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Estado de Minas TURISMO

Embratur x SESC/SENAC, e a polêmica dos 5%

Acredite, o turismo não quer, e nem pode comprometer a cultura e a educação do Brasil


09/05/2023 07:15 - atualizado 09/05/2023 07:32
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Áreas de exposição do MASP, na cidade de São Paulo e no Museu do Louvre, na capital francesa, Paris
Áreas de exposição do MASP, em São Paulo e no Museu do Louvre, em Paris (foto: Isabella Ricci/Acervo pessoal)
Antes de tratarmos da polêmica em si, é importante entender de onde vêm os recursos das instituições Sesc e Senac, que todos sabemos da grande importância para o país.

De acordo com o próprio Portal da Transparência do Sesc, “o Sesc é mantido por empresários do comércio de bens, serviços e turismo. Os recursos utilizados para a manutenção do Sesc vêm do recolhimento compulsório de 1,5% calculado sobre a folha de pagamento das empresas do setor, conforme estabelecido pela Constituição Federal.

O recolhimento é feito pela Receita Federal do Brasil, que retém, a título de despesas de arrecadação, 3,5% do total arrecadado, conforme o §1º do artigo 3º da Lei 11.457, de 16 de março de 2007”. Além desse recurso, as instituições ainda possuem serviços pagos e realizam investimentos dos recursos que, eventualmente, ficam parados.

Portanto, cá para nós, dizer que essas instituições estão sob ameaça de desmantelamento, é mais do que um exagero, é um total absurdo. A chance de desmantelamento se daria se não existissem mais empregos formais nos setores de bens, serviços e turismo no Brasil. Outra hipótese bem difícil de acontecer, e que nada tem a ver com a Embratur.
 
Seguindo o raciocínio, vamos agora entender o papel real da Embratur para o turismo brasileiro. Ela é responsável pela promoção internacional do Brasil, e ponto. A Embratur não é responsável pela promoção interna, não é responsável por gerir as políticas públicas do setor e tão pouco, é responsável por estruturar a cadeia produtiva. E promoção turística é cara, caro leitor. Participar de feiras internacionais e criar ações de marketing para serem veiculadas fora do país, é caríssimo. Afinal, não se negocia no exterior em real. A Embratur, além dos recursos, depende muito do câmbio.
 
Sabe quando você viaja para Paris e fica horas na fila do Museu do Louvre (praticamente sem reclamar), ou quando tenta desesperadamente conseguir um ingresso concorrido para um espetáculo da Brodway em Nova York? Então, você é, neste caso, um turista que está consumindo cultura. E como você chegou lá? Porque existe um posicionamento de que consumir cultura nestes destinos é bacana.

Quando você viaja para um destes locais e consome turismo cultural, você mostra que existe demanda para a cultura e assim, esse sistema econômico, que envolve cultura e turismo, se retroalimenta o tempo todo. Mas, por aqui, a gente quer o Louvre e a Broadway sem fazer esforço, sem promover o que temos. E nosso comportamento ainda piora, pois quando viajamos para um destes locais, ficamos idealizando como seria aqui no Brasil, com tanta cultura que temos para mostrar ao mundo.

E fazemos o quê? Saímos esbravejando aos quatro ventos que não entendemos o por quê de o Brasil não fazer nada parecido. E eu te conto o porquê! Porque nós não tratamos a cultura como atividade econômica. Porque não entendemos que turismo e cultura são complementares, e não rivais. Porque a nossa cultura ainda é sim muito elitizada.
 
Pensando nessa cadeia, vamos refletir sobre a polêmica dos 5%. Quanto mais turistas tivermos, mais teremos a nossa cultura demandada. E quanto mais turistas tivermos, mais empregos teremos. De acordo com o novo CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), só até outubro do ano passado, o turismo criou mais de 234 mil novos empregos no país. Portanto, se temos mais turismo acontecendo no país, temos mais empregos, e se temos mais empregos, temos mais arrecadação, e se temos mais arrecadação teremos mais recursos financeiros destinados ao Sesc e Senac.

Vamos agora exemplificar. Vamos dizer que o Sesc/ Senac arrecadam em um ano R$ 100 (hipoteticamente, claro). 5% destinados à Embratur, deixariam R$5,00 para a Embratur e R$95,00 para o Sesc/Senac. Então, neste entendimento de parceria, de que o turismo precisa da cultura, tal qual a cultura precisa do turismo, os esforços de promoção internacional, resultem em um grande aumento de empregos formais, e a arrecadação dobre (para fins desse cálculo, apenas). Assim, R$100,00 viram R$ 200. Portanto, os 95% do Sesc/ Senac passam a valer R$ 190, e os 5% da Embratur, R$ 10. Ou seja, com um trabalho compromissado e de apoio mútuo, 95% valerá muito mais do que 100%.

Para isso, precisamos de uma sociedade que entenda que o Brasil é um só, e setores isolados não desenvolvem o país, e muito menos nossa população e economia. Não precisamos ser tão ferozes, onde cada um só pensa no seu, e só defende o seu, como se todos os outros quisessem o seu fracasso. 

A cultura é um dos insumos mais importantes do turismo. Não se faz turismo sem educação. Então o turismo não ameaça nenhum setor, muito pelo contrário, ele integra diversos setores. Uma das frases mais tristes que vi sobre esse tema, foi: “eu sei que o turismo deve precisar desse recurso, mas o Sesc/ Senac estão sob ameaça.

Que o turismo vá buscar seus recursos em outro lugar”. Por isso, termino este texto na esperança de que haja uma reflexão sistêmica, que ninguém quer “desviar” ou “cortar” recursos de entidades de extrema relevância, que esses verbos sequer deveriam ser usados nesse caso. E que, uma vez exista esse entendimento e essa cooperação entre setores tão importantes, caiba à Embratur gerir o recurso com transparência e estratégia, e em breve, nos mostrar em números, que valeu à pena acreditar e apostar no sucesso da promoção internacional do nosso Brasil.

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