Não é novidade para ninguém que o turismo moderno vai na contramão das experiências de massa, conhecidas também como overtourism. A pandemia acelerou um processo que já vinha sendo pensado em diversos destinos turísticos. Veneza, Roma e Barcelona, são cidades que já estão buscando alternativas para evitar aglomerações há alguns anos. Afinal de contas, independente dos riscos que atualmente corremos quando nos aglomeramos, é fato que um atrativo ou destino lotado compromete muito a experiência turística. Quem nunca se frustrou ao sonhar com uma viagem e ao chegar enfrentou filas quilométricas?!
Essa semana fiz uma enquete no meu perfil no Instagram
, com relação à recente inciativa da cidade de Veneza, divulgada pela revista Viagem e Turismo. A cidade pretende implantar até 2022 um sistema de acesso pago ao centro histórico. Será necessário reservar, pagar uma taxa de entrada e passar por catracas posicionadas nos principais pontos de acesso ao centro histórico. Como se fosse um procedimento de entrada num museu.
Entretanto, apesar do nosso desejo pela (quase) exclusividade, muitas vezes nos deparamos com iniciativas ineficazes, ou até mesmo grosseiras para a contenção do avanço do turismo de massa.
A medida visa principalmente atingir os turistas que passam apenas um dia na cidade, uma vez que esse tipo de turista movimenta menos a economia local, afinal não se hospeda em hotéis e muitas vezes nem utiliza os restaurantes. Claro que a tal enquete dividiu as opiniões. Pois se de um lado não parece fazer muito sentido cobrar para a utilização de espaços públicos, por outro há de se entender que o turismo de massa, sem (ou com pouca) movimentação da economia em relação à carga de pessoas que o destino recebe, pode comprometer a qualidade de vida de quem mora ali e depredar, ou gerar um custo muito alto de manutenção de prédios históricos, além de danos ambientais.
Outra iniciativa que gerou burburinho na internet, foi a tentativa da ilha de Fernando de Noronha implantar pulseirinhas eletrônicas para facilitar os entraves de pagamento na ilha, uma vez que o sinal de internet e telefone é instável na região. Entretanto, a administração local em parceria com a empresa desenvolvedora resolveu inovar de uma maneira muito infeliz. Seriam distribuídas cinco cores de pulseiras, organizadas por cores, que apontariam o status social e financeiro do usuário. A cor roxa seria distribuída para artistas e influencers, a preta para pessoas que depositassem mais de R$10 mil no sistema de pagamento, a azul para depósitos de até R$10 mil.
E ainda, haveriam as cinzas exclusivas para moradores da ilha e a verde, que deveria ser devolvida na saída da ilha. Claro que a iniciativa gerou muitas críticas, onde muitas pessoas entenderam que o destino estava se transformando em uma grande área vip e segregando moradores e visitantes, de acordo com a renda e status. Não deu outra, o destino voltou atrás e desistiu da estratégia, que agora, ao que parece, trabalhará com apenas duas cores: verde para consumidores e cinza para comerciantes. A adesão não será obrigatória, mas acho que também será necessário um esforço extra para trabalhar um pouco a imagem da gestão do destino. Afinal só a ideia já pegou muito mal.
O fato é que iniciativas neste sentido, precisam ser amplamente pensadas, discutidas e implementadas em fases piloto. Veneza, por exemplo, já realizou o teste das catracas em diversos eventos.
O município de Bonito, que sempre cito, vem ao logo de mais de 20 anos implementando ações
de melhoria da experiência turística e sustentabilidade ambiental, econômica e social em suas estratégias, como é o caso do voucher único e a limitação diária de número de visitantes por atrativo.
Não é uma equação fácil, pois é uma matemática que envolve a subjetividade das relações humanas, que deve ter como premissa ser positiva tanto para as comunidades locais, como para as pessoas que querem conhecer os destinos. Como positivo, já vejo populações e turistas opinando sobres as iniciativas, ainda que informalmente. Cabe aos destinos ouvir e propor estratégias que agradem às pessoas e contribuam para o desenvolvimento local e regional a partir da atividade turística.
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