A Polícia Civil já tem argumentos para indiciar os ex-dirigentes do Cruzeiro acusados de corrupção, lavagem de dinheiro e outras falcatruas, que deixaram o clube quebrado e arrasado. O indiciamento deverá ocorrer nos próximos dias. Há um ano, Wagner Pires de Sá, Itair Machado e Sérgio Nonato foram acusados de graves crimes pelo programa Fantástico, da Rede Globo, em reportagem de Rodrigo Capelo e Gabriela Azevedo. Segundo uma fonte, quatro empresários que fizeram negociações de jogadores já confessaram ter dividido a comissão com os dirigentes, a chamada rachadinha, e isso deve complicar a vida dos acusados. Vejam que a rachadinha não ocorre apenas na política. No futebol virou uma prática comum em alguns clubes que têm a tal figura do diretor de futebol. No caso dos dirigentes do Cruzeiro, a investigação dos repórteres do Fantástico mostrou provas concretas de crimes cometidos.
O torcedor do Cruzeiro está querendo saber se o suposto dinheiro roubado será devolvido. Foram milhões e milhões, que deixaram o clube na bancarrota, sem dinheiro para nada, sem presidente, sem estrutura e na Segundona. O clube do Barro Preto sempre foi considerado referência pela organização e títulos conquistados, mas bastou uma gestão fraudulenta para jogar por terra uma história que se tornará centenária ano que vem, com possibilidades reais de o time não voltar à elite, já que não tem dinheiro para contratações nem para investimentos em um time forte. Há gente que pensa que na Série B se sobe com qualquer grupo e isso não é verdade. Penso que, para voltar à Série A, você tem que ter um time A na B. Esse time atual do Cruzeiro não tem condições de subir, e os jogos, se houver competição neste ano, vão mostrar isso. Tirando Fábio, Léo e Marcelo Moreno, o resto é fraco. Talvez Robinho possa ajudar também. Mas isso é pouco diante da urgência de voltar à elite.
Há muito venho dizendo que o futebol deve se profissionalizar no Brasil e tornar-se empresa. Não há outra maneira de acabar com esse amadorismo de mais de meio século, com dirigentes trabalhando de graça, dedicando 24 horas por dia ao clube. Isso não existe no mundo moderno. Transformando-se em empresas, os clubes terão CEOs, contratados para gerir, dar lucro e taças. Sim, uma coisa está associada à outra. O Flamengo não virou empresa, mas tem uma gestão eficiente, pois foi organizado financeiramente e hoje colhe os frutos, sendo superavitário e ganhador. Ano passado, só com arrecadação em bilheteria foram mais de R$ 100 milhões, com todos os jogos no Maracanã com o estádio lotado, mais de 60 mil pagantes de média. Isso se chama organização. Mas eu entendo que se o clube virasse empresa, como os europeus, seria uma potência maior ainda. Os dirigentes amadores, que nada recebem, gerem mal, sentem-se donos dos clubes, contratam e gastam de forma irresponsável, não ganham taças e deixam o caixa arrasado. Como não há responsabilidade fiscal, estão se lixando.
A expectativa da torcida do Cruzeiro é de que os responsáveis pelos desfalques sejam punidos com cadeia e devolução do suposto dinheiro roubado. Claro que será uma batalha jurídica muito grande, pois os acusados terão o direito de se defender. Vejam o que um período de má gestão pode fazer com um clube. No Brasil há outros exemplos negativos, como Vasco, Fluminense e Botafogo, que foram mal geridos, mas que não foram roubados. Má gestão por ineficiência ou incompetência é uma coisa. Por roubo ou fraude, é outra. No caso da última gestão do Cruzeiro, houve fraude, segundo as denúncias e apuração da polícia. E, vale lembrar, o Ministério Público também está no caso, investigando os acusados. Depois de um ano, parece que a torcida azul terá um parecer e que os ex-dirigentes serão acusados formalmente.
Sem futebol às quartas e domingos à noite?
Foi tema da carta que o presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, mandou para a Rede Globo, alegando que os jogadores teriam de receber extra por trabalhar à noite. Claro que foi uma tentativa de Andrés de desviar o foco, pois vem sendo acusado de fazer uma gestão ruim no Timão. É sabido que a quarta-feira à noite é o horário nobre da Globo no futebol. Porém, eu acho que os clubes deveriam aproveitar o momento e pedir que o futebol passe para as 20h, pois 21h30 é um horário imoral para um país violento como o Brasil. Na Europa, os jogos noturnos são realizados às 20h, mesmo nos países onde a violência é perto de zero. Não dá mais para o trabalhador assistir a um jogo que vai terminar lá pela meia-noite e chegar em casa às 2h do dia seguinte. Num Brasil que mata mais de 50 mil pessoas todos os anos por arma de fogo ou arma branca, é inadmissível esse horário imoral das 21h30. Vamos ver se os clubes terão interesse em defender seus torcedores ou se vão deixar tudo como está.