Jornal Estado de Minas

TURISMO E NEGÓCIOS

Turismo e o fim da emergência global da COVID-19

No último dia 8 de maio, o diretor-geral da OMS (Organização Mundial da Saúde), declarou o fim da COVID-19 como uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII). 1221 dias separam a oficialização do início da pandemia e o fim da emergência sanitária global. No entanto, a OMS declara que, apesar da ótima notícia que nos enche de esperança, ainda precisamos estar atentos ao vírus e suas mutações. Os números que colhemos da pandemia são aumentados quando avaliamos as diversas vertentes econômicas impactadas no período. E um dos mais atingidos foi o setor do turismo, afinal, uma atividade que depende de deslocamento e, muitas vezes, de aglomerações, precisou se reinventar.





O setor do turismo movimenta mais de 50 setores econômicos, direta e indiretamente. Portanto, os efeitos da pandemia do Covid 19 para o turismo chegaram a ser catastróficos em alguns destinos e subsetores do turismo. Por outro lado, muitos destinos e empreendimentos, souberam se reinventar ou adiantar estratégias que já estavam pensadas. 

Para estes, a notícia do fim da emergência global acaba tendo pouco impacto. Para Luciano Bonfim, diretor Comercial da Vital Card, de modo geral, “o impacto é baixo porque os brasileiros já estavam viajando desde a flexibilização em vários destinos”. Ainda assim, ele reforça que acredita que o anúncio vá apressar a tomada de decisão de quem ainda não se sentia confortável. “É possível que, em alguns casos, esse anúncio apresse a tomada de decisão para programar as férias de julho e de dezembro, ou as iniciativas corporativas”, diz. No entanto, o executivo destaca a mudança de posicionamento do seguro, que hoje figura entre os cinco principais itens na hora de organizar a viagem. “Acreditamos que houve uma mudança efetiva no hábito de adquirir o seguro-viagem pelo viajante, principalmente na importância do seguro-viagem em relação a custo x beneficio”, reforça Bonfim. Aliás, entender a importância de se preparar para eventuais problemas durante uma viagem foi um dos grandes aprendizados da pandemia.

Ana Santana, diretora das empresas Schultz Brasil, uma das maiores operadoras do país, destaca que o mercado já vem em uma curva ascendente de aquecimento desde 2022 e que, este ano, o número de embarques pelas empresas Schultz vem registrando recordes históricos. “As vendas já estavam muito boas, mas agora, com o fim da emergência de saúde pública internacional decretado pela OMS, certamente a demanda aumentará e estamos prontos para atender. É preciso considerar que estas vendas serão impulsionadas pelo fim de restrição de entrada em países como Estados Unidos, que vão deixar de solicitar comprovação de vacina contra Covid-19 a partir do próximo dia 12", reforça a executiva.





As grandes mudanças no segmento corporativo também tendem a se flexibilizarem um pouco. Afinal, cá para nós, ninguém aguenta mais tantas reuniões e eventos online. Que atire a primeira pedra aqueles que não estão cansados de se arrumar apenas da cintura para cima. Neste sentido, outro executivo expõe sua percepção. Para Fernando Kanbara, gerente-geral do Grand Mercure Curitiba Rayon, “o impacto de curto prazo é a normalidade que, para mim, é o principal ponto. Hoje conseguimos realizar todos os eventos e alcançar a capacidade máxima dos espaços do hotel (eventos, restaurantes). Com isso, a receita tem voltado ao normal”, diz, complementando que no médio e longo prazos, o principal efeito é o de uma previsibilidade maior nos cenários de controle, especificamente de uma demanda mais normalizada. “Ainda existe uma tendência natural de mais viagens de carros por conta dos aumentos de custo com passagens aéreas. Penso que essa normalidade no médio prazo deve voltar a ocorrer. No entanto, entendo que o principal efeito a longo prazo é o retorno dos eventos presenciais, como grandes convenções com mais de 300 pessoas. Isso é muito positivo para nós. O turismo precisa desse respiro e dessa normalidade”, reforça.

