas”. Ele considera que o momento agora é outro, com filmes, séries e livros que continuam contando essa história.
O cineasta citou Elisa Mascaro como pessoa importante para a produção. Poderosa empresária da época, foi ela quem cedeu centenas de imagens que ilustram o documentário. Elisa foi dona de uma das boates mais importantes da época, a Corinthos, e mantinha um fotógrafo que registrava todos os shows e festas organizadas por ela.
"As pessoas não faziam seus próprios registros fotográficos. Primeiro porque, na época, a máquina fotográfica não era uma coisa tão barata. E quem tinha máquina também não ia ficar tirando foto dentro de boate. Ainda mais naquele período em que as pessoas não queriam aparecer”, comentou Steffen, lembrando que jornais e revistas ignoravam a noite LGBT. Ela só passou a ganhar focoa partir dos anos 1990.
Lufe Steffen acredita que “São Paulo em Hi-Fi” ajudou a colocar uma peça nesse quebra-cabeça. “Sempre falei que as pessoas têm de fazer ‘Rio em Hi-Fi’,‘Porto Alegre em Hi-Fi’, ‘Belo Horizonte em Hi-Fi’. Acredito que aquela época reverberou em outros lugares do Brasil, em plena ditadura, com impacto sobre a cultura gay ou a cultura LGBT."
Layla Miller di Polly, a última protegida de Kaká di Polly, drag queen que se deitou na Avenida Paulista para que a primeira Parada LGBT saísse, lamentou que hoje a comunidade já não proteste como antigamente.
"A gente curte parada, se diverte, mas não temos mais aquele sentimento original de lutar pelos direitos. Coisas que essas artistas maravilhosas fizeram e é muito importante a gente lembrar. Se hoje eu, um rapaz gay, posso colocar uma peruca na cabeça, posso sair na rua, pegar um Uber, é graças a essas pessoas que estiveram aliantes de mim", disse, deixando claro que o preconceito ainda existe. Layla lamentou o fato de o Brasil ser o país onde mais se assassina travesti e mulher trans. “E é também o paísque mais consome pornografia de mulheres trans e travestis", criticou.