Jornal Estado de Minas

COLUNA HIT

Maurício Canguçu e Ilvio Amaral comentam o sucesso de sua peça mais famosa

Conteúdo para Assinantes

Continue lendo o conteúdo para assinantes do Estado de Minas Digital no seu computador e smartphone.

Estado de Minas Digital

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Experimente 15 dias grátis


No cenário ideal, seria triunfal a entrada de Loló, personagem interpretado por Ilvio Amaral, neste domingo à noite, na sessão que comemora 25 anos da estreia de “Acredite, um espírito baixou em mim”. Suspenso por cabos, ele desceria do teto do Grande Teatro do Palácio das Artes para o palco, onde a peça será encenada às 19h. Lá do alto, Loló provavelmente manteria o texto, reclamando do acidente que o transformou em alma penada.





“Não houve tempo para ensaios. Seriam necessários pelo menos três dias com o teatro fechado”, revela Ilvio Amaral. Ele e Maurício Canguçu optaram por novidades mais práticas para esta noite. Isso não vai tirar a graça e o charme da sessão, que promete ser tão especial.

Nenhum dos dois dá pistas sobre o que ocorrerá no palco. Dizem, no máximo, que convidaram alguns atores e atrizes que já passaram pelo elenco para participações especiais. O segredo é tanto que durante os ensaios, na semana passada, foi permitida apenas a presença da dupla e dos convidados. O número de participações é guardado a sete chaves.

Com mistério ou não, acredite: “Espírito...” chega às bodas de prata como a mais longeva montagem dos palcos mineiros. Difícil, mesmo, é apontar os motivos que fizeram dela um grande sucesso de público, mesmo duas décadas e meia depois de estrear.





Ilvio e Maurício citam a força da propaganda boca a boca como um dos motivos dessa vida tão longa. “O público se renova ano a ano”, observa Ilvio Amaral, lembrando o que lhe disse o fã que não perde uma sessão. “Se ele não assistir ao 'Espírito', é como se faltasse alguma coisa na passagem do ano”, afirma o ator.

Nesses 25 anos de estrada, não há cenários e figurinos que resistam. Por isso, eles foram substituídos algumas vezes. Mas quase nada mudou. O apartamento de classe média continua idêntico ao da primeira sessão, realizada no Teatro Icbeu, na capital mineira.

Telefone vintage

A dupla até tentou atualizar os objetos de cena, como o telefone. O aparelho foi trocado por um celular, mas os dois acabaram voltando para o bom e velho fixo. No texto, a única alteração foi o momento em que Loló joga um chinelo em Normanda. A cena foi amenizada.





Mudanças mais radicais, mesmo, vieram do público, que agora tem no Instagram e no Facebook o caminho direto para se comunicar com a produção da peça.

“Sou daqueles que acompanham as redes sociais, observo inclusive o movimento dos haters. Certa vez, respondendo ao post em que anunciávamos nova temporada, um deles escreveu: 'Esta peça de novo, não tem criatividade?”, relembra o bem-humorado Mauricio Canguçu. Conclusão dele: quem tem hater, tem sucesso.

Loló morre em acidente de carro quando volta com amigos da boate gay. Revoltado, não aceita o fato de partir antes da hora. Fugindo do Guardião do Céu (Maurício Canguçu), ele cai na casa de Vicente (Maurício Canguçu) e Normanda (Ana Cândida), apaixonando-se por Lucas (José Vilaça). O fantasma acredita que se baixar no corpo de Vicente, poderá concretizar seu amor.

Beijo pioneiro

Muito além do sucesso de décadas, a peça é lembrada por servir de cenário para o primeiro beijo gay nos palcos de Belo Horizonte, motivo de orgulho para Ilvio e Maurício. Aliás, a comédia jamais sofreu ataque homofóbico, garantem.





Devoto de São Judas Tadeu, Ilvio Amaral tem um oratório em casa. De segunda a segunda, coloca sua vela para o padroeiro das causas impossíveis continuar abençoando o espetáculo. “Ele sente o calor das minhas velas até quando estou viajando”, garante.

Mesmo interpretando Loló há tanto tempo, Ilvio não esconde o medo de errar, de esquecer o texto ou, pior, de o público não dar as caras – pesadelo de qualquer ator.

Tanta preocupação tem motivo: Maurício e Ilvio entram em cena há 25 anos como se fosse a primeira sessão. “Nós nos divertimos muito fazendo esta peça. Talvez o grande segredo seja isso, fazer tudo com alegria”, conclui o ator.

CARMAS INESQUECÍVEIS

A convite do Estado de Minas, Ilvio Amaral e Maurício Canguçu distribuem prêmios para os melhores e os piores momentos da carreira da dupla e da trajetória de “Acredite, um espírito baixou em mim”

TROFÉU ESPÍRITO DE LUZ

• Direção de Bibi Ferreira. Logo após a estreia de “Espírito”, Ilvio Amaral foi convidado por Bibi Ferreira para atuar na peça  “Deus lhe pague”, em 1999. Pouco tempo depois, ela veio a Belo Horizonte vê-lo em cena na montagem mineira
• Direção de Marília Pêra. Depois de ver a dupla atuar no Rio de Janeiro, a atriz decidiu dirigi-la. A primeira ideia foi montar “O que teria acontecido a Baby Jane.” Como os direitos estavam indisponíveis, optou-se por “A saga da senhora Café”, texto então inédito de Heloísa Périssé
• Estabilidade financeira
• Viagens para a Europa com as mães, Maria Flora e Luisa Nogueira
• Assistir a espetáculos na Broadway
• Conquistar respeito em São Paulo e Rio de Janeiro, enquanto artistas
• Prêmio de melhor espetáculo
• Prêmio Sated de melhor ator e melhor comediante para Ilvio Amaral, em 1999
• Possibilidade de novas produções e experimentações. A maioria da produção da Cangaral, que ultrapassa 12 espetáculos, é feita com recursos vindos de “Espírito”
• Conviver com elencos diferentes
• Popularidade junto ao público
• Trabalhos na TV. Personagens de “Espírito” fizeram participações em “A praça é nossa” (SBT/Alterosa). Os atores   participaram de novelas, como “Mandacaru” (Rede Manchete), e das séries “A cura” (Globo) e “Tô de graça” (Globoplay)
• Lançamento do longa “Acredite, um espírito baixou em mim”, dirigido por Jorge Moreno
• Livro escrito por Jefferson da Fonseca Coutinho, que ganhou edição atualizada, comemorativa aos 25 anos
• Sucesso no Teatro Minascentro. De sexta a domingo, a peça teve duas sessões por dia, atraindo 1.780 pessoas em cada uma delas
• Contracenar com Marilia Pêra em “Mandacaru”, novela da Rede Manchete
• Trabalhar com pessoas queridas
• Várias apresentações lotadas no Palácio das Artes
• Estrear em São Paulo e permanecer até hoje em cartaz
• Estrear no Rio de Janeiro com casa lotada
• Bater recorde de público nas 25 edições da Campanha de Popularização do Teatro e Dança de que a peça participou
• Poder viver da profissão e rodar o país
• Apresentar a peça, on-line, para mais de 11 mil pessoas ao mesmo tempo
• Ter o público “nas mãos”
• Ter o trabalho reconhecido

TROFÉU ESPÍRITO DE PORCO

• A perda de Guilardo Canguçu e Raimundo Mendes, os pais de Maurício e Ilvio
• Crítica de Barbara Heliodora sobre a estreia no Rio de Janeiro. Ela não gostou de “Acredite...”, mas como seu texto só foi publicado no meio da temporada, não afetou em nada, dizem os atores
• A pouca convivência com a família
• Noites maldormidas por causa das viagens
• Pandemia
• Cabelos brancos, ou a falta deles
• Falta de tempo para estudar inglês
• Cirurgia na coluna. Na cena em que Loló pula através da parede, Ilvio Amaral caiu de mau jeito. Retirado de maca do palco, foi direto para o hospital
• Pessoas mal-agradecidas sendo ajudadas
• Filme malfeito
• A perda de Manuelita Lustosa, amiga e assistente de direção
• A perda do amigo Cristian Amaral, ator da peça
• A perda do amigo e técnico Sérgio Oliveira
• Roubo de HDs externos e computadores da Cangaral, com todos os registros artísticos da dupla, durante   a invasão da produtora, em 2015
• Pessoas que têm preconceito com comédia
• Cancelamento de apresentações nos EUA. A pandemia suspendeu a turnê prevista para setembro de 2020
• Engordar muito em turnê
• Viajar dirigindo com chuva
• Desmaio do técnico dentro da cabine de luz durante sessão no Teatro Bibi Ferreira, em São Paulo, há 10 anos
• Perder a voz e ser submetido a cirurgia. Em 2000, no auge do sucesso da peça, Canguçu precisou retirar calos nas cordas vocais. O médico recomendou seis meses de licença, ele ficou apenas um. E garante que nunca mais ficou afônico
• Cair no golpe da compra de automóvel, pelo jornal, e isso virar piada na peça. Ansioso por um carro,  Mauricio Canguçu perdeu o dinheiro depositado na conta de golpistas
• Engarrafamento na estrada e quase perder o horário do espetáculo no Rio de Janeiro
• Teatro sem chuveiro
• Cancelar espetáculo por causa da greve dos caminhoneiros
• Crise de cálculo renal de Ilvio Amaral

“ACREDITE, UM ESPÍRITO BAIXOU EM MIM: 25 ANOS”

De Ronaldo Ciambroni. Direção: Sandra Pêra. Com Ilvio Amaral, Maurício Canguçu, Ana Cândida, José Vilaça e Marino Canguçu. Neste domingo (30/7), às 19h, no Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro). Ingressos à venda no site Eventim.