Umas das grandes questões da volta à normalidade, passa, naturalmente, pelas tarifas. Afinal, mesmo com as pessoas ávidas por viagens, o setor do turismo acabou tentando aumentar o ticket médio, a fim de tentar recuperar os prejuízos acumulados no período da pandemia. De todos (hotelaria, agenciamento, passeios, restaurantes e transportes), o que mais ainda nos faz sofrer é o setor aéreo, que além nos fazer amargar o cancelamento de inúmeros voos durante a pandemia e inúmeras negociações quando pudemos voltar a viajar, ainda não é competitivo o suficiente para tornar as passagens mais acessíveis. Com tão poucas companhias aéreas operando um país das proporções do Brasil, dificilmente alcançaremos os grandes fluxos que nossos destinos já conseguem receber.

Entretanto, há também quem se preocupe com a tendência de perda de espaço no turismo interno. “A gente estava com uma performance muito boa nos destinos domésticos, com uma circulação muito forte de pessoas e parte delas já está optando por retomar as viagens internacionais ou até encontrando opções de custo-benefício mais vantajosas pelo desafio do valor do aéreo no Brasil”, diz João Cazeiro, diretor de Desenvolvimento da Livá Hotéis & Resorts, administradora e gestora profissionalizada de multipropriedade.





Do ponto de vista prático da operação, é bom saber que o que foi aprendido segue em execução em muitos empreendimentos. Segundo Gabriel Fumagalli, CEO e co-fundador da Xtay – plataforma digital de moradia multistay, que opera em sistema de short e long-stay: “continuaremos com os mesmos critérios de limpeza nos apartamentos e com o uso de álcool gel nas dependências das unidades Xtay por ajudar a evitar qualquer outro tipo de gripe ou virose. Em relação a tecnologia, nossa proposta é prover hospedagens sem burocracia, sem contato e com interações 100% digitais, por isso contamos com um check in/ out automatizado por meio de nosso App para que o cliente tenha privacidade e uma autonomia maior de ir e vir sem contato físico com a portaria”.

Chile, que tem nos brasileiros o segundo maior número de turistas estrangeiros (20% do total), destaca que a medida permite que a indústria retome o tão esperado cenário de normalidade. “O turismo receptivo está em plena reativação, aliás, esperamos que em 2023 cheguem ao nosso país 3,5 milhões de turistas estrangeiros e esperamos que este anúncio venha dar um novo impulso a este processo. Esta é uma grande oportunidade para promover o Chile como um destino único e de classe mundial”, assegurou a subsecretária de Turismo, Verónica Pardo Lagos.

Já para a autoridade brasileira responsável pela promoção do Brasil no exterior, a Embratur, que busca trazer o público internacional para consumir turismo no Brasil: “o fim da emergência sanitária é um marco temporal importante, mas efetivamente a indústria do turismo teve uma grande retomada no ano passado, e as expectativas de todos os organismos globais é de que neste ano de 2023 a gente consiga recuperar os patamares de pré-pandemia em número de viajantes. A novidade é que o consumo do turismo no pós-pandemia incorpora valores de sustentabilidade cada vez maiores. O nível de exigência desse turista mudou, e a pandemia nos ajudou a acelerar processos que conferem sustentabilidade ao turismo, usando fortemente a soluções de tecnologia. O turismo na pós-pandemia já é compreendido como uma das atividades econômicas que mais gera emprego e induz sustentabilidade no mundo”, analisa Marcelo Freixo, presidente da Embratur.

Uma análise por quem faz o turismo acontecer no Brasil é essencial para entendermos o comportamento do setor nos próximos meses. Utilizar o turismo como atividade de lazer ou negócios, mas também entender o impacto do setor na economia e desenvolvimento do país, nos torna um povo mais consciente, e nos faz enxergar oportunidades de crescimento e de geração de emprego e renda.

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