Bia Apocalypse demora um pouquinho para fazer as contas até ter a certeza de que a última apresentação de “Cobra Norato”, um dos espetáculos mais festejados do Grupo Giramundo, foi há exatos 12 anos em um festival na Bélgica. De lá pra cá, os 89 bonecos criados pelo pai dela, Álvaro Apocalypse, pela mãe, Teresa, e por Madu para contar a história inspirada no poema de Raul Bopp ficaram pendurados entre as centenas de “colegas”, no acervo do Giramundo, em BH.
Se foi difícil lembrar a data exata da última apresentação, Beatriz sabe com exatidão detalhes que marcaram o início de “Cobra Norato”, que viu nascer dentro de casa quando tinha 9 para 10 anos. Bia conta que o processo de criação levou quase um ano – nos últimos meses de trabalho, ela quase não se encontrava com os pais.
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Parados há tanto tempo, os bonecos, originais de 1979, precisavam de restauração. Graças ao projeto do Giramundo em parceria com a Cemig, não só “Cobra Norato”, mas outros cinco espetáculos tiveram os protagonistas restaurados. Bia diz que no caso de Cobra Norato, grande parte da pintura foi feita pela mãe dela. “O trabalho de recuperação foi minucioso para não retirar nada da originalidade dos bonecos”, comenta.
Na reestreia, que ocorrerá no próximo fim de semana, no Centro Cultural Unimed-BH Minas, Bia se encarregará de cuidar da luz, função que o pai também ocupou. Marcus Malafaia e Ulisses Tavares não abriram mão de estar em cena manipulando os bonecos.
Além dos “astros” novinhos após seis meses de restauração, há mais novidades em “Cobra Norato”. Uma das cenas sai do palco para ser apresentada em forma de animação, por meio de videoprojeção. Dessa forma, o Giramundo se mostra ligado às raízes e aos novos tempos.
Outra curiosidade da montagem é o Pajé. Enviado para a exposição comemorativa dos 80 anos da União Internacional da Marioneta (Unima), suspensa por causa da pandemia, rodou países da Europa e da América do Sul até se extraviar. Um boneco argentino veio para o Brasil, e Pajé foi para Buenos Aires. Ele só retornou ao Giramundo depois de Vinicius Campos, gentilmente, levá-lo da Argentina para o Rio de Janeiro, onde o ator Beto Militani o buscou. “O passaporte do Pajé é o que tem mais carimbos no Giramundo”, brinca Ulisses Tavares.