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Filomena, personagem de Gorete Milagres, vai virar filme

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Gorete Milagres se divide entre o Nordeste e o Sudeste. Ela construiu três casas em Jericoacoara, no Ceará, onde mora, e aluga os imóveis para turistas. No litoral nordestino, a atriz mineira vem recarregando as baterias para voltar aos palcos.





Desde 2020, o ano da pandemia, Gorete não encena seus espetáculos. O mais recente, “25 anos de peleja de Filomena”, será atualizado para “29 anos de peleja”. Nesta entrevista, a atriz afirma que pretende lançar um filme e revela o desejo de contar a história de seus pais.

 

Como a pandemia influenciou seus projetos? Como foi a mudança para Jericoacoara?
Já tinha vindo para Jeri em 2017 e 2018. Em 2019, comprei uma casinha com terreno. Uma semana antes da pandemia, joguei a casinha no chão, por problemas estruturais dela, o pé direito era baixo. Na pandemia, senti muito não ter a casinha em Jeri para estar aqui. Fiquei pensando: quando acabar a pandemia, farei muitas coisas que estava adiando há muitos anos. Fiquei 22 anos em São Paulo, mas o tempo todo queria voltar a morar em Belo Horizonte. Durante a pandemia, resolvi fazer grandes mudanças de vida. E foram seis mudanças em um ano e sete meses. Saí do apartamento, fui para minha casa, reformei a casa, depois fiz mudança para Belo Horizonte, fui para Lapinha e, em novembro de 2021, me mudei para Jeri. Além das mudanças, três obras. Tinha um pouquinho na Lapinha, obras nas casas dos meus pais e em Jeri. 2022 foi um ano de muito trabalho, me dividindo entre Jeri e São Paulo. Fiquei bastante cansada, mas ficou tudo pronto. Jeri tem alma do interior. Lugar pequeno com magia muito grande. Gosto de sol, gosto de vento e aqui tem tudo isso. Estou me preparando para voltar aos palcos com urgência. Há três anos não piso no palco.

Como a troca da cidade grande pelo litoral influenciou você?
Sou tataraneta, bisneta, neta e filha de fazendeiro. Fui criada em Piranga, Catas Altas da Noruega, Senhora de Oliveira. Gosto de gente. Gosto da comunidade pequena, dessa força que a gente pode ter, ajudar um ao outro. É quase um devaneio para quem morou em São Paulo, com aqueles barulhos histéricos, buzinas. Essa maratona me mudou e me influenciou muito. Precisava disso, porque sempre tive o interior para recarregar minhas baterias. Estava muito tempo sem ir à roça. Com essa maratona, realizei alguns sonhos de vida. O que mais me influenciou por estar em Jeri é a certeza de que preciso voltar para o palco urgente. Estou cheia de planos, quero fazer “29 anos de peleja” da Filó. Os 25 anos já fiz, em Belo Horizonte.



Nessa altura do campeonato, como vai a Filomena?
Ela está borbulhando dentro de mim. Já pensei em ter um espaço para fazer teatro para turistas, mas vi que meu lugar na vida é o palco. É poder fazer o outro rir. O meu pensamento é imagético. Tudo o que falo da Filomena é imagético. Estou pronta para voltar com tudo, com dois espetáculos na manga para viajar. O palco cura minha alma.

 

 

 

Filomena vai virar filme?
Em 2012, escrevi o livro 'Filomena – Minha história'. Criei uma história para Filomena baseada na minha infância. Todos os lugares são reais. São fatos reais. Dei o livro para um roteirista, que sugeriu transformá-lo em filme. Achei muito legal. O livro da Filó é muito lindo, modéstia à parte, mostrando o drama de uma personagem cômica. Ele foi adotado por várias escolas. Conto a história da empregada que vai para a cidade grande realizar o sonho de ser feliz, de conhecer uma cidade grande. É um livro muito delicado. Não será um filme óbvio, tipo “ah, vamos lá rir da Filó”. Mas ainda não posso falar muito sobre ele.

Sua mãe é uma grande figura para você...

Meu avô mandou minha mãe para o internato em outra cidade. Lá, ela aprendeu com a dona da pensão, que tocava piano, música e teatro. Quando chegou em Senhora de Oliveira, montou um grupo de teatro. Só fui saber disso no aniversário de 60 anos de casamento dela, porque o padre, seu amigo de infância, contou. Perguntei a ela por que não me contou isso. Ela respondeu: “E eu tive tempo?”. Minha mãe não teve tempo de contar para a gente os dons que a vida deu para ela, que tocava violão e bandolim de ouvido. Meu avô não deixou que ela fosse a mulher que queria ser. Os filhos dele saíam para o curso superior. As filhas, não. Elas deveriam se casar. Quando disse que eu largaria o banco para ser atriz, ela disse: 'Isso, vai mesmo'. E me deu muito apoio. Preciso contar a história desta mulher, que não conseguiu ser a mulher que queria ser. Sem perceber, mamãe era feminista, mulher à frente do tempo dela. Peitou tudo. O mundo está cheio de mulheres que vivem a vida inteira sem se realizar. Fiquei mais forte ao enxergar minha mãe para me enxergar e me transformar. Meu pai enfrentou muitos problemas na vida, mas nunca desistiu, nunca deixou de lutar. Os meus pais têm uma força, há uma potência atrás da história deles.