Jornal Estado de Minas

TURISMO E NEGÓCIOS

Turismo regenerativo: um novo modelo para turistas exigentes


Eu cresci profissionalmente escutando que o turismo é a indústria sem fumaça. Claro, existem muitas controvérsias sobre esta afirmação, o grupo que concorda e o grupo que discorda. Entretanto, é unanimidade que o turismo é uma atividade econômica capaz de crescer de maneira sustentável, levando-se em consideração seus aspectos ambientais, sociais e econômicos.



Não é tarefa fácil. É preciso um pensamento, e planejamento de longo prazo. É preciso também envolver as pessoas, considerando toda a complexidade de unir seres humanos, que muitas vezes não conseguem pensar e agir juntos em prol de um bem comum. Sem falar de todas as questões técnicas de entendimento do tema sustentabilidade, ou na sigla mais contemporânea: ESG.

A boa notícia é que existem diversas iniciativas inovadoras sobre o tema. E cada vez mais podemos perceber que o movimento de poucos transforma a realidade de muitos. Uma aliança criada no sul da Bahia, para ajudar as pessoas e empresas que trabalham com turismo, e também comunidades de destinos turísticos, a reduzir os impactos negativos e aumentar os benefícios que o turismo pode gerar, tem levado bons resultados a destinos que cresceram com o turismo de massa e que agora se reinventam, através do turismo regenerativo.

A aliança Futuri Brasil foi idealizada pela ONG Conservação Internacional, e atua inicialmente nos municípios de Una, Canavieiras, Belmonte, Santa Cruz Cabrália, Porto Seguro, Prado, Alcobaça, Caravelas e Nova Viçosa, na região do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, no Sul da Bahia, casa da maior diversidade marinha do oceano Atlântico Sul. Nessa região com características naturais singulares e de grande importância biológica, com um trade turístico muito experiente e uma enorme diversidade cultural e histórica, a aliança propõe uma série de prioridades. Entre elas estão fortalecer as áreas protegidas, formar uma governança para integrar os atores do turismo no território, apoiar a implementação de melhores práticas no turismo e na criação de novos roteiros mais sustentáveis, gerando melhor distribuição de renda, valorização e protagonismo da comunidade local e conservação e restauração do meio ambiente.



A iniciativa é parte do projeto Turismo+Sustentável da CI-Brasil, financiado pelo Fundo Abrolhos T&M, Instituto humanize, Uxua Casa Hotel & Spa, e WWF e que também conta com o apoio do setor público (SETUR – Secretaria de Estado de Turismo, Secretarias municipais e estadual do Meio Ambiente, ICMBio), Câmaras Técnicas de Turismo, setor privado, terceiro setor e comunidade local. Setores que, juntos, buscam incentivar e promover a interação entre os aliados da aliança e a troca de experiências bem-sucedidas na adoção de práticas sustentáveis, propondo também a parceiros e fornecedores critérios mínimos de sustentabilidade e a oferta de serviços de impacto positivo para a natureza, os turistas e os próprios moradores.

“A Futuri promove maior integração entre o trade e a comunidade, possibilitando trocas de experiências e elaboração de novos produtos que diversifiquem e aprimorem a visita do turista, dispersando assim a pressão humana no território, criando oportunidades de negócios e distribuição de renda, regenerando a natureza e proporcionando a melhoria na qualidade de vida dos seus moradores” explica Thais Guimarães, coordenadora do projeto na CI-Brasil.

O consultor técnico Martin Frankenberg, ex-presidente da Associação Brasileira de Viagens de Luxo e cofundador da agência de viagens Matuete, comenta: "Futuri é uma iniciativa de classe mundial, do tipo que aplica metodologias que vemos nos destinos mais progressistas e bem administrados do mundo".



Um grupo tão heterogêneo que consegue unir desde meios de hospedagem de luxo às comunidades locais são um grande salto para o pensamento na gestão do turismo no Brasil. Afinal, empreendimentos de luxo sempre estiveram distantes das populações locais, quase inatingíveis. Essa distância, além de gerar resistência com o setor o turismo (com razão), acabava por favorecer apenas os empreendimentos, sem considerar o local onde eles estavam estabelecidos. A tendência é que, ao longo do tempo, os visitantes e turistas, especialmente os mais conscientes, sintam-se incomodados com esse cenário, criando assim um ambiente inverso ao discurso da sustentabilidade.

Neste sentido, a iniciativa da aliança Futuri Brasil já consegue apresentar resultados reais. Como é o caso da APA Estadual de Santo Antônio, em Santo André (Cabrália). A Associação Barracas do Pontal, através de mentoria, participou de aulas e liderou a implantação de diversas ações, como a implantação de lixeiras para coleta seletiva do lixo na praia, a compra do triturador de coco para destinação e uso do material que antes era descartado , a inserção de placas para conscientização sobre os ninhos de tartaruga da praia  e a substituição de plástico de uso único em algumas barracas, como o uso do coco para servir drinks, por exemplo. 

Em Caraiva, a Pousada Casa de Paixão, que está dentro do Parque Nacional e Histórico do Monte Pascoal e sua orla na Reserva Marinha de Corumbau, implantou diversas práticas mais sustentáveis como curso de governança/camareiras para a comunidade, capacitando dezenas de pessoas para hotéis locais, separação e destinação correta de resíduos, lavanderia e processos de governança que reduzem o uso de material de limpeza, ações de comunicação e conscientização do hóspede, entre outras. E como essas, são diversas as iniciativas, aplicáveis no dia a dia do pequeno empreendedor que ajudam a sustentar o turismo nas comunidades. 





As ações podem ser vistas agora, mas os resultados mais substanciais somente poderão ser percebidos no futuro. Por isso, trade, comunidades e turistas precisam ter mais claro do que nunca que estamos em fase de construção. O que nos parece invisível agora, saltará aos olhos no futuro e nos trará mais bem-estar. Afinal, além de desfrutar de experiências de qualidade e estarmos integrados às comunidades locais em nossas viagens, vamos saber que inciativas como essa nos educam para termos a tranquilidade de saber que nosso consumo de turismo não gerou dano, e pelo contrário, ajudou a desenvolver o destino que visitamos.

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