Pacientes do Hospital Madre Tereza, em Belo Horizonte, terão um momento de relaxamento e descontração para fugir da rotina, nem sempre agradável, da internação. No próximo sábado (16/9), aqueles que forem selecionados pela equipe de enfermagem vão interagir com cachorros no evento Um Dia de Cão. Implantado há oito anos, o projeto é um sucesso. Viviane Parisotto Marino, coordenadora do Serviço de Medicina Nuclear do hospital, explica como o programa funciona.
Como surgiu a ideia do projeto Um Dia de Cão?
A ideia surgiu após uma leitura recreativa do livro “Ação terapêutica dos cães” e do encontro com o adestrador Lucinei Braga, membro do projeto. Eu já era apaixonada por cães, possuía quatro de raças e tamanhos diferentes.
Como os primeiros pacientes que participaram do projeto, em 2015, receberam a ideia de ter visitantes de quatro patas? Como o programa é recebido hoje?
O primeiro paciente era um jovem cadeirante, que foi atendido no estacionamento do Madre Teresa tamanha a resistência da comunidade hospitalar. Já tínhamos vários pares “humano-cão” cadastrados, mas apenas uma cadelinha vira-lata apareceu, a Beja, resgatada em Araxá depois de experiências desafiadoras. Ela foi a nossa motivação para continuar. Isso resultou na equipe de voluntários extremamente capacitados e competentes, que seguem no projeto com apoio das irmãs do hospital. O primeiro paciente já estava muito motivado, cheio de expectativas, e certamente foi uma boa experiência. O que observamos hoje é o grande desejo de receber visitas e interagir, mesmo quando o paciente não foi selecionado ou autorizado por seu médico.
Ao longo desses oito anos, que momentos marcaram o projeto pela emoção, por um fato inusitado ou por uma curiosidade?
Foram muitos, dos mais singelos aos mais impactantes. Lembro-me do paciente com paralisia do membro superior pós-AVC em fisioterapia sem sucesso, que movimentou o braço acarinhando um cachorro. Lembro-me também da alegria do paciente com paralisia total após um acidente de carro, que dizia não gostar de cachorro, feliz em dividir o leito com o golden que deitou a seu lado, dando um chega pra lá para se ajeitar ali.
Qual é o perfil dos pacientes que são autorizados a receber carinho dos cães? Qual é o critério de seleção dos animais?
Os pacientes, prioritariamente, são os que estão em internação prolongada, que atendem as normas do CDC americano e são liberados por seus médicos e, por fim, que desejem participar desse momento de vida plena, o momento de interação de dois seres vivos. É pura energia!
Longe do hospital, os cães podem ser aliados na recuperação de pacientes recém-chegados em casa?
Sim, podem, e existem projetos específicos em diferentes instituições e locais. É comum no exterior os grandes hospitais terem o seu mascote.
Como é a sua relação pessoal com os cachorros? O que você observa na relação entre o ser humano e os pets?
Sempre gostei de cães. Só pude criá-los após me casar. Tivemos vários. Nos deram alegrias e suas perdas foram sofridas. Fizeram e fazem parte da história de vida. São fiéis, não nos abandonam, estão sempre prontos para nos receber. Quando filhotes, levados; quando velhinhos, nos mostram a nossa própria finitude. Um verdadeiro presente.