“Somos todos a floresta amazônica.” De repente, o mundo inteiro se preocupou com a floresta, pulmão do mundo, que arde em chamas há semanas. O jogador Cristiano Ronaldo chegou a publicar uma foto de uma queimada em outro lugar, indicando que era a nossa floresta. Li uma frase interessante na internet: “O povo não rega nem a samambaia na varanda, quer defender a Amazônia”. Realmente, depois que as redes sociais surgiram, cada um escreve o que quer, se preocupa com o que quer, sem mesmo saber o que está falando ou sobre o que está falando. Jogadores com milhões de seguidores, então, escrevem bobagens e mais bobagens, e aquilo vira verdade absoluta.
Outro dia, o influencer Whindersson Nunes postou uma foto, em seu avião, com a bunda pra fora. Teve milhões de visualizações. Realmente, o mundo tá virado de cabeça para baixo. Os valores morais estão invertidos.
Quando a gente vê Neymar, em guerra com o PSG, mendigando a transferência para Real ou Barcelona e pedindo salários anuais de R$ 150 milhões, a gente percebe que realmente o futebol não tem mais jeito. O cara deve ter R$ 1 bilhão em patrimônio e dinheiro, às vésperas de completar 28 anos, sem ter sido campeão do mundo, sem ter ganho Liga dos Campeões como protagonista, sem ter ajudado o Brasil a conquistar taças. É assim que funciona o futebol do marketing, das redes sociais, dos videogames. Confesso que nem tenho coordenação motora para jogar Fortnite e outros jogos modernos. Nem sei se Neymar é vencedor nos games dos meninos de hoje em dia, mas, na vida real, essa que não existe no Instagram, pois ninguém posta derrota e só vitórias, ele é um perdedor.
Para muita gente, ser milionário é ser vencedor. Não penso assim. A realização profissional é a maior riqueza que podemos ter. O dinheiro, sem a realização, não vale nada. Recentemente, Whindersson Nunes teve depressão. Saiu da pobreza, no Piauí se não me engano, e deu um salto gigantesco na carreira.
Eu o conheci em Londres. Pedi-lhe que mandasse uma mensagem para meus filhos, que o seguiam. Eu nem sabia quem ele era. Não estou aqui tirando os méritos de ele de ter ficado rico com seu trabalho, apenas constatando o que vale para o mundo hoje. Sempre vou preferir enaltecer a minha professora, que tanto me ensinou; o médico, que muitas vezes me salvou; o cientista, que tantas vidas preservou com sua descoberta. Eles podem não estar ricos, mas estão na história, que um dia nem vai se lembrar das subcelebridades criadas pelas redes sociais.
Admirei a coragem do apresentador do JN, Willian Bonner, que simplesmente deletou seu Instagram e preferiu viver o mundo real, de verdade, como ele mesmo disse. Ainda uso meu Instagram como ferramenta de divulgação do meu trabalho. Mas estou pensando em fazer o mesmo.
O futebol, de cifras bilionárias, de números e salários irreais, caiu no mundo inteiro. Quanto pior, mais dinheiro tem, justamente por essa “modernização” e pelas divulgações em redes sociais e de marketing. Um dia eu disse ao maior jogador da história do Cruzeiro, Dirceu Lopes, que ele tinha nascido na época errada, pois se jogasse hoje não teria dinheiro no mundo para pagar pelo seu talento. Ele me corrigiu e disse: “Jaeci, eu joguei na melhor época do futebol. Época de grandes gênios e craques, romântica, onde nos divertíamos e ganhávamos para isso. Sou muito feliz de ter jogado na melhor época do futebol brasileiro e mundial”. Ele está certo.
Viram como o dinheiro não é tudo? Ele não tem os iates, helicópteros e aviões de Neymar, Cristiano Ronaldo e Messi, mas, com certeza, tem o maior tesouro de todos: o reconhecimento de uma geração, como a minha, que bate palmas até hoje para Dirceu, Piazza, Natal, Humberto Ramos, Dario, Éder, Reinaldo e Cerezo. Portanto, que cada um vá regar sua samambaia e deixe a floresta amazônica em paz. Posar de bonzinho sobre uma coisa que nem sabe do que se trata é a maior das demagogias!