O primeiro mês do novo governo federal aponta as movimentações das novas lideranças do turismo. De um lado, temos a nova Ministra do Turismo, Daniela Carneiro (a Dani do Waguinho, de Belford Roxo, no Rio de Janeiro) e do outro, o novo presidente da Embratur, Marcelo Freixo. Um de um lado, e o outro, do outro, porque, pelo menos nesse primeiro mês, o que se pode ver é uma atuação estratégica da Embratur, e uma atuação politiqueira e populista do Ministério do Turismo. Aliás, por enquanto, a única bola dentro da nova ministra foi a nomeação de Marcelo Freixo para a Embratur. Por isso, uma comparação entre Ministério do Turismo e Embratur, é inevitável à essa altura.
Primeiramente, é preciso entender claramente o papel do Ministério do Turismo e o da Embratur. Lá nos primórdios do turismo brasileiro, em 1966, foi criada a Embratur. Naquele momento a Empresa Brasileira de Turismo, que 25 depois virou Instituto Brasileiro de Turismo, era responsável por comandar as políticas públicas de turismo no Brasil e a promoção do país. Sim, aquelas propagandas horrendas de uma onça pulando da selva e uma transição para uma mulher seminua sambando, era obra da Embratur. Que hoje, como agência do governo, trabalha arduamente (tal como todos nós brasileiros), para tirar do imaginário estrangeiro que o Brasil é uma selva perigosa, com praias e mulheres lindas disponíveis.
Leia Mais
Rota BH - Curaçao: da Cidade Criativa da Gastronomia ao melhor do CaribeOs melhores destinos LGBTQIA+Queijo: o novo ouro de MinasMinas Gerais: nosso turismo encanta o velho continente
As diretrizes do MTur nesse período fizeram, não só muito estados, mas muitos destinos, darem um verdadeiro salto. Parcerias com competentes empresas de consultoria e especialmente, o Estudo de Competitividade do Turismo, desenvolvido e conduzido pela Fundação Getúlio Vargas, nos deram uma nova percepção técnica da gestão do turismo no país. Era um raio X do setor em alguns municípios, e tinha (aliás, deveria ter tido) uma série histórica. Hoje, teríamos 15 anos de dados colhidos e sistematizados, em uma metodologia. Mas, ainda no governo Dilma, o estudo foi descontinuado, e depois do caos político que o Brasil vem sofrendo desde 2016, nossas políticas públicas de turismo foram só ladeira abaixo.
A entrada do governo Bolsonaro, com ministros que nada fizeram, e a fusão do Ministério do Turismo e da Cultura, resultaram em um grande nada para os dois setores nos últimos anos. Sem estratégia, pudemos assistir alguns poucos técnicos do MTur nadando contra a correnteza, tentando manter um mínimo de argumento técnico, que ou bem ou mal, deixaram a faísca acesa. A Embratur, sem estratégia de promoção internacional, nem interlocução com o exterior, participou de algumas feiras, para “cumprir tabela”. A pandemia, foi o pano de fundo e o argumento para que nada fosse feito. E assim, chegamos em 2023.
Na esperança da retomada do turismo, já sofremos o primeiro susto. No finalzinho de 2022, foi anunciada a nova Ministra do Turismo, Daniela Carneiro. Sem entrar nas questões das páginas policiais que não me competem, ela chega sem histórico nenhum no setor do turismo. Aí vem a pontinha de esperança: “quem sabe ela não estrutura uma equipe técnica competente”. Ainda não vimos nada de relevante. Muitas reuniões e fotos após o primeiro mês, recebemos a diretriz para os primeiros 100 dias. 5 eixos aleatórios para fazer os leigos escutarem o que todos gostariam que fosse verdade, mas que na prática, não passa de um discurso populista.
O primeiro eixo é o diálogo. O diálogo deve permear toda a gestão, não é (ou não deveria ser) um eixo estratégico, mas sim uma condição para que as políticas públicas fluam. Diálogo é meio, e não fim. O segundo eixo é a “sustentabilidade e as mudanças climáticas”, que será a criação de uma coordenação específica na estrutura do MTur para estes temas, que segundo a ministra existirá “para demonstrar a importância desse tema”. Isso é o quer queríamos ouvir? Sim! Afinal, essa abordagem está na moda. Inclusão, combate à exploração sexual e clima. Mas, o caminho não parte do discurso. A nova política do MTur deveria direcionar para esses temas tão importantes, e não ao contrário.
O terceiro eixo é o “Carnaval”. A pauta do momento. Nosso eterno “pão e circo”. Aqui pulamos de um eixo que depende de longo prazo, pois envolve articulação com diversos entes e mudança de comportamentos, e até mesmo de cultura organizacional, para um eixo que acontece em 4 dias. Vamos amenizar, e falar de 30 dias, incluindo planejamentos e resultados posteriores do carnaval. O quarto eixo é a “estruturação de destinos”, com a retomada de obras que estavam paralisadas, o fortalecimento do empreendedorismo feminino com foco no microcrédito, a qualificação profissional e a retomada de inciativas voltadas para o turismo acessível, e junto com a Embratur ampliar o número de turistas estrangeiros. Obviamente que todas as iniciativas são de extrema importância. Mas a estruturação de destinos, não pode ser assim, apenas elencada. O turismo funciona em cadeia, por isso, essa estruturação deve compor uma política pública mais robusta. E, lamento dizer, mas nem se constrói uma estratégia dessa em 100 dias.
E por fim, o último eixo que diz que “passagem barata = turista feliz”, batizado de “preço das passagens aéreas”. A gente bem que sonha em voltar a entrar no site das companhias aéreas e achar aquela passagem de R$50,00. Mas, esse é outro assunto de extrema complexidade. A construção de uma tarifa aérea é baseada em muitas variáveis, e poucas estariam em condições de negociação por parte do poder público, como a tributação e talvez, a atração de novas companhias aéreas para o país. E de preferência as “low cost”. No nosso Brasil continental temos apenas 3 companhias aéreas. Sem concorrência, dificilmente essas tarifas baixam. Mas se ela conseguir, especialmente em 100 dias, eu volto para me redimir. Aliás, torço por isso!
Do outro lado, temos a Embratur. Sob a gestão de Marcelo Freixo, que tem dado um verdadeiro show. Confesso que tem sido um alivio em meio a esses disparates do Ministério do Turismo. No primeiro mês, ele fez reuniões estratégicas, e pelo o que temos visto, bastante produtivas. Trouxe uma equipe técnica, conhecida e reconhecida pelo setor do turismo. Nomes que já provaram que são de extrema capacidade e competência. Hoje, dia 14 de fevereiro, já temos um dia histórico para a Embratur e para os brasileiros. A nova “Marca Brasil” será relançada, em Brasília. Relançada, porque aquela marca linda, do Brasil com “s”, colorida em formato aquarela, foi atualizada e volta a ser a “nossa cara”. O turismo brasileiro volta a ser apresentado de maneira alegre, divertida e cheia de cores. O mercado internacional poderá enxergar o Brasil, novamente, como um destino bem posicionado.
Mas, fica a preocupação. Conseguirá o Ministério do Turismo acompanhar a competente Embratur? Conseguirá a Embratur fazer promoção internacional, sem a retaguarda estratégica do Ministério do Turismo? Vamos aguardar, acompanhar, e esperar que o trade, público e privado, saiba se posicionar e cobrar. Os turistas agradecem. Os estrangeiros e os brasileiros.
Quer conferir tudo sobre turismo e ver a nova Marca Brasil, além de apenas dicas de viagem? Me siga no Instagram @isabellaricci.tur