Jornal Estado de Minas

ISABELLA RICCI

No sonho da viagem, não cabem falhas

Bem no início da minha carreira, antes mesmo da faculdade de Turismo, eu fiz um curso de “emissor de passagens aéreas nacionais”.
 
Vocês, jovens das gerações Z em diante, provavelmente, não fazem ideia de como era complexo comprar uma passagem aérea.




 
Era tão complexo, que havia até mesmo um curso para o que fazemos hoje com 2 ou 3 cliques na internet.
 
Não sou nem um pouco nostálgica, e não tenho um pingo de saudades desses tempos analógicos.
 
Mas, certas coisas nunca mudam, especialmente quando se trata de serviços.
 
E uma coisa que aprendi lá nessa época, e que a cada dia é mais atual, é sobre a experiência de compra e uso do turista.
 
Um destino ou empresa pode acertar em tudo, mas às vezes, um pequeno deslize ou a falta de um planejamento mais elaborado pode levar por água abaixo o sonho de viagem de uma pessoa.
 
E essa falha, pode estar em qualquer fase do processo e envolve diversos atores, incluindo setor público, iniciativa privada e sociedade civil organizada (ou desorganizada).




 
É o que vem acontecendo no México, que apesar de possuir vários destinos queridinhos dos brasileiros, está oferecendo uma experiência não tão positiva no processo de documentação para entrada no país.

A coluna da semana passada da advogada Luciana Atheniense detalhou como os brasileiros têm passado por perrengues ao providenciar a documentação exigida pelo país. É claro que, cada país precisa trabalhar suas regras de entrada e permanência dos turistas.
 
Isso vale para garantir que a atividade turística aconteça de maneira sadia, e legal para todas partes.
 
Entretanto, as regras precisam ser claras e exequíveis.
 
Ao se criar e implementar uma norma, a operação dela precisa acontecer com eficiência. Caso contrário, cria-se um estresse em toda a cadeia de consumo do turismo.




 
Por mais que alguns teóricos não gostem muito do termo, é fato que o turismo acontece sim em cadeia.
 
Isso significa que, uma peça fora do lugar, gera um efeito dominó, e pode tirar um destino inteirinho do topo das listas de desejo e jogá-lo direto nas listas dos “não vá, se não quer ter dor de cabeça”.

As chances de perrengues em viagens são muitas, e cá entre nós, alguns até dão um certo charme na viagem.
 
Aquela história engraçada que vai ser repetida em diversos natais e encontros de amigos, dá um toque de exclusividade na sua viagem. Mas a linha entre um perrengue chique e uma experiência desastrosa é tênue.
 
Por isso, precisa haver uma certa sincronia na operação das viagens. E engana-se quem pensa que a operação da viagem é responsabilidade apenas das agências e operadoras. Cada um tem um papel bem definido para que uma viagem sofra o mínimo de perrengues.





Por isso, é importante entendermos que cabe ao poder público a estrutura básica de um destino.

Isso significa, a organização de acessos e vias, as políticas públicas, e no caso de países, as políticas de entrada e permanência.
 
Já aos empresários, cabe girar a economia local e regional, através da oferta de serviços, e também produtos, das mais variadas formas.
 
Aos setores, que chamamos de sociedade civil organizada (mas que muitas vezes é bem organizada), cabe pensar os setores do turismo, suas ofertas e demandas conjuntas.
 
Aí entram os grupos de hoteleiros, meios de alimentação, prestadores de serviços e até mesmo grupos com alguma característica específica de um destino. Essa formação parece óbvia, e é mesmo.




 
Mas é como uma orquestra, se tiver um instrumento desafinado, o espectador com ouvido mais apurado vai perceber, se houver outro com o instrumento estragado, mais pessoas irão perceber.
 
E aí, não adianta ter os melhores músicos, porque o maestro (ou no caso do turismo, os maestros) terá muitas dificuldades em terminar o concerto.

É necessário que todo o setor do turismo entenda que a viagem não começa no check in, mas sim lá no planejamento.
 
Quando aquele destino é apenas um sonho e vai tomando forma nas pesquisas pela internet, nas primeiras reservas, na preparação da documentação.
 
Cada passo desse dá um friozinho na barriga, e vai dando forma, ao que antes, era apenas um sonho.
 
Cabe ao setor, garantir que o friozinho na barriga seja passageiro, e que cada viagem seja legal, no sentido mais amplo da palavra.

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