Esta semana estou me deliciando com uma das maiores seleções que vi jogar. A de 1982, de Telê Santana, Zico, Cerezo, Éder, Falcão, Luisinho, Oscar, Leandro, Júnior, Sócrates, Waldir Peres e Serginho. Os dois últimos eu contesto. Waldir Peres levou um frangaço na estreia contra a Rússia, e era um goleiro bem normal. Raul e Leão deveriam ter sido chamados. Eram os melhores goleiros da época. Serginho só estava lá porque Careca fora cortado e Reinaldo, machucado, não pôde ir. No mais, um timaço, gênios da bola, que encantaram o mundo e, mesmo sem vencer a Copa da Espanha, estão na história entre as três maiores seleções de todos os tempos. A geração “nutella” de hoje jamais entenderá isso. Ela só pensa em vencer a qualquer peço, com futebol feio, de retranca, de pegada, de pancada. E os jovens acham que estão certos. Fazer o quê? O que temos para hoje é uma geração alienada. A Itália foi a campeã do mundo em 82. Se classificou aos trancos e barrancos na primeira fase e embalou depois de derrotar o Brasil por 3 a 2. O empate era nosso, mas esses gênios não sabiam jogar para empatar. Tinham time para vencer e estiveram classificados com o 0 a 0, 1 a 1 e 2 a 2. Mas era dia de Paolo Rossi, que marcou os três gols da vitória italiana – não havia marcado até então – e tornou-se artilheiro da Copa, com seis. Por isso mesmo, o futebol ficou mais feio e pobre, pois o esquema que prevaleceu no mundo foi o da retranca, dos técnicos Mano Menezes, Felipão, Tite e outros. Tivesse o Brasil vencido a Copa e o futebol de hoje seria da arte, da técnica, do gol.
Agradeço ao SporTV por reprisar esses jogos memoráveis. Lamento não colocarem os narradores e comentaristas originais, mas faz parte. No jogo de terça-feira, Brasil 2 x 1 União Soviética, vi dois golaços de dois gênios. Sócrates marcou o primeiro. Éder, o segundo, numa pintura de jogada que começou com Paulo Isidoro, o corta-luz de Falcão, a levantada na bola por Éder e o chute que o goleiraço Dasayev nem viu onde a bola entrou. Não saiu nem na foto. Não me contive: liguei para Éder e disse: “Cara, você jogava demais, obrigado por tudo”. Éder é um amigo de longa data, pois cobri a Seleção Brasileira em 1986, pela TV Globo, na Toca da Raposa, e fiquei amigo dessas feras todas. Discordo de PVC, que elegeu Sócrates como o melhor em campo. Éder jogou muito mais. Estava em todos os lugares do campo, chutou várias bolas e fez cruzamentos precisos. O problema é que Dasayev estava inspirado. PVC é um craque nos números, sabe tudo, tem uma memória genial e é um grande profissional. Mas nunca deu um chute na bola. Entende pouco de esquema tático e não enxerga bem o jogo. Não é crítica, e sim uma constatação, pois o considero um grande jornalista. O Éder só faltou fazer chover em Sevilha, num gramado horroroso.
A Copa do Mundo era curiosa naquela época. Vi Júnior descendo no fosso para pegar a bola e recolocá-la em jogo. Não havia gandulas. Os espaços eram bem maiores e os caras tinham mais tempo para dominar a bola e pensar a jogada. Um meio-campo com Cerezo, que não jogou contra a Rússia porque estava suspenso, Falcão, Zico e Sócrates nós nunca mais veremos. Hoje nos contentamos com Paulinho, Renato Augusto, Filipe Coutinho e Neymar. Viram a diferença abissal dos gênios daquela época para os “nutellas” de hoje? A única desculpa que lhes resta é a de dizer que aquela Seleção não ganhou a Copa. É verdade, mas ficou na história entre as três melhores do mundo, mesmo sem ganhar. A história mostra que vários gênios não foram campeões do mundo: Puskás, Platini, Di Stefano, Zico, Éder e muitos outros. Mas isso não os diminui e nem tira deles a genialidade de terem sido craques de verdade, encantado o mundo e os amantes do verdadeiro futebol. Ronaldo Fenômeno jamais ganhou a Champions League, mas está na história entre os melhores centroavantes que já vimos. Ganhar ou não é um detalhe. Só uma equipe pode vencer, mas jogar bonito, dar show e espetáculo é para poucos. E a Seleção de 82 tinha essa magia, essa genialidade. Sou grato a esses monstros sagrados. Se eu já amava o esporte bretão desde pequeno, aos 22 anos, quando vi esse time jogar, me apaixonei ainda mais por ele. Que arte, que toque, que genialidade, que gol! Convivi com todos eles e hoje sou amigo da maioria, alguns trabalhando conosco, casos de Júnior, que continua na Globo, e Falcão, que lá esteve por muitos anos. Cerezo, Reinaldo, Éder e Luisinho são eternos amigos, assim como Zico, meu ídolo maior pelo fato de eu ser flamenguista. Quem viu o saudoso mestre, Telê Santana, e vê os técnicos de hoje, com algumas exceções, tem mesmo que chorar. Eu choro todos os dias quando vejo a geração “nutella” endeusar os treinadores atuais.
Ontem, tivemos Brasil 4 x 1 Escócia. Os escoceses marcaram primeiro. Zico empatou com um golaço em cobrança de falta. Oscar fez 2 a 1, de cabeça. Éder fez 3 a 1, numa pintura de gol, por cobertura, e Falcão marcou o quarto, numa pancada, de fora da área. Oh saudade! Gostaria muito que os técnicos e os jogadores de hoje assistissem a esses jogos. Talvez eles não entendam a filosofia de jogo e a qualidade desses gênios da bola. Sou saudosista sim, pois vi os melhores de todos os tempos. Em 1970, eu também vi a Seleção de Pelé, Jairzinho, Gérson e Rivelino. Genial também. Para mim, são as duas seleções que estão na história. Obrigado a esses gênios por nos mostrarem o verdadeiro futebol. O que se pratica hoje no Brasil e pela Seleção de Tite, pois ela não é brasileira, e sim dele, é tudo, menos futebol. Recordar é viver, e esta semana eu e toda a minha geração estamos revivendo o que havia de melhor no nosso futebol. Obrigado SportTV. Obrigado Zico e companhia. Vocês estão eternizados como os grandes campeões em nossas memórias e em nossos corações.