Se de um lado Bento Gonçalves mostra toda sua inquietação na valorização cultural com o roteiro Caminhos de Pedra, do outro, parreirais a perder de vista nos transportam para o mundo dos vinhos, onde a inquietação precisa ser acalmada, para que cada época do ano deixe a natureza, e também a tecnologia, produzirem os vinhos mais famosos do Brasil. E de novo a cidade nos abre as portas, dessa vez para entrar no Vale dos Vinhedos.
A imigração italiana é o grande marco da região, quando juntamente com os imigrantes vieram seus hábitos, seus ofícios e sua cultura. Entretanto, a cultura do vinho já era percebida no Rio Grande do Sul no século anterior ao processo de imigração dos italianos. Por volta de 1620, o padre jesuíta Roque Gonzáles de Santa Cruz já havia trazido cepas de origem espanhola.
Mas asvideiras desapareceram quando as missões jesuíticas foram destruídas pelos bandeirantes paulistas.Na metade do século XVIII com a imigração açoriana no litoral gaúcho, eles trouxeram vinhas de origem portuguesa.
A região litorânea, por ser baixa e úmida, não foi propícia ao desenvolvimento vitícola e, portanto, essas vinhas não vingaram. Com a chegada dos imigrantes alemães, o interesse pela viticultura apareceu novamente, afinal eram apreciadores de vinho. As videiras cultivadas eram de origem americana, sendo plantada principalmente a uva Isabel.
Quando os imigrantes italianos chegaram, em 1875, obtiveram as mudas dos alemães, pois as que eles haviam trazido na bagagem secaram durante a viagem, ou então, por serem variedades viníferas, não se adaptaram facilmente à nova terra e acabaram morrendo. Já a variedade Isabel cresceu sadia e vigorosa, devido à fertilidade do solo, à umidade e ao sol quente do verão da Serra.Desse reencontro dos italianos com suas origens agrícolas nascia uma cultura brasileira de viticultura.
Quando um produto não nasce para ser atrativo turístico, hotel, restaurante ou agência de viagens, chamamos de produção associada ao turismo. É uma produção que não tem como principal negócio o turismo, mas que é altamente impactada pelos movimentos do setor.
E foi assim que a região do Vale do Vinhedos se consagrou como roteiro de enoturismo. Não aconteceu do dia para a noite. Apesar de toda essa produção de uvas e vinhos, foi necessária muita organização e espírito associativo para fazer acontecer o destino turístico.
Alguns pontos foram essenciais. Primeiro, os produtores entenderam que juntos podiam construir algo sólido, e que quando se faz algo coletivamente, muitas vezes é necessário abrir mão do individual. Assim nasceu a Aprovale, associação que atua junto aos produtores e transforma a região em destino turístico organizado.
Em segundo lugar, existe a necessidade dos equipamentos e serviços turísticos, tais como hotéis, pousadas e restaurantes que possibilitam que o turista permaneça na região com conforto. E as parcerias também são importantes, como a que a região mantém com empresa de cartões Elo, que sinalizou toda a região do Vale dos Vinhedos, facilitando o deslocamento do turista e reforçando a marca da região.
E, por fim, o reconhecimento como Indicação Geográfica veio em 2002, primeiro com o selo de Indicação de Procedência (IP) e em 2012 com o selo de Denominação de Origem (DO). A classificação confere ao vinho um reconhecimento de que ele obedecea regras específicas em relação ao cultivo da uva e à elaboração do vinho. Você provavelmente já viu essas siglas em alguma garrafa. E a nós, turistas ávidos por qualidade, garante a tranquilidade de que estamos em um destino organizado em todos os sentidos.
Hoje, a região possui 25 vinícolas abertas à visitação, distribuídas em 3 municípios: Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul. No site do Vale dos Vinhedos é possível planejar sua viagem, escolhendo onde visitar, onde se hospedar e escolher restaurantes.
Por lá também é possível escolher uma agência de viagens local para apoiar seu roteiro. E aí, é só escolher a época do ano. Agora no inverno, dá para curtir aquele friozinho romântico e no verão dá para se esbaldar nas festas e eventos da colheita das uvas, a famosa vindima. Destino organizado é assim, é possível frequentar o ano inteiro. Ganha o turista, ganha o destino.
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