Estou vendo vários movimentos ocorrendo como consequência de as pessoas estarem passando mais tempo dentro de casa. Vou citar alguns: aumento da construção de casas, venda de móveis, compra de televisões, compra de consoles de games e, pela primeira vez, a audiência de plataformas de streaming ultrapassou a de TV a cabo, além de um aumento absurdo de playlists com músicas para meditação. Mas será que vamos absorver todas essas mudanças depois que o mundo voltar ao normal - ou ao “novo normal”?
Tenho a sensação de que estamos trabalhando em modo de guerra. Isto é, estamos nos esforçando além do normal por estar dentro de um regime com muitas limitações. A maioria das empresas está alterando o seu modelo de negócio e incluindo o famoso delivery - ou seja, construindo um universo em que as pessoas não precisam sair de casa para quase nada. Mas será que realmente gostamos de ficar tanto tempo em casa?
Posso apostar que quando o mundo for vacinado contra a COVID, teremos um relaxamento e o aproveitamento do trabalho em casa cairá. Não somos um país acostumado a restrições. Nunca estivemos envolvidos em uma grande guerra e não temos um inverno rigoroso. Dentro da fábula da formiga e da cigarra, estamos mais para cigarra. Gostamos de uma festa e fazer barulho. Somos campeões mundiais de redes sociais e adoramos uma fofoca sobre a vida alheia e das celebridades.
O novo cotidiano de acordar e já estar em seu ambiente de trabalho necessita de muita organização. Será que vamos aguentar ficar dentro de casa, quando a nova realidade apresentar os diversos atrativos do lado de fora?
O home office é muito atraente pelo corte de custos e aumento da qualidade de vida. No entanto, ficar em casa nos isola do mundo. A cultura de uma empresa é passada por manuais de conduta, mas também pela troca constante de informações e encontros nos corredores do escritório.
Não estou falando mal dos brasileiros ao dizer que somos mais próximos da cigarra do que da formiga. Porém, essa é a cultura de países localizados em zonas tropicais. Sobrevivemos sem muito esforço pela facilidade de nosso clima. O Brasil soube aproveitar essa localização privilegiada criando uma agricultura altamente produtiva. Agora, nós vamos resistir à sedução de liberdade, trabalhando em casa, mesmo com a chegada do verão e o sol batendo forte do lado de fora?
Por isso acredito numa solução no meio do caminho. O mundo corporativo não funciona com tanta liberdade. Temos de aproveitar nossa aptidão natural e não sofrer com o que não somos. Dificilmente seremos organizados como os suecos, que têm mais da metade do ano de inverno. Penso que a nossa saída é sermos cigarras produtivas.