No inicio de 1996, o Skank estava preparando o lançamento do álbum que seria o sucessor do "Calango" (disco que contou com muitas músicas tocadas em rádio e, consequentemente, mudou o patamar da banda). Se antes éramos conhecidos em Minas Gerais e alguns poucos estados, passamos a tocar em todas as regiões e as letras das músicas começaram a ser cantadas em todos os shows.
Com esta mudança de patamar, veio a pressão de sermos inovadores novamente. Estou falando de “O Samba Poconé”, que tem Garota Nacional, Partida de Futebol e Tão seu como canções mais conhecidas.
Se antes fazíamos todas as etapas, como criação, gravação e mixagem, no Brasil, a partir deste álbum já tínhamos orçamento para ousar mais. Viver de arte é muito bom, mas viver de arte e poder trabalhar com profissionais reconhecidos internacionalmente é melhor ainda.
Gravamos o álbum no estúdio Mosh, em São Paulo, que é de propriedade do Oswaldo Malagutti – baixista do grupo Pholhas –, que fez muito sucesso nos anos 1970, época na qual alguns artistas brasileiros cantavam versões em inglês. Este estúdio é muito utilizado por cantores sertanejos.
A maioria dos sucessos que conhecemos de Zezé di Camargo & Luciano, bem como Chitãozinho e Xororó, foram construídos e aprimorados lá. Iriamos gravar o projeto no Rio de Janeiro, mas por motivos que um dia contarei, acabamos gravando em São Paulo. Estou falando de uma época em que o Rio de Janeiro era mais conectado com o mundo pop. Atualmente, com tanta tecnologia, isso mudou completamente.
Depois de passarmos um bom tempo na capital paulista, fomos para Nova York fazer a mixagem, enquanto no Brasil a capa estava sendo produzida pelo Gringo Cardia.
“O Samba Poconé” foi o trabalho mais internacional da carreira do Skank, com músicas cantadas em português, espanhol e rap em francês. A participação do cantor francês Mano Chao, em três faixas, trouxe um tempero latino muito importante para o álbum. O que hoje parece normal ao escutarmos no rádio (músicas que misturam as línguas), era improvável no Brasil à época. Penso que foi esta ousadia, junto com um alto padrão de produção, que nos levou, reforçados pelo sucesso de Garota Nacional, a viajar e tocar em outros países.
Vendemos quase dois milhões de álbuns, número absurdo para a época. O mercado musical era outro; o Brasil estava surfando no plano real, a indústria fonográfica brasileira era o sexto mercado do mundo, e a população estava comprando aparelhos de CD para escutar seus artistas preferidos no novo formato.
Passados 25 anos, estamos vivendo uma nova onda, com o amadurecimento das plataformas de streaming que estão crescendo absurdamente na pandemia e devem continuar aumentando seus números. Estou falando de Spotify, YouTube, Deezer, iMusic e outras. Como escutei do meu amigo e empresário Marcelo Azevedo, “demoraram quase 20 anos para acender novamente as luzes e o som que nos leva a um novo baile da indústria fonográfica”. O mercado da música, assim como dos shows, voltou a crescer. E se o baile voltou, bate o bongô, drum machine, bate o xequerê: é hora de voltarmos à festa.