Até para o grande poeta Carlos Drummond de Andrade uma pedra no meio do caminho era um empecilho, mas não para Bento Gonçalves, cidade localizada na Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul. As pedras foram um grande divisor de águas para eles, que transformaram a cidade erguida pelos imigrantes italianos em um destino turístico organizado, reconhecido, visitado e desejado por milhares de turistas. Bento Gonçalves é um destino que soube utilizar as pedras no caminho a seu favor.
Ponto de tropeiros no século XIX, economicamente desenvolvida pelo comércio e atividades agrícolas, no século XX já abrigava diversas indústrias. No final da década de 60 o município se posiciona como grande produtor de vinhos, e desde então vem se consolidando como destino de experiências, e, internacionalmente conhecido como região da uva e vinho, pelo roteiro Vale dos Vinhedos. Mas Bento (como é carinhosamente chamada) é uma fonte inesgotável de experiências turísticas.
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Destinos queridinhos no invernoAruba: que tal Caribe, para fugir do frio por aqui?!Serra do Curral: quando o valor importa menos que o preçoNo sonho da viagem, não cabem falhasBento Gonçalves: conheça o Vale dos VinhedosO Caminho de Pedras começou com o desafio do Sr. Tarcísio Michelon em manter ocupado o hotel do sogro, há 40 anos atrás. Para manter o hotel ocupado, ele precisava que as pessoas tivessem um motivo para permanecerem em Bento. E assim ele foi procurando e estudando a história da cidade, entendendo como as coisas tinham se desenvolvido por ali. Como dizemos os mineiros, ele foi assuntando aqui e ali e descobrindo a história encoberta. Na verdade, literalmente encoberta. Fora da área urbana, havia um caminho com casas cobertas por concreto.
Mas por debaixo do concreto, haviam verdadeiras obras da arquitetura popular. Os imigrantes que vieram para se estabelecer no sul do Brasil, com poucos recursos, utilizavam o basalto, pedra comumente encontrada por lá, para construir suas casas com técnicas que trouxeram da Itália. Mas aquilo era sinônimo de um tempo sofrido e escasso, por isso, quando eles melhoravam economicamente, iam rebocando as casas.
O Sr. Tarcísio descobriu esse tesouro e fez dele o pontapé inicial para o crescimento do turismo em Bento. A partir daí ele percorreu o caminho, apoiando e resgatando a cultura ora deixada de lado. Dali, as pessoas puderam revisitar seus antepassados e seus saberes. Hoje, o Caminhos de Pedra oferece uma enorme diversidade de experiências turísticas culturais, que agradam desde as crianças até os mais velhos.
Na espinha dorsal do caminho é possível ver o primeiro casarão resgatado, que hoje é o restaurante Nona Ludia. Na Casa da Erva Mate é possível ver como era realizado o processamento da erva que produz o típico chimarrão gaúcho. De uma apaixonada por tomates, nasceu a Casa do Tomate, onde é possível encontrar o tomate de todas as formas que você imaginar e mais algumas. Desidratados e hidratados, molho, extrato, suco, pesto, cerveja, sorvete, geleia e mais.
O artesanato é visto e valorizado em diversos empreendimentos como na Casa da Tecelagem e na Casa das Massas e do Artesanato. O ofício da ferraria é lindamente apresentado na Ferraria Ferri, onde contando a história de como a estrutura era essencial para os moradores durante a imigração, o relato da transformação do empreendimento em atrativo turístico emociona até os mais durões.
A estrela do Caminhos de Pedra (se é que dá para escolher) é o Parque da Ovelha. Ali é possível ver a rotina das ovelhas que mais parecem sair de um desenho animado. As crianças adoram, e os adultos voltam a ser crianças por um tempinho. Os produtos são deliciosos! Iogurtes e queijos, que a gente já pode experimentar desde a hospedagem, mostram a verdadeira cadeia produtiva do turismo acontecendo.
E como as coisas por lá não param e a inquietação é enorme, recentemente foi inaugurado o Parque de Esculturas Domadores de Pedra. Idealizado pelo Instituto
Tarcísio Michelon, o espaço a céu aberto foi inspirado no Inhotim e abriga esculturas de artistas de diversas nacionalidades utilizando principalmente o basalto como matéria prima. Para quem quer viver a experiência total no Caminhos de Pedra, pousadas boutiques e restaurantes típicos completam o roteiro.
Com a licença de Carlos Drummond de Andrade, permita à Bento Gonçalves uma pequena adaptação: no meio do caminho tinha uma pedra, aliás tinham muitas pedras, e dessas pedras ergueram-se casas e essas casas contam um pedaço da história do Brasil.
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