Jornal Estado de Minas

TURISMO E NEGÓCIOS

Itália e Brasil: Umberto Nigi e sua 'Poesia do Equilíbrio'

Não sei se é verdade, mas certa vez ouvi uma história. Um pintor renomado recebeu uma encomenda para um quadro. O cliente perguntou: - Quando o quadro estará pronto?! O artista respondeu: - em aproximadamente um mês. Então, depois de um mês, o cliente voltou para buscar sua obra de arte.




 
O pintor disse o valor, alguns milhares da moeda corrente. Neste momento, o cliente refutou: - mas um valor tão alto para um quadro que levou apenas um mês para ser produzido?! Foi quando o pintor respondeu: - engano seu. Esse quadro levou minha vida inteira para ser produzido. Independente da veracidade da história, ela tornou-se para mim uma realidade.
 
A obra de um artista é fruto de uma vida de histórias, sentimentos, percepções, sensações, dores e prazeres. Por isso, as manifestações culturais e das artes são tão importantes para o turismo, afinal são o principal insumo para a atividade. E a partir de amanhã, poderemos começar a vivenciar a exposição do italiano Umberto Nigi, que mostra que arte e turismo caminham juntos. A exposição que permanece em Belo Horizonte até novembro, apresenta “Cor e Forma: A Poesia do Equilíbrio”. 

Uma vida movimentada trouxe Umberto Nigi para o CCBB Belo Horizonte. Em uma conversa descontraída, ele me apresentou a exposição e contou um pouco da sua trajetória. Nossa conversa reforçou novamente a história do pintor renomado e o cliente que achou caríssima sua obra.




 
Nascido em uma pequena ilha na região da Toscana, chamada Gorgona – que em pleno 2022, ainda conta com apenas 300 habitantes (sim, não escrevi errado) – Umberto Nigi ganhou o mundo. É certo, que como diz o critico de arte Carlos Perktold, “sem os italianos e gregos, nossa cultura ocidental seria impensável como é hoje”. Mas a conversa com Nigi mostrou (e lembrou) como os artistas são exageradamente humanos.
 
Conheci um misto de engenheiro, marido, pai, pintor, escultor, cidadão do mundo e curioso. Histórias de alegria e euforia e momentos de descontentamento e desconsolo marcam sua trajetória até aqui. O saldo é um homem alegre e cheio de vida, que traz em suas telas e esculturas as cores como protagonistas de sua obra. 

Desta minúscula ilha Umberto Nigi foi percorrendo o mundo, e cada local foi transformando-o em um artista sagaz. Como ele mesmo diz, sua obra não é linear e não possui uma linha do tempo de estilos. Ele se permitiu criar livremente, contrapondo com a formação acadêmica e cartesiana da engenharia. Existe coisa mais humana?! Um artista que apresenta em sua obra um caos organizado. Afinal, o caos não é uma palavra negativa como estamos acostumados, o caos é apenas imprevisível.




 
E assim, saindo de Gorgona foi conhecendo o mundo, passando por Livorno, Firenze, Oriente Médio, Nova Iorque, Milão, Jordania, Iraque, Londres. No período pós-guerra em que viveu na Bósnia, não conseguiu produzir arte, diante de tanta dor e tristeza. Mas são do Cairo (Egito), onde viveu durante 8 anos, suas melhores lembranças e o ponto decisivo de mudança em sua trajetória artística, que se iniciou com pinturas figurativas, que retratavam a terra, a justiça social e o trabalho manual do homem do campo, e hoje consolidado como artista abstrato. 

A obra de Umberto é para apreciar e sentir, por isso não cabem aqui detalhes técnicos. Cabe, porém, dizer que sua matéria prima mescla Itália e Brasil, com papel especial encontrado somente na Itália e a juta brasileira, aquele pano do saco que carrega nosso café mundo afora. De acordo com o curador da exposição José Theobaldo Junior, “Nigi, além de ter criado um estilo único, ao aproveitar esses materiais para a composição de suas pinturas e esculturas, de maneira consciente, demonstra e pratica a defesa pelo meio ambiente”.
 
A conexão entre o Brasil e Itália é enorme, as culturas encontram um ponto comum onde ambos se sentem acolhidos. Para fortalecer esses laços, o Consulado da Itália, em Belo Horizonte, faz diversas conexões, intercâmbios e estímulo às duas nações, como é o caso do apoio à exposição de Umberto Nigi: “Cor e Forma: A Poesia do Equilíbrio” e tantas outras iniciativas da cultura italiana na capital mineira. Após conhecer um pouco do artista, vale a pena conhecer sua obra que estará exposta no CCBB Belo Horizonte, de 21 de setembro à 14 de novembro, de quarta a domingo com entrada gratuita. Visitar a exposição é conhecer uma vida apresentada em telas e esculturas, com montagem impecável e sensibilidade extrema. 

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