É uma pena que os técnicos brasileiros, em sua maioria, não tenham percebido o bem que o português Jorge Jesus está fazendo ao futebol brasileiro. Tirando os radicais (em todo lugar existem os xiitas), tenho conversado com atleticanos, cruzeirenses, botafoguenses, vascaínos, corintianos e palmeirenses, que dizem adorar ver o Flamengo jogar porque o rubro-negro está resgatando o nosso verdadeiro futebol, aquele que estava adormecido pela mediocridade dos treinadores brasileiros, aqueles velhos conhecidos, rabugentos, ranzinzas, mal preparados, que não estudam e nem se reciclam. Vejo a maioria torcendo para que Jesus não ganhe nenhum título, para cair de pau no português. O ser humano é assim. Ele prefere o próprio fracasso ao sucesso do outro. Gente pobre de espírito, que pensa pequeno, que é revoltada com a vida.
Não adianta, ainda que haja um fracasso, em termos de títulos – no que não acredito, pois o Brasileiro está praticamente na Gávea e a Libertadores é uma possibilidade real –, Jesus já marcou seu nome, mostrando como se faz futebol, como não se deve priorizar uma competição, como marcar o adversário em seu campo do começo ao fim do jogo, como variar esquemas táticos durante uma partida. Enfim, a cultura europeia está disseminada aqui. Um grãozinho foi plantado. Que os jovens técnicos brasileiros possam aprender e empregar nos clubes.
Outro dia escrevi que prefiro perder jogando bonito a ganhar jogando feio. Fui elogiado pelos meus contemporâneos e achincalhado pelos jovens, que não sabem o que é futebol de verdade. Não é culpa deles. Cresceram numa cultura onde “ganhar a qualquer preço” é o que importa. Um exemplo recente é o Palmeiras campeão de 2018 com Felipão. Futebol de dar dó, pobre, de pancadas e retrancas.
Curiosamente, técnicos gaúchos como Felipão, Mano Menezes e Tite ganharam assim, e isso virou moda no Brasil. Esqueceram-se dos craques, dos talentos, do drible, do passe, do gol. A palavra de ordem entre eles é: “mata a jogada”. O futebol gaúcho sempre se caracterizou pela forte marcação, mas não por essa pobreza de espírito. Não citei Dunga porque ele jamais ganhou nada. Foi inventado como técnico e um fracasso real. Sei também que não será do dia para a noite que voltaremos a ser o melhor futebol do mundo, mas algo é preciso ser feito urgentemente.
Tite nos enganou durante as eliminatórias, com vitórias sobre os sul-americanos. Ganhou até amistosos da Rússia e Alemanha, na casa deles, mas no Mundial foi um fiasco. Já lancei na Rádio Tupi e no meu canal youtube.com/JaeciCarvalhoesporte a hastag #foratite. É preciso mudar a filosofia de jogo, os conceitos, a mensagem aos jogadores.
Eu chamaria Jorge Jesus depois que o ano terminar, para que ele possa mudar a nossa história, das categorias de base à Seleção principal. O problema é que Tite, “encantador de jornalistas e dirigentes” como muito bem o definiu o gênio da bola Paulo César Caju (e quem não o viu jogar, perdeu um dos maiores talentos que tive o prazer de ver), deverá permanecer até 2022, quando teremos mais um fracasso.
Há uma luz no fim do túnel chamada Jesus. Cabe aos dirigentes entenderem a mensagem e pedir a ajuda do homem! Ele pode nos salvar, nos redirecionar aos nossos melhores tempos. O Flamengo tem um grande time, mas não há craque jogando lá. Há excelentes jogadores comandados por um maestro, que não é preguiçoso, não poupa jogadores, respeita as competições, faz um trabalho honesto e entra em campo, no fim do jogo, ganhando ou perdendo, para dar bronca pública em quem não cumpriu sua determinação tática.
Outro dia entrevistei para a Rádio Tupi o ex-goleiro do Cruzeiro e Benfica, Artur Moraes. Ele me disse que conversa com Jesus toda semana, é que é o melhor técnico que já teve. Perguntei o motivo de o português não ter ganhado uma Champions, questionamento dos invejosos técnicos brasileiros. Artur disse: “Jaeci, você acompanha a Champions há décadas, já cobriu 11 finais, sabe que o poderio de Real Madrid, Barcelona, Bayern, Milan e dos times ingleses, em termos econômicos, é 10 vezes maior do que o das equipes portuguesas. É muito difícil um time português contratar os melhores jogadores, não têm dinheiro para tal”.
Então, técnicos brasileiros invejosos, está aí a explicação. Tivesse Jesus treinado um gigante da Europa, já teria a sua Champions também. Em vez de invejar, por que não copiar? É a melhor forma de ter sucesso e dar qualidade ao nosso futebol. O resto não passa de intriga de técnicos perdedores, recalcados e ricos por enganarem há tantos anos no nosso falido futebol. Obrigado, Jesus